Indiciado pela Polícia Federal (PF) por tramar um golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro alega inocência e se diz vítima de perseguição política. Em entrevista a VEJA, ele declarou que nunca teve conhecimento do plano “Punhal Verde Amarelo”, que previa o assassinato do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, como forma de viabilizar a sua permanência no poder.
O plano foi elaborado pelo general Mário Fernandes, que foi secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro e tinha livre acesso ao então mandatário. Segundo a PF, o general imprimiu esse roteiro criminoso em uma impressora do Palácio do Planalto e depois levou os papeis ao Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro estava. As investigações também apontam que militares envolvidos na trama para executar o triplo assassinato se reuniram para tratar do assunto na casa do general Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice na chapa à reeleição de Bolsonaro.
“Eu não posso ser responsabilizado. Lá na Presidência havia mais ou menos 3 mil pessoas. Se um cara bola um negócio qualquer, o que eu tenho a ver com isso? Se eu não tivesse tomado providências ao saber do que estava sendo planejado, aí tudo bem. Agora, discutir comigo um plano para matar alguém, isso nunca aconteceu”, disse Bolsonaro. “Eu jamais compactuaria com qualquer plano para dar um golpe. Quando falavam comigo, era sempre para usar o Estado de Sítio, algo constitucional, que dependeria do aval do Congresso”, acrescentou.
Fantasma da conspiração
Conforme revelado por VEJA em junho passado, Bolsonaro não apenas tomou conhecimento como editou um “roteiro do golpe”, uma medida legal que seria adotada para garantir a sua permanência no poder mesmo com a derrota nas urnas. A iniciativa chegou a ser debatida com comandantes militares da época, mas não avançou. O motivo disso ainda não está muito claro.
O ex-presidente jura que jamais pensou em golpe, mas sempre falou da necessidade de seu grupo estar preparado para um contragolpe. Em sua lógica peculiar, Bolsonaro argumentava que havia um conspiração em curso, unindo o PT e as cúpulas do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para evitar a sua reeleição e garantir a volta de Lula ao poder. Esses objetivos seriam alcançados por meio de uma atuação tendenciosa da Justiça Eleitoral e de uma eleição fraudulenta.
Daí os ataques de Bolsonaro a Moraes, ao TSE e às urnas eletrônicas. Daí também o empenho do ex-presidente para encontrar uma prova de fraude na votação. O ex-presidente dava a entender que só acionaria mecanismos legais, como os descritos no “roteiro do golpe”, se a tal prova fosse de fato encontrada. Aí, sim, ele reagiria e daria o “contragolpe”.
Como se sabe, a evidência de fraude nunca apareceu. Já a PF encontrou minutas, colheu depoimentos e catalogou mensagens que levaram ao indiciamento de Bolsonaro e outras 36 pessoas sob suspeita de crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa. De suposta vítima de conspiração, o capitão emerge, no relatório final da investigação, no papel de conspirador.