Após reação negativa, deputados retiram apoio à CPI contra Lava Jato
Investigações seriam instauradas para averiguar existência de esquemas de venda de proteção através de delações premiadas
Depois de perceberem a repercussão negativa, deputados pediram para retirar assinaturas de apoio à criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Operação Lava Jato na Câmara dos Deputados.
A iniciativa de pedir a instalação da CPI teve o apoio de líderes de diversos partidos, como MDB, PT, PP, PR, PDT, PCdoB e PSOL. Mais de 180 deputados assinaram o requerimento a favor da criação da comissão. Até a publicação desta matéria, pelo menos três parlamentares haviam pedido para retirar seu nome do requerimento: Rogério Rosso (PSD-DF), Darcísio Perondi (MDB-RS) e Evair de Melo (PP-ES). Todos alegaram ter entendido errado do que se tratava a CPI.
Em nota, Perondi disse que foi induzido ao “erro” e não tem como objetivo “desconstruir as delações premiadas e, por consequência, esvaziar a Operação Lava Jato”. “Assinei, mas fui induzido ao erro. Depois que li com mais cuidado as justificativas do pedido, entendi que a CPI em questão não ajuda em nada ao Brasil, tampouco o combate à corrupção. Não vou avalizar nenhuma iniciativa, de qualquer partido que seja, que tenha como objetivo atrapalhar o trabalho que vem sendo feito para passar o País a limpo”, disse.
Perondi é um dos parlamentares mais próximos ao presidente Michel Temer, que foi alvo de duas denúncias após os irmãos Joesley e Wesley Batista, do Grupo J &F, fecharem delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Para que uma CPI seja instalada na Câmara é necessário o apoio de pelo menos um terço dos deputados, isto é, de 171 parlamentares. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ainda não se manifestou sobre o pedido.
Delações
Como justificava para a criação da CPI, os líderes registraram que era preciso investigar os “esquemas de venda de proteção em delações premiadas por parte de advogados e delatores no âmbito da Operação Lava Jato e em investigações anteriores”.
O doleiro Cláudio de Souza, conhecido como “Tony” ou “Peter”, relatou em delação ao Ministério Público Federal (MPF) que pagou mensalmente uma “taxa de proteção” de 50.000 dólares (cerca de 186.000 no câmbio atual). O dinheiro, conforme o colaborador, era entregue ao advogado curitibano Antonio Figueiredo Basto e um colega dele cujo nome não foi informado.
Na época, Basto negou a acusação de cobrança de “proteção” feita pelos doleiros Vinícius Claret, o “Juca Bala”, e Cláudio de Souza. “É um boato que você joga no ar. Todo mundo hoje neste país adora atacar a honra do outro”, disse. “Contra boato não tem como se defender”, completou Basto.