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Alvaro Dias: população tem só um tiro para evitar o pior em 2018

Pré-candidato em 2018 pelo Podemos, o senador do Paraná aposta em plataforma de centro para superar a polarização entre Lula e Bolsonaro

Por Edoardo Ghirotto
22 jul 2017, 17h12

Alvaro Dias cumpre hoje, aos 72 anos, o quarto mandato como senador (PR). O político também já ocupou os cargos de vereador, deputado estadual e federal e governador do Paraná ao longo de sua vida pública, iniciada em 1968 no MDB, de oposição à ditadura. Filiado ao Podemos, que substituiu em maio o registro do PTN, Dias atendeu a uma convocação dos dirigentes da legenda e aceitou um novo desafio: será pré-candidato à Presidência da República nas eleições-2018.

Apesar do cenário de descrédito com a política, o senador não acredita que a população rejeitará candidatos veteranos. “O Brasil não é um país para ser governado por aventureiros inexperientes ou por salvadores da pátria”. Para Dias, o país “mergulhou num oceano de dificuldades” e só retomará o crescimento com um presidente que tiver “maturidade política e competência administrativa”.

“A população tem uma arma com só uma bala. Se errar o tiro, enfrentaremos tempos ainda mais difíceis”, diz o senador, que defende uma plataforma política de centro para abrir caminho em meio à polarização entre as candidaturas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). “A pretensão do Podemos é somar valores da esquerda e da direita e caminhar para a frente.”

Dias chegou a ser citado nas delações da Odebrecht – pelo ex-diretor da empreiteira Pedro Novis, que relatou pagamento de propina a integrantes de sua gestão no governo do Paraná -, mas o caso foi arquivado pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato, a pedido da Procuradoria-Geral da República, que não viu indícios suficientes para abrir investigação.

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Por que o senhor resolveu disputar a Presidência?

Há alguns meses, fui convidado para contribuir com a formação de um partido, um movimento que toma como base o que ocorreu na Europa e tenta estabelecer uma postura diferente das que têm sido adotadas pelas siglas atuais. Como me propus a contribuir para a construção de um partido, cheguei sem postular nada, mas não tenho o direito de recusar um chamamento. No lançamento da legenda, meu nome foi proposto como uma alternativa de candidatura, porque temos um projeto que quer se apresentar ao país e precisa de um porta-voz. Tenho o dever de participar desse debate eleitoral que ocorrerá em 2018. Sempre defendi a tese de que é muito cedo para propor candidaturas, no entanto, se essa proposta partidária evoluir, a candidatura se viabilizará. Não é uma é uma reivindicação pessoal. É uma convocação do partido.

Quais serão as suas prioridades na campanha?

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Reformas. O Brasil é um país à espera de reformas, começando pela política, que deve ser matriz de todas as demais. É preciso reformar o sistema federativo, que está esgarçado com a distribuição injusta dos recursos. Precisamos de uma reforma tributária, porque temos um modelo superado que sangra a economia do país e inibe o crescimento econômico. As soluções que o governo busca com medidas provisórias são retalhos e agravam ainda mais a situação. Também precisamos de uma reforma da Previdência e de outra trabalhista. O tema não se esgotou com a legislação trabalhista aprovada pelo governo. É preciso ter uma reforma que elimine os conflitos, e me parece que essa alimenta os conflitos. Para a economia, a administração da dívida pública é uma questão crucial. Hoje, ela é incompetente e limita a nossa capacidade de investir em setores essenciais.

O desgaste que os escândalos de corrupção provocaram nos partidos tradicionais pode beneficiar siglas novas ou nanicas?

O quadro partidário está arrasado. A Operação Lava Jato completou a destruição dos partidos, que são siglas para registro de candidaturas sem identidade programática. Certamente, eles serão julgados e condenados pela população nas urnas. Por isso, fizemos esse movimento, na tentativa de construir um partido que se afaste ao máximo da mesmice lamacenta dos tradicionais. Não se trata apenas da mudança de nome, porque estamos substituindo um partido antigo e usando seu registro. Mudamos o conteúdo, a postura, a imagem, o programa, o estatuto e a gestão. Inclusive evitamos chamar o Podemos de partido. É um movimento que identificará as prioridades da população e verbalizará suas aspirações.

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Como conquistar a confiança da população em um cenário de descrédito com políticos?

Defendendo a ideia de que a população deve julgar o político pelo conjunto da obra de sua atuação, e não pelo último gesto ou pelo último discurso. No Brasil, temos a cultura do adesismo fácil, da fisiologia explícita e do oportunismo latente. Pula-se rapidamente do barco que afundou para se tornar um opositor virulento. Essa é a leitura que o povo faz. Pregamos que a população separe o joio do trigo, não generalize e busque distinguir um político do outro, porque teremos uma decisão crucial para o futuro do país. O Brasil afundou, mergulhou num oceano de dificuldades que exigirá muita experiência administrativa e ousadia para promover mudanças e recolocar o país nos trilhos do desenvolvimento. A população tem uma arma com só uma bala. Se errar o tiro, enfrentaremos tempos ainda mais difíceis. Essa é uma eleição que exigirá muita responsabilidade das pessoas lúcidas. Elas precisarão encontrar um projeto de governo que ofereça segurança. Creio que o comportamento no debate eleitoral dará condições à população para que faça sua escolha.

O senhor é um político que está há anos na vida pública, mas fala da sua pré-candidatura como se fosse uma alternativa nova. Como conciliar essas duas imagens?

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É um desafio, mas solucionarei essa questão expondo a minha trajetória. Mudei de partido algumas vezes para preservar a coerência. Às vezes, é preciso mudar de partido para não mudar de lado. E quase sempre mudei para fugir da corrupção e por não concordar com a incapacidade dos partidos de evoluir. O político modernizador não é aquele que tem pouca idade, mas aquele que avança e tem a capacidade de fazer a leitura do dinamismo social. Está nascendo no Brasil uma sociedade exigente e que quer mudanças. O político experiente tem mais condições de interpretar as mudanças que se constituem em exigências da sociedade. A experiência é um patrimônio valorizado nos momentos de dificuldade, e certamente a população vai considerar isso, porque o Brasil não é um país para ser governado por aventureiros inexperientes ou por salvadores da pátria. É um país que exige maturidade política e competência administrativa. Quem conseguir se apresentar com esse perfil, mostrar essa fotografia, certamente conquistará o apoio popular.

A população tem uma arma com só uma bala. Se errar o tiro, enfrentaremos tempos ainda mais difíceis. Essa é uma eleição que exigirá muita responsabilidade das pessoas lúcidas. Elas precisarão encontrar um projeto de governo que ofereça segurança.

Alvaro Dias, senador (Podemos-PR)

As pesquisas mostram uma polarização entre direita e esquerda, refletida nas candidaturas do ex-presidente Lula e do deputado Jair Bolsonaro. É possível oferecer uma alternativa?

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Há uma repetição do fenômeno francês. O presidente Emmanuel Macron caminhou pelo centro e foi ao segundo turno graças a uma diferença de 2% nos votos. Se fizesse menos, haveria um confronto entre a extrema esquerda e a extrema direita. Isso também ocorrerá no Brasil. Será necessária uma candidatura de centro e que seja sustentada pelas forças vivas da sociedade – e falo dessa forma porque não acredito nas forças partidárias, que foram demolidas pela descrença popular. As pessoas lúcidas darão sustentação a um projeto responsável, no caminho do centro e em direção ao amanhã. Hoje há um representante do espólio da esquerda, que foi destruída até o fundo de sua alma pela incompetência do PT no governo. Existe essa herança porque eles aparelharam estatais, organizações sindicais e movimentos sociais. E, obviamente, há adeptos da extrema direita que se mobilizam por conta da decepção com a esquerda. Eu imagino que o Brasil tem um espaço maior pelo centro. Uma candidatura bem encaixada e próxima das prioridades da população pode avançar muito.

Qual será a contribuição do Podemos?

O partido pretende eliminar essa dicotomia entre esquerda e direita. Não nos vinculamos à extrema esquerda nem à extrema direita. Nossa pretensão é somar valores de ambos e caminhar para a frente, promovendo avanços e resolvendo problemas. É isso que a população quer. Fugiremos da esquizofrenia ideológica que promoveu um debate sem consequências.

A experiência é um patrimônio valorizado nos momentos de dificuldade, e certamente a população vai considerar isso, porque o Brasil não é um país para ser governado por aventureiros inexperientes ou por salvadores da pátria. É um país que exige maturidade política e competência administrativa.

Alvaro Dias, senador (Podemos-PR)

Como fica o cenário eleitoral caso Lula seja impedido pela Justiça de concorrer à Presidência?

A Operação Lava Jato já mudou o cenário eleitoral, independentemente dessa ou daquela candidatura. O eleitor brasileiro é outro. Ele não será influenciado por factoides. Não se iludirá como já se iludiu em outras ocasiões. A rejeição será enorme para qualquer candidato da esquerda. O PT consagrou a incompetência administrativa e abriu as portas do estado para a corrupção. A esquerda terá o seu nicho, mas pagará por esse dano causado pelo PT. O candidato será inviabilizado pela rejeição, seja o Lula ou qualquer outro. Cientificamente, seria impossível se eleger com os índices de rejeição indicados. E, hoje, as pesquisas só têm credibilidade quando tratam da rejeição, porque isso vem da conduta passada. Elas não podem dizer nada sobre o futuro, porque a população não sabe o que virá. Não sabemos quem são os candidatos e suas propostas, portanto é temerário apostar em pesquisas no quesito intenção de voto.

O partido pretende eliminar essa dicotomia entre esquerda e direita. Não nos vinculamos à extrema esquerda nem à extrema direita. Nossa pretensão é somar valores de ambos e caminhar para frente, promovendo avanços e resolvendo problemas. É isso que a população quer. Fugiremos da esquizofrenia ideológica que promoveu um debate sem consequências.

Alvaro Dias, senador (Podemos-PR)
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