Após atacar polícia, Haddad muda o tom e agora fala em ‘grande parceria’ com Alckmin
Prefeito de São Paulo, que havia acusado a Polícia Civil de truculência, disse que retomará o programa para usuários com o apoio do governo estadual
Por Da Redação
24 jan 2014, 15h46
Policiais do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), da Polícia Civil, fizeram uma operação nesta quinta-feira, 23, na Cracolândia, região central de São Paulo, sem comunicar a Prefeitura nem a Polícia Militar (JF Diorio/Estadão Conteúdo/VEJA)
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Quem acompanhou a reação beligerante do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e a tentativa de sua equipe de secretários em propalar a versão de que a ação da Polícia Civil na Cracolândia, nesta quinta-feira, sabotou seu programa “Braços Abertos” poderia concluir: o atrito levaria a um rompimento na relação amistosa entre o prefeito e o governo Geraldo Alckmin (PSDB). Menos de 24 horas depois, no entanto, a realidade já é outra. Haddad evitou repetir as críticas nesta sexta, falou em retomar uma “grande parceria” com o Estado e até elogiou o trabalho da Polícia Militar.
“Já me manifestei. Nosso objetivo agora é retomar o programa como ele foi concebido”, disse Haddad, durante a inauguração de um ponto de internet pública. “Nossa obsessão vai ser retomar o projeto e inclusive com o apoio do governo do Estado”, completou. Questionado por jornalistas sobre a conversa que teve com o governador ontem, Haddad se esquivou: “A reação foi boa”. E elogiou a Polícia Militar: “A própria Polícia Militar atuou no sentido de acalmar as pessoas, é preciso reconhecer isso. A PM foi e tem sido grande parceira”.
O conflito na Cracolândia começou após uma ação do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) para prender traficantes na região. A Polícia Civil informou que três policiais à paisana foram ao local para efetuar as prisões em uma ação rotineira, mas os traficantes se rebelaram e iniciaram um confronto atirando pedras – três viaturas foram danificadas. Os policiais pediram reforço e responderam com bombas de gás lacrimogêneo. A prefeitura, no entanto, afirmou em nota oficial que os policiais dispararam tiros de bala de borracha, o que o Denarc negou. O Ministério Público Estadual abriu inquérito para apurar a atuação dos policiais.
“A ação não tem nenhuma relação com o programa da prefeitura. O trabalho do Denarc é combater o tráfico de drogas”, disse ontem a diretora do Denarc, Elaine Biasoli.
A prefeitura também disse ter sido “surpreendida” e reclamou que a ação poderia “comprometer a continuidade” do programa recém-implantado para desmontar a chamada “favelinha” e remover os usuários de crack para hotéis da região – para ser beneficiado com a hospedagem e receber 15 reais por dia, o viciado deve trabalhar quatro horas no serviço de varrição das ruas do Centro.
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Desde que o programa da prefeitura começou, a região tornou-se destino diário de políticos do PT. Ontem, horas antes da confusão, o ministro Alexandre Padilha (Saúde), futuro candidato ao governo de São Paulo contra o governador Geraldo Alckmin (PSDB), visitou a área. Quando o conflito ocorreu, no período da tarde, o secretário municipal de Segurança Urbana, Roberto Porto, estava no local.
O governador Geraldo Alckmin, que não havia se manifestado ontem, defendeu a ação policial: “O Denarc fez uma ação para prender traficantes, e dependentes químicos tentaram impedir a prisão dos traficantes”.
O fato de Haddad e Alckmin evitarem o agravamento do atrito é positivo: a Cracolândia, localizada no centro da maior cidade do país, não pode se tornar uma zona livre para a ação de traficantes – e o combate a eles é papel da polícia. Além disso, é fundamental que os governos municipal e estadual atuem para dar assistência aos usuários e buscar sua recuperação.
Relembre a nota divulgada ontem por Haddad:
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A administração municipal foi surpreendida pela ação policial repressiva realizada hoje na região da Cracolândia pelo Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), da Policia Civil. A prefeitura repudia esse tipo de intervenção, que fez uso de balas de borracha e bombas de efeito moral contra uma multidão formada por trabalhadores, agentes públicos de saúde e assistência e pessoas em situação de rua, miséria, exclusão social e grave dependência química. A “Operação de Braços Abertos” é uma política pública municipal pactuada com o governo estadual, que preconiza a não violência e na qual a prisão de traficantes deve ser feita sem uso desproporcional de força. Agentes da Prefeitura trabalham há seis meses para conquistar a confiança e obter a colaboração das pessoas atendidas. A administração reafirma seu empenho na solução deste problema da cidade e manifesta sua preocupação com este tipo de incidente, que pode comprometer a continuidade do programa. E expressou essa posição diretamente ao Governo do Estado.
(Com Estadão Conteúdo)
1/39 No centro de São Paulo há uma concentração diária de cerca de 300 usuários de crack na região conhecida como cracolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
2/39 Muitos dos usuários vivem na rua e dormem nas calçadas da cracolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
3/39 Moradores e trabalhadores da região muitas vezes precisam transitar entre os viciados (Ivan Pacheco/VEJA)
4/39 No dia 21, um mutirão do governo e da Justiça começou a realizar internações à força de dependentes em situação grave (Ivan Pacheco/VEJA)
5/39 Tomas Nava, de 20 anos, procurou voluntariamente o centro de recuperação contruído no meio da cracolândia para se tratar do vício (Ivan Pacheco/VEJA)
6/39 Usuários colocam pertences na calçada para serem trocados por pedras de crack, que custam em média 10 reais (Ivan Pacheco/VEJA)
7/39 Concentração de usuários de drogas na região conhecida como cracolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
8/39 Concentração de usuários de drogas na região conhecida como cracolândia, no centro de São Paulo (Ivan Pacheco/VEJA)
9/39 Concentração de usuários de drogas na região conhecida como cracolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
10/39 Concentração de usuários de drogas na região conhecida como cracolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
11/39 Concentração de usuários de drogas na região conhecida como cracolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
12/39 Moradores de rua e usuários da droga são acolhidos na Missão Batista Cristolândia, na cracolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
13/39 Pastor Silas Hernandes comanda os trabalho da Missão Batista Cristolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
14/39 Na missão Cristolândia eles rezam, se alimentam, tomam banho, ganham roupas e oportunidade de tratamento (Ivan Pacheco/VEJA)
15/39 Na missão Cristolândia eles rezam, se alimentam, tomam banho, ganham roupas e oportunidade de tratamento (Ivan Pacheco/VEJA)
16/39 Na missão Cristolândia eles rezam, se alimentam, tomam banho, ganham roupas e oportunidade de tratamento (Ivan Pacheco/VEJA)
17/39 Na missão Cristolândia eles rezam, se alimentam, tomam banho, ganham roupas e oportunidade de tratamento (Ivan Pacheco/VEJA)
18/39 Na missão Cristolândia eles rezam, se alimentam, tomam banho, ganham roupas e oportunidade de tratamento (Ivan Pacheco/VEJA)
19/39 Moradores de rua e dependentes químicos são acolhidos no prédio da Missão Batista Cristolândia, na região da cracolândia, no centro de São Paulo. No local, eles rezam, se alimentam, tomam banho e ganham roupas novas e oportunidade de tratamento contra o vício (Ivan Pacheco/VEJA)
20/39 Everton Mariano Medeiros, 25 anos, ex-viciado no prédio da Missão Batista Cristolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
21/39 Moradores de rua e usuários de crack acolhidos na Missão Batista Cristolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
22/39 Fila de moradores de rua e dependentes químicos em frente à Missão Batista Cristolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
23/39 Acolhidos rezam na Missão Batista Cristolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
24/39 Tiago Ideal Nogueira, 30 anos, ex-viciado em crack acolhido na Missão Batista Cristolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
25/39 Concentração de usuários de drogas, na região conhecida como cracolândia no centro de São Paulo (Ivan Pacheco/VEJA)
26/39 Concentração de usuários de drogas na região conhecida como cracolândia no centro de São Paulo (Ivan Pacheco/VEJA)
27/39 Voluntários da Missão Cristolândia rezam junto com usuário (Ivan Pacheco/VEJA)
28/39 Ronaldo Costa Torrente, 37 anos, monitor de albergue e ex-viciado em Crack no prédio da Missão Batista Cristolândia, na região da cracolândia, no centro de São Paulo (Ivan Pacheco/VEJA)
29/39 Moradores de rua e dependentes químicos são acolhidos no prédio da Missão Batista Cristolândia, na região da cracolândia, no centro de São Paulo. No local, eles rezam, se alimentam, tomam banho e ganham roupas novas e oportunidade de tratamento contra o vício (Ivan Pacheco/VEJA)
30/39 Moradores de rua e dependentes químicos são acolhidos no prédio da Missão Batista Cristolândia, na região da cracolândia, no centro de São Paulo. No local, eles rezam, se alimentam, tomam banho e ganham roupas novas e oportunidade de tratamento contra o vício (Ivan Pacheco/VEJA)
31/39 Moradores de rua e dependentes químicos são acolhidos no prédio da Missão Batista Cristolândia, na região da cracolândia, no centro de São Paulo. No local, eles rezam, se alimentam, tomam banho e ganham roupas novas e oportunidade de tratamento contra o vício (Ivan Pacheco/VEJA)
32/39 Rodrigo de Toledo Lopes, 32 anos, ex-viciado em Crack no prédio da Missão Batista Cristolândia, na região da cracolândia, no centro de São Paulo (Ivan Pacheco/VEJA)
33/39 Concentração de usuários de drogas, na região conhecida como cracolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
34/39 Usuários aguardam atendimento no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas em busca de vaga de internação (Ivan Pacheco/VEJA)
35/39 André Luis, 30 anos, agente da missão Belém durante ação junto aos usuários de drogas na cracolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
36/39 Voluntários e grupos religiosos durante ação junto aos usuários de drogas na cracolândia, próximo da sala São Paulo, na região central de São Paulo (Ivan Pacheco/VEJA)
37/39 Voluntários e grupos religiosos durante ação junto aos usuários de drogas na cracolândia (Ivan Pacheco/VEJA)
38/39 Fabian Nacer, ex-viciado em crack e hoje com pós-graduação em Dependência Química e consultor no combate de drogas (Ivan Pacheco/VEJA)
39/39 Fabian Nacer, ex-viciado em crack mostra cartas que escreveu no período em que era dependente de drogas (Ivan Pacheco/VEJA)
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