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Bancada dos herdeiros terá filhos de Calheiros e Dirceu

Filhos, netos e mulheres de políticos povoam a Câmara. A partir de 2011, o grupo terá reforço suprapartidário na casa

Por Gabriel Castro
28 jan 2011, 09h25

A Câmara dos Deputados tem uma bancada suprapartidária que supera em tamanho a maior parte das legendas na Casa: a bancada dos herdeiros. São mais de 15 filhos e netos de figuras célebres da política que trilham o caminho dos patriarcas. O fenômeno é curioso porque constitui uma renovação às avessas: ao mesmo tempo em que traz novas figuras ao Parlamento, mantém o poder nas mãos dos mesmos grupos familiares.

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Na próxima legislatura, alguns nomes de peso se somarão a essa lista. Renan Filho (PMDB-AL), herdeiro do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), é um dos estreantes. Chega a casa como o deputado federal mais votado de seu estado. E já traz uma marca que mantém a tradição da família: quando era prefeito de Murici, foi acusado de desviar recursos destinados à compra de cestas básicas. O novo parlamentar também revelou à frente da prefeitura uma propensão a gastar, em gasolina, altos valores para abastecer a frota municipal.

Outro que traz um sobrenome conhecido no Congresso é Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-ministro José Dirceu – apontado, em denúncia da Procuradoria Geral da República, como “chefe do organograma delituoso” conhecido como mensalão, o maior escândalo do governo Lula. Ex-prefeito de Cruzeiro do Oeste (PR), Zeca chegou a ser detido após ser flagrado fazendo boca-de-urna nas eleições de 2010. Gabriel Guimarães (PT-MG), filho do deputado federal petista Virgílio Guimarães (PT-MG) herdou os votos do pai, que repassou todo o capital político para o primogênito – de apenas 27 anos. O deputado mais jovem de Minas Gerais garante que a decisão não foi individual: “A base que apoiava o mandato decidiu pelo meu nome. Não foi uma decisão dele e tampouco minha”.

Marca – Embora mais raros, também há casos de mulheres que levam adiante a carreira do pai. Pelo PMN, Jaqueline Roriz é a maior aposta de Joaquim Roriz, ex-governador do Distrito Federal, para manter vivo seu capital político. Bruna Furlan, tucana eleita por São Paulo, é outra novata que deve sua vitória ao caminho trilhado pelo pai, Rubens Furlan, prefeito de Barueri (SP).

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Para o cientista político João Paulo Peixoto, da Universidade de Brasília (UnB), o maior desafio para os novatos é criar uma marca que os dissocie dos familiares conhecidos. “De uma forma ou de outra, todos recebem alguma ajuda. Só é preciso marcar a sua própria identidade, não dá para ficar sendo levado o mandato inteiro”, opina.

No Senado, Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, assume o primeiro mandato no Congresso Nacional. Os herdeiros aparecem mais comumente nas suplências dos pais. É o caso de Lobão Filho (PMDB-MA), o substituto de Edison Lobão – licenciado do mandato para comandar o Ministério de Minas e Energia. Eduardo Braga (PMDB), eleito pelo Amazonas, tem a mulher, Sandra, como companheira de chapa. Marcelo Miranda (PMDB), do Tocantins, trouxe o pai, Brito Miranda.

DEM – O partido com o maior número de herdeiros em postos importantes é o DEM. O antigo PFL dos velhos caciques foi, aos poucos, renovando suas lideranças. Hoje, a legenda é presidida pelo deputado federal Rodrigo Maia (RJ), filho do ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia.

Na Câmara, a liderança da bancada foi, em 2010, atribuição de Paulo Bornhausen (SC), herdeiro do ex-governador de Santa Catarina Jorge Bornhausen. Outro nome de destaque é o do deputado ACM Neto (BA), corregedor da Câmara dos Deputados, que traz a herança de Antonio Carlos Magalhães e do senador ACM filho. Efraim Filho, outro deputado federal, galga os degraus do pai, o senador Efraim Morais.

Rodrigo Maia diz que se aconselha diariamente com Cesar Maia e reconhece que a origem familiar facilitou, e muito, sua caminhada na política. Mas, na visão dele, é inviável trilhar uma carreira sustentada apenas pela figura paterna: “É até possível numa primeira eleição. A partir da segunda, cabe a cada um caminhar com as suas próprias pernas. Cada um tem a sua própria identidade e o seu próprio caminho”.

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O professor João Paulo Peixoto acredita que a ausência de figuras tradicionais nos postos-chave do DEM é um dos fatores que explicam os maus resultados do partido nas urnas: “Toda fase de transição implica uma perda momentânea”, afirma.

O DEM também parece ter notado que a passagem de gerações deve ser mais suave: o jovem Rodrigo Maia deve ser sucedido por um dinossauro no comando do partido, em eleição marcada para março: os senadores Agripino Maia e Marco Maciel são cotados para o cargo.

Leia na coluna de Ricardo Setti:

A escolha dos novos líderes dos principais partidos na Câmara e no Senado mostra, entre os que já estão definidos ou quase definidos, uma grande prevalência de dinastias, de linhas de sucessão familiares, frequentemente oligarquias – uma espécie de pequeno retrato de um fenômeno maior: o domínio da política brasileira por pouca gente. Mais à esquerda, mais à direita, são os de sempre.

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