Assim que veio à tona a denúncia de que foi alvo de importunação e assédio sexual, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, submergiu. A auxiliares do governo, ela confirmou as informações, avançou em detalhes das investidas feitas por Silvio Almeida, que ocupava o Ministério dos Direitos Humanos, e inclusive deu relatos minuciosos, com datas e horários dos episódios. Na sequência, Anielle evitou os holofotes e tirou férias por uma semana.
Passado esse período, a ministra retomou os trabalhos na última segunda-feira, 16. Em agendas públicas e manifestações em suas redes sociais, Anielle evitou tratar do caso – mas mandou alguns recados.
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Na manhã do dia 17, Anielle participou de evento no Ministério da Justiça que tinha como objetivo discutir a maior participação das mulheres em postos de liderança. Em seu primeiro discurso após as revelações, a ministra defendeu as políticas voltadas ao combate à violência contra as mulheres e exaltou a importância de se ocupar mais espaços – “mesmo nas dificuldades, mesmo nas violências cotidianas, mesmo testadas todos os dias”, ressaltou.
Ela também ressaltou a necessidade de espaços de trabalho “verdadeiramente acolhedores” e agradeceu às mulheres que, “apesar de cada violência que diariamente tenta nos afetar e nos impedir”, não desistem de suas missões.
“Como diz Conceição Evaristo, nossas ‘escrevivências’ nos moldam e fazem com que a gente possa seguir lutando por um projeto político de país que a gente acredita. E esse projeto passa por termos mulheres à frente de espaços de poder de decisão, sendo protagonistas de suas histórias, sem que nenhuma pessoa ache que possa tirá-la apenas por violentar. Quero encerrar dizendo também que, assim como a audácia de Carolina Maria de Jesus, a gente segue, apesar de tudo. E a gente sempre vai seguir”, concluiu a fala, sendo longamente aplaudida.
‘O que nos faz seguir’
Na última semana, Anielle participou de uma série de agendas e viajou ao lado do presidente Lula para Alcântara, no Maranhão. Em discursos, ela tratou sobre a violência contra mulheres negras – “Não é através da violência que irão nos parar, porque a gente sobreviveu até aqui” -, tratou de assuntos como a pauta quilombola, a diversidade no serviço público, se reuniu com lideranças femininas da Amazônia e também abordou a estiagem no país e as ações do governo federal para conter as queimadas.
Em manifestação nas redes, a ministra divulgou um vídeo intitulado “O que nos faz seguir”, no qual exalta ter “muita coragem para reconhecer o que nos faz estar vivo hoje, o que nos faz lutar”.
Sorridente, ela revelou ter medo de andar de avião. “Para você ver, temos medos e coragens diferentes”, afirmou.
Apesar de não tratar publicamente do caso Silvio Almeida, Anielle Franco terá, nos próximos dias, de encarar o assunto. Ela deve prestar depoimento à Polícia Federal sobre as denúncias – na última semana, uma mulher que não teve o nome identificado confirmou aos investigadores ter sido assediada por Silvio Almeida.