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As razões da alta popularidade de Bolsonaro entre policiais e militares

Presidente se beneficia de discurso anticomunista e da defesa de pautas corporativas, segundo historiador

Por Nonato Viegas 17 jan 2021, 10h00

A edição de VEJA desta semana mostra que Jair Bolsonaro, depois de entregar ministérios de peso a generais reformados, reforçou a ofensiva para conquistar o apoio das bases das Forças Armadas e das polícias militar, civil e federal. O presidente age em duas frentes. Ele faz sucessivos gestos de deferência a esses segmentos — só em dezembro passado, compareceu a sete cerimônias militares e policiais, praticamente uma a cada quatro dias. Além disso, usa e abusa do poder da caneta presidencial, nomeando policiais e militares para cargos de segundo e terceiro escalões e privilegiando o orçamento das Forças Armadas, que cresceu 5,1 bilhões entre 2020 e 2021, enquanto o orçamento da Saúde, que enfrenta a maior crise sanitária em um século, perdeu 2,2 bilhões de reais.

Segundo Adriano de Freixo, professor do Departamento de Estudos Estratégicos e Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense, três pontos explicam por que o assédio de Bolsonaro a militares e agentes de segurança tem boa aceitação. Um deles é o que Freixo descreve como “revigoramento da ideologia anticomunista, bastante presente nas Forças Armadas desde o século passado, com nova roupagem e em perspectiva ampliada”. Outro é o desejo das Forças de retomar o protagonismo e ter mais reconhecimento da sociedade num momento de crise da democracia e da representatividade política. O terceiro ponto reside no fato de esses setores depositarem no presidente a esperança de verem atendidas demandas corporativas e resolvidas várias insatisfações (por exemplo, com os trabalhos da Comissão da Verdade).  

Freixo concorda com a preocupação externada por adversários políticos de Bolsonaro, que temem que o ex-capitão use esses segmentos para intimidar as instituições, do Congresso ao Supremo Tribunal Federal, passando pela Justiça Eleitoral. “Neste sentido, surge a preocupação sobre uma possível instrumentalização política dessas forças de segurança pelo presidente da República em uma eventual tentativa de ruptura democrática”, afirma. “Tal temor foi ampliado não só pelos acontecimentos recentes no Capitólio, mas pela própria reação do presidente a esses eventos, sinalizando ameaças veladas caso não haja o voto impresso em 2022.” Aliado fiel de Donald Trump, Bolsonaro afirmou, após a invasão do Capitólio, que, se não tivermos voto imprenso em 2022, “nós vamos ter problemas piores do que os Estados Unidos”.

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Freixo cita a “bolsonarização” das polícias estaduais como motivo de especial preocupação. Lembra das paralisações recentes de policiais em vários estados e aponta o caso do Ceará, no início do ano passado, como o mais emblemático. “Não se pode ignorar que lideranças da categoria identificadas com o bolsonarismo tiveram papel de destaque e contribuíram bastante para a radicalização – até o limite do confronto – desses movimentos, conseguindo, em certa medida, instrumentalizá-los politicamente.” O professor acredita que os projetos de reforma das PMs em tramitação no Congresso reforçam o sinal amarelo. Apadrinhados pela bancada da bala, os textos preveem mandato fixo para comandantes-gerais da PM, que não poderiam mais ser demitidos a qualquer tempo pelos governadores, além da criação da patente de general na PM, que se tornaria uma espécie de quarta força, ao lado de Marinha, Exército e Aeronáutica.

“Pode-se até imaginar a seguinte situação extrema: com o avanço das chamadas “milícias” no interior das corporações policiais de alguns estados, fenômeno que vem sendo recorrentemente relatado e debatido pela academia, esses grupos poderiam ter grande influência na formação das tais listas tríplices para escolha do comando das forças. E as consequências disso são mais do que previsíveis”, afirma o pesquisador. Freixo é autor do livro “Os militares e o governo Bolsonaro, entre o anticomunismo e a busca pelo protagonismo” (da Zazie Edições), em que relata o percurso do então deputado federal Bolsonaro, visto como “mau militar” pelo general Ernesto Geisel, para se tornar o presidente que cultiva, com mesuras, cargos e verbas orçamentárias, a lealdade do oficialato e da baixa patente militar.

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