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Amazonas escolhe governador-tampão sob risco de rejeição recorde

Amazonino Mendes (PDT) e Eduardo Braga (PMDB) disputam no domingo quem completará mandato de José Melo, cassado pelo TSE, até o final de 2018

Por Fábio Pontes, de Manaus (AM)
Atualizado em 25 ago 2017, 20h14 - Publicado em 25 ago 2017, 20h08

A insatisfação do eleitor amazonense com o atual cenário político local e com os dois nomes postos para o segundo turno da eleição suplementar para o governo do estado pode levar o pleito deste domingo a registrar um novo recorde de abstenção e votos nulos – no primeiro turno, 40% do eleitorado decidiu não votar ou não escolher nenhum dos nove candidatos.

O Amazonas volta às urnas para a escolha do governador-tampão tendo de optar entre os candidatos Amazonino Mendes (PDT), de 77 anos, e Eduardo Braga (PMDB), 56 anos, dois símbolos do grupo político que se reveza no poder desde a década de 1980. Criador e criatura agora duelam por um mandato de 14 meses após o ex-governador José Melo (Pros) e seu vice, Henrique Oliveira (PR), terem sido cassados por compra de votos na disputa de 2014.

Pesquisas feitas por institutos locais apontam a vitória de Amazonino. A se confirmar as projeções, será o quarto mandato do septuagenário político. Apontado como o cacique maior da política do estado, ele é o “pai” das principais lideranças, incluindo o próprio Braga, que em 1992 foi candidato a vice de Amazonino na disputa pela Prefeitura de Manaus – a chapa saiu vitoriosa.

Eleito governador em 1994, Amazonino deixou a prefeitura como herança para Braga e, juntos, em 1996, elegeram Alfredo Nascimento (PR) para a sucessão do peemedebista.  Ao se fazer um retrospecto da política local, vê-se que as alianças formadas há trinta anos se consolidaram no poder, elegendo figuras apresentadas como novas, mas sem fazer alterações do status quo.

O próprio José Melo – o primeiro governador do estado tirado do cargo pela Justiça – foi beneficiário desta oligarquia. Foi secretário de Educação nas gestões de Amazonino. Como vice, assumiu o governo em 2014 após Omar Aziz (PSD) – outro ex-secretário de Amazonino – renunciar para disputar e conquistar uma cadeira no Senado. Aziz, por sua vez, havia herdado o Palácio Rio Negro (sede simbólica do governo) quando Braga foi eleito senador em 2010.

Amazonino Mendes (PDT) é abraçado por eleitores durante campanha para o governo do Amazonas (Reprodução/Facebook)

“Essa é uma eleição que, pelo menos no segundo turno, não tem uma grande novidade, não tem projetos ou uma inovação. Acho que esse desânimo, essa apatia do eleitor se reflete nisso”, diz o cientista político Gilson Gil, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). “Esses dois candidatos não representaram nenhum tipo de inovação. Representam tudo o que a política amazonense produziu nos últimos trinta anos.”

Segundo ele, outro efeito neste segundo turno é que os eleitores dos candidatos derrotados na primeira etapa tendem a não escolher nem Amazonino nem Braga, ampliando o percentual de votos nulos e brancos. “Não houve nenhuma transferência de votos. Estamos marchando para uma inércia”, afirma. A histórica eleição suplementar para substituir um governador cassado, completa o cientista político, não teve a adesão popular.

“O quadro [de crises] do Amazonas é resultado da prática deste grupo político, que não tem transparência e tem muita corrupção. E agora, no final, temos duas candidaturas que praticamente é a história do pai e filho e, portanto, não há nenhuma mudança à vista, nenhuma prática nova”, afirma o deputado estadual José Ricardo (PT), que, no primeiro turno, ficou em quarto lugar, com 12,17% dos votos – em Manaus, foi o segundo mais bem votado, superando o próprio Braga.

Campanha do ‘amor’

A campanha na propaganda eleitoral não teve como marca a troca de farpas ou acusações entre os candidatos, como se observou nas duas últimas eleições. O candidato do PDT apresentou, desde o primeiro turno, uma proposta para a reconstrução do estado baseada no “amor”.  “Quem ama reconstrói”, foi o lema no rádio e na TV.

Para enfraquecer o adversário, Braga batia no que classificou como falta de propostas de Amazonino. Somente nos últimos dias de propaganda o criador respondeu à criatura apresentando pontos mais específicos para enfrentar os problemas mais sensíveis aos amazonenses: a crise na segurança e o desemprego.

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Eduardo Braga (PDT), durante campanha para conquistar mandato-tampão no governo do Amazonas (Reprodução/Facebook)

Para a geração de empregos, os dois defendem o fortalecimento da Zona Franca de Manaus, prometendo lutar contra iniciativas que enfraqueçam o modelo de incentivos fiscais para a Amazônia. Mesmo assim, também defenderam alternativas para o estado não ficar dependente só do Polo Industrial de Manaus.

Na segurança, pouco se debateu o combate às facções criminosas, sobretudo à Família do Norte (FDN), responsável pelo massacre de quase 60 presos no sistema penitenciário estadual no começo do ano. As propostas se basearam na reestruturação das polícias e no combate ao narcotráfico na região de fronteira com Colômbia e Peu.

O governador-tampão escolhido neste domingo poderá disputar a reeleição em 2018. A posse ocorrerá no dia 2 de outubro. O estado vem sendo administrado interinamente por David Almeida (PSDB), que era o presidente da Assembleia Legislativa.

 

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