As rusgas de Dilma e Alckmin
A grave crise hídrica que abalou o estado de São Paulo em 2014 e o impeachment da petista provocaram atritos na relação entre os dois
A ex-presidente Dilma Rousseff se transformou em um problema eleitoral para o Partido dos Trabalhadores. Apesar do encontro com o ex-presidente Lula, na última quinta-feira 13, a legenda pretende escantear a petista da campanha presidencial de 2022 – e tenta reescrever, a todo custo, os capítulos mais nebulosos da sua história, como os escândalos do mensalão e do petrolão. O “apagamento” de Dilma ficou escancarado em dezembro, quando ela não foi convidada para um jantar realizado em São Paulo por grupo de advogados, que marcou a primeira aparição pública de Lula com Alckmin na pré-campanha.
Dilma ficou particularmente incomodada com o fato de a ex-prefeita Marta Suplicy – que votou a favor de seu impeachment – ter ocupado um lugar de destaque no evento, ao se sentar à mesa com Alckmin e o ex-ministro Fernando Haddad, candidato de Lula para disputar o governo de São Paulo. O jantar também reacendeu a discussão sobre a relação da ex-presidente (foto do passado de Lula) com o ex-governador de São Paulo (foto que Lula pretende ter nas urnas agora).
Dois episódios marcaram a convivência entre Dilma e Alckmin ao longo dos últimos anos: o enfrentamento da crise hídrica pelo Estado de São Paulo – e o impeachment da petista. Em 2014, São Paulo enfrentou a maior crise de água da sua história, o que levou o governo federal petista a socorrer a administração tucana. “Não brincarei com a falta de água”, afirmou Dilma na época a auxiliares. Mesmo assim, não faltaram estocadas públicas na gestão Alckmin. Na campanha eleitoral, a situação “preocupante” foi usada pelo marqueteiro João Santana para atacar o PSDB do adversário Aécio Neves.
“É preocupante e também muito triste saber que os brasileiros que vivem em São Paulo, o Estado mais rico do País, estão passando por uma crise de falta de água sem precedentes. Há meses que venho tentando ajudar, mas o governo não demonstrou interesse em fazer obras com o nosso apoio. Segundo a Constituição, a palavra final nesse tipo de ação é sempre do governador do Estado”, disse Dilma na campanha, alfinetando Alckmin, que havia sido reeleito governador de São Paulo no primeiro turno. A petista mirava o partido de Aécio, que acabou derrotado por uma pequena margem de votos.
No caso do conturbado processo de impeachment de Dilma, em 2016, Alckmin guarda uma “leve mágoa”. Acha que Dilma deveria ter sido grata a ele por, segundo o ex-tucano, ter tentado segurar o apoio do PSDB ao impeachment logo após a apertada vitória dela sobre o tucano Aécio Neves. “”Não é só com você. Da Dilma, não podemos esperar nenhuma palavra de agradecimento”, ouviu o ex-governador de São Paulo de um influente interlocutor da então ocupante do Palácio do Planalto. Apesar das rusgas, Dilma embarcou para São Paulo em abril de 2015, quando soube do velório de Thomaz Alckmin, filho de Alckmin que morreu em acidente de helicóptero.
A ex-presidente nunca foi uma figura histórica dos quadros do PT (iniciou a trajetória política no PDT de Brizola), se isolou da direção partidária e resiste à ideia de disputar uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Rio Grande do Sul. A relutância tem fundamento. Em 2018, dois anos depois do impeachment, a ex-presidente amargou um vexatório quarto lugar na corrida pelo Senado no Estado de Minas Gerais. Petistas ouvidos por VEJA admitem que a campanha de Lula não quer ver Dilma por perto, já que a presença dela “estraga acordos”. “Dilma representa a imagem do colapso do PT. Ela é quem fez o PT perder o poder, não tem espaço nessa nova fotografia do partido. É preciso virar a página”, resume um influente petista.