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Após 20h em fuga, Pizzolato seguiu para Itália da Argentina

Ex-diretor do BB, que saiu do Rio na calada da noite, levou dossiê sobre sua história desde a eleição de Lula

Por Da Redação
19 nov 2013, 07h29

Uma viagem de 1 600 quilômetros, vinte horas de estrada, duas paradas para abastecer o carro, refeições de biscoito, banana e água. Assim o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato chegou à fronteira do Paraguai há cerca de cinquenta dias. O automóvel, porém, não passou para o lado de lá: ainda em território brasileiro, Pizzolato despediu-se do amigo que o levava, atravessou a pé a linha imaginária entre os dois países e embarcou em outro veículo, que já o esperava.

Foi para Buenos Aires, na Argentina, onde, já com outra via do passaporte italiano – a primeira fora entregue à Justiça do Brasil, com o documento brasileiro -, tomou um voo para a Itália. A jornada de Pizzolato para escapar ao cumprimento da sentença a que foi condenado no julgamento do mensalão – 12 anos e 7 meses de prisão -, feita em segredo, começara às 4h30 da manhã anterior à chegada à fronteira. Um dos delegados da PF envolvidos na tentativa de prender Pizzolato formulou a seguinte hipótese, logo depois de tomar conhecimento do paradeiro do condenado: como tem dupla cidadania, ele poderia ter se apresentado em um consulado italiano (certamente no Paraguai) dizendo ter perdido seu passaporte. A partir daí, a representação italiana se encarregaria de fornecer um novo documento para que seu cidadão retornasse ao país de origem.

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Pizzolato diz querer ter, na Itália, um julgamento “justo e livre das pressões da mídia”. Registrou ele, em nota: “Por não vislumbrar a mínima chance de ter um julgamento afastado de motivações político eleitorais, com nítido caráter de exceção, decidi consciente e voluntariamente fazer valer meu legítimo direito de liberdade para ter um novo julgamento, na Itália, em um tribunal que não se submete às imposições da mídia empresarial”. O ataque “à mídia” e à Justiça foi a forma que o foragido encontrou de dar sua “banana” para os brasileiros – sua versão do punho em riste dos mensaleiros de mais alta patente, José Dirceu e José Genoino.

O ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato entra na lista de procurados da Interpol
O ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato entra na lista de procurados da Interpol (VEJA)
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O ex-diretor do Banco do Brasil saiu discretamente do prédio onde morava, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. O porteiro da noite estranhou o horário da caminhada, às 3 horas da madrugada, com duas grandes malas de viagem. Pizzolato não estava sozinho: acompanhavam o ex-diretor do BB o advogado Marthius Lobato e outro defensor. Lobato disse, neste sábado, que foi surpreendido pela notícia de que seu cliente estava na Itália, e deu por encerrada sua relação profissional com Pizzolato “a partir do trânsito em julgado”. Ele levava consigo ainda um pen drive, com cópia de um dossiê que elaborou com sua história desde a campanha eleitoral que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, além de detalhes da ação penal em que foi condenado. Tenso, preferiu deixar a direção com o amigo: não se sentia em condições emocionais de dirigir.

Pizzolato decidiu deixar o Brasil em direção à Itália depois do 7 de setembro. Pouco antes, no dia 4, o Supremo Tribunal Federal rejeitara seus primeiros embargos de declaração – tipo de recurso que questiona a clareza das decisões – à sentença que o condenara à prisão por peculato (apropriação criminosamente, por servidor, de dinheiro público), lavagem de dinheiro e corrupção passiva.

Pouco depois, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, outro dos réus condenados no processo do mensalão, reuniu amigos em sua casa em São Paulo, para acompanhar pela televisão uma sessão da Corte que examinava o seu caso e admitiu concretamente a possibilidade de ir para a cadeia. Foi mais um sinal assustador para Pizzolato: o mais graduado dos petistas no processo admitia publicamente que seria preso. “O que vai ser depois da condenação?”, preocupava-se o ex-diretor do Banco do Brasil em conversas com amigos próximos.

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Plano – A operação secreta que retirou Pizzolato do Brasil foi arquitetada com ajuda de um grupo restrito. Seria, porém, do conhecimento prévio de alguns petistas, entre eles Dirceu. Ao saber da disposição do ex-diretor do Banco do Brasil de deixar o Brasil e continuar lutando por sua absolvição na Itália, o ex-ministro da Casa Civil, condenado a mais de dez anos por comandar o mensalão, não teria se oposto, embora não soubesse de detalhes do plano.

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O próprio Dirceu descartou a possibilidade – aventada – de fugir do país para a Venezuela ou para Cuba, países em que o ex-ministro cultiva boas relações com os governos locais e de onde já colhera sinalizações de solidariedade, diante da condenação à prisão anunciada pelo Supremo.

Antes da partida, ocorrida alguns dias depois do 7 de setembro, Pizzolato, que tem dupla nacionalidade – brasileira e italiana -, fez algumas avaliações. Uma das mais importantes envolveu o tratado de extradição Brasil-Itália, que desobriga as partes de extraditar para a outra seus nacionais e abre a possibilidade de abertura de novo processo, de acordo com a respectiva legislação local.

Esse mecanismo era justamente o que o ex-diretor do BB queria para que seu caso fosse examinado, segundo argumenta, apenas sob a ótica jurídica. O tratado também não permite a extradição se houver motivos para acreditar que o extraditado sofrerá algum tipo de perseguição política. Outra avaliação envolveu possíveis represálias, como confisco de bens e bloqueio de aposentadoria. O único bem de vulto que o ex-diretor possui, segundo seus amigos, é a cobertura na Rua Domingos Ferreira, em Copacabana, cujo bloqueio não o afeta imediatamente.

Pizzolato foi condenado ao lado de outras 24 pessoas no ano passado. Segundo o Supremo, ele participou de um esquema de desvio de dinheiro do Banco do Brasil, por meio de contratos da Visanet – sistema de pagamento via cartão -, para abastecer o caixa do empresário Marcos Valério, que repassava o dinheiro para parlamentares da base aliada do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2005.

(Com Estadão Conteúdo)

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