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Após seis meses, ex-senador boliviano aguarda asilo e vive recluso em Brasília

À espera de uma resposta do governo brasileiro, Roger Pinto Molina leva uma vida reclusa em Brasília, mora de favor e passa o tempo lendo e pedalando

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 fev 2014, 08h11

Há seis meses, uma fuga hollywoodiana causou alvoroço em Brasília. Clandestinamente, na tarde do dia 23 de agosto, dois Nissan Patrol percorreram, sob escolta de fuzileiros navais, 1.600 quilômetros de estradas esburacadas, perpassando a região cocaleira do Chapare e mais de vinte barreiras do Exército boliviano até chegar à cidade de Corumbá (MS), em território brasileiro. A bordo, no trajeto que durou 22 horas, estavam o então senador Roger Pinto Molina, opositor do regime de Evo Morales, e o diplomata brasileiro Eduardo Saboia, encarregado de negócios do Brasil na Bolívia. A bem-sucedida operação, motivada por razões humanitárias – Molina estava há 455 dias confinado na embaixada brasileira em La Paz – expôs a inoperância do Ministério das Relações Exteriores, que há meses protelava uma decisão sobre a situação do senador.

Para a presidente Dilma Rousseff, a operação serviu de gatilho para demitir o chanceler Antonio Patriota, a quem ela considerava – há tempos – que faltava pulso firme para conduzir o Itamaraty. O embaixador Marcel Biato, que respondia pela embaixada brasileira em La Paz, perdeu um posto prometido na Suécia. E até hoje Saboia responde a uma sindicância aberta no Itamaraty para apurar o caso.

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Longe dos holofotes, embora ainda mantenha conversas frequentes com autoridades que participaram da fuga, o ex-senador boliviano Roger Pinto Molina mora de favor na casa do senador Sérgio Petecão (PSD-AC), em Brasília. Somente há pouco ganhou o próprio quarto no apartamento funcional do parlamentar, deixando a dependência de empregada que pelas primeiras semanas o abrigou. Sua maior companhia é o filho de Petecão, Serginho, de 14 anos.

A família de Molina também fugiu da Bolívia, desembarcou na cidade de Epitaciolândia (AC) e, por orientação da Polícia Federal, deixou a região de fronteira, chegando à capital Rio Branco. Conversas por Skype são o maior passatempo do boliviano, que viu a mulher pela última vez no Ano Novo. Para poupar custos, no fim do ano passado, Molina dirigiu por mais de quarenta horas os cerca de 3.000 quilômetros de Rio Branco até Brasília.

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A rotina do boliviano, que espera aval do governo Dilma para morar legalmente no Brasil, é discreta e reclusa, embora mais confortável do que a sala de 20 m² que lhe servia de quarto e escritório quando estava abrigado na embaixada brasileira em La Paz. Enquanto espera veredicto do Comitê Nacional de Refugiados (Conare) sobre o pedido de refúgio permanente, faz caminhadas pelo Plano Piloto de Brasília e pedala no Parque da Cidade.

Do patrimônio original, o senador já se desfez de cabeças de gado e dos bens na Bolívia. Desde que se instalou na embaixada em La Paz, em maio de 2012, perdeu o salário de senador – 12.000 bolivianos, ou 4.080 reais. Na casa de Petecão, a quem considera sua nova família, tem as refeições pagas pelo parlamentar. Vai a restaurantes apenas quando convidado e prefere sempre churrasco e farofa com bacon. Entre os novos amigos, estão os senadores Alvaro Dias (PSDB-PR) e Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que conseguiu um avião na operação de fuga para fazer o trajeto de Corumbá até Brasília.

“O Molina tem a rotina de um refugiado: é uma vida contida, insegura e muito restrita”, disse Ferraço. Embora tente demonstrar que está acostumado à atual condição, o senador boliviano não esconde a ansiedade: “Ele teme que o governo não conceda o refúgio. Mas eu acredito na tradição da nossa diplomacia de estender a mão e acolher perseguidos políticos”, relatou o parlamentar capixaba.

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Nos últimos dias, Molina se encantou com o livro O homem que amava os cachorros, do jornalista cubano Leonardo Padura. A história narra os últimos anos de vida de Leon Trotski e seu algoz Ramón Mercader, encarregado de mata-lo no México. Em casa, a história de Trostski o faz lembrar a recente fuga da Bolívia. Depois de conseguir escapar das versões bolivianas, Molina apenas aguarda o parecer do Conare. Na próxima segunda-feira, vence o prazo do refúgio provisório concedido pelo colegiado. A autorização de permanência do boliviano deve ser prorrogada, ainda que mais uma vez em caráter provisório.

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