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Arraes ‘versus’ Arraes: a briga entre herdeiros pela prefeitura do Recife

A disputa se transformou em um duelo entre dois jovens de um dos clãs políticos de esquerda mais tradicionais do Brasil

Por Roberta Paduan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 dez 2019, 10h37 - Publicado em 13 dez 2019, 06h00

A sucessão municipal de 2020 deve ser uma das mais disputadas da história. Além de a eleição de vereadores e prefeitos ser considerada pelos partidos como estratégica para o pleito de 2022, em que serão escolhidos governadores e o presidente da República, o nível de polarização ideológica subiu após a volta às ruas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No Recife, porém, o principal enfrentamento por ora se dá entre esquerda e esquerda e dentro da mesma família: um duelo entre dois herdeiros do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, uma das principais lideranças históricas de esquerda do estado e do país — foi governador três vezes, preso, cassado e exilado pela ditadura. Na disputa em questão, de um lado, pelo PT, está a deputada federal Marília Arraes, de 35 anos, neta do patriarca. Do outro, pelo PSB, o também deputado federal João Campos, de 26 anos, bisneto de Arraes e filho do ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 2014, quando buscava a Presidência.

Marília e João são primos de segundo grau, com pouco contato, parte disso pela diferença de idade entre os dois. Os prefeituráveis conviveram com o patriarca Arraes, morto em 2005, aos 88 anos — ela tinha 21 anos e ele, 11. Marília é advogada e João é engenheiro, ambos formados pela Universidade Federal de Pernambuco. A origem política também foi semelhante. A dupla iniciou a carreira no PSB, partido para o qual Arraes migrou em 1990 e no qual Eduardo Campos construiu sua trajetória. Por enquanto, Marília e João não assumem a pré-candidatura. Contudo, no fim de novembro, uma troca de declarações mostrou que a disputa já foi deflagrada no clã. Indagado sobre a pretensão do PT de lançar nomes em todas as capitais, João disse que a prioridade da esquerda deveria ser a união contra o governo Jair Bolsonaro e disparou: “O PT vai ter de tomar uma decisão, e que arque com as consequências”. No mesmo dia, Marília rebateu o primo, chamando de “lamentável” sua postura. Segundo ela, o deputado tentou intimidar o PT de forma autoritária e imatura.

(Leo Motta/JC Imagem)

O racha entre os herdeiros de Arraes começou a se configurar em 2013. Marília estava em seu segundo mandato como vereadora pelo PSB quando entrou em rota de colisão com a cúpula do partido, do qual saiu em 2016. O motivo teria sido a falta de apoio do governador à sua pretensão de se lançar ao cargo de deputada federal — Eduardo Campos preferiu apostar em Felipe Carreras, então deputado estadual e casado com a sobrinha de sua esposa, Renata. Carreras se elegeu, mas acabou execrado pela família depois de se separar e assumir um romance com a atriz e apresentadora Amanda Richter. Marília diz que isso é fofoca e uma tentativa de desquali­ficá­-la politicamente. “Deixei o PSB porque ele claramente caminhava para a direita. E eu estava certa. Apoiaram o Aécio Neves em 2014 e votaram pelo impeachment da Dilma em 2016”, afirma. Em 2018, já no PT, ela teve de engolir a seco a retirada de sua candidatura ao governo pernambucano. A cúpula petista decidiu ficar fora da disputa em troca do apoio do PSB à reeleição de Fernando Pimentel, em Minas Gerais, e à candidatura presidencial de Fernando Haddad. “Em 2018 havia uma estratégia nacional do partido que justificava a aliança com o PSB, mas não enxergo o mesmo cenário para 2020”, explica Marília. De fato, todos os sinais de Lula vão no sentido de que o PT tenha candidato próprio nas capitais. Recife, aliás, foi o destino da primeira viagem do ex-presidente após deixar a prisão. Almoçou com João e jantou com Marília. “Não discutimos eleições”, afirma o deputado. Quem participou do jantar com Marília garante que Lula a chamou de “minha prefeita”. Ela, porém, terá de enfrentar o fogo amigo do PT em seu estado. O senador petista Humberto Costa, por exemplo, está mais interessado em manter a aliança com o PSB, pela qual se elegeu duas vezes ao Senado. “Defendo a manutenção do partido na Frente Popular. Mas ainda vamos começar essa discussão”, diz.

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PATRIARCA – O ex-governador Miguel Arraes: ícone da esquerda brasileira (Carlos Namba/.)

No PSB, que governa Pernambuco desde 2007 e o Recife desde 2013, a candidatura de João é dada como certa. Foi o deputado mais votado do estado, com mais de 70 000 votos na capital — Marília obteve 54 193. Ao chamá-lo de imaturo nos últimos dias, ela mostrou o tom do discurso contra o primo. O PSB tem a resposta na ponta da língua: vai dizer que João se formou engenheiro aos 23 anos, trabalhou no setor privado, foi chefe de gabinete do governador Paulo Câmara (PSB) e não seria nenhum problema se tornar prefeito aos 27 — cita Ciro Gomes, que assumiu Fortaleza aos 31, e Cássio Cunha Lima, de Campina Grande, eleito aos 25. Protagonista da política no estado há décadas, o clã Arraes entrará pela primeira vez dividido na disputa das eleições.

Publicado em VEJA de 18 de dezembro de 2019, edição nº 2665

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