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Adesão às manifestações de rua aumentou a preocupação de Bolsonaro

Atos populares reforçaram no presidente, que está em 2º lugar nas pesquisas, a percepção de que a campanha pela reeleição será duríssima

Por Daniel Pereira Atualizado em 7 jun 2021, 11h19 - Publicado em 6 jun 2021, 10h02

Há uma diferença considerável entre o que Jair Bolsonaro diz em público e o que ele fala em privado, exatamente como ocorre com boa parte dos presidentes da República. Na segunda-feira 31 de maio, o ex-capitão desdenhou das manifestações populares realizadas em todo o país que defendiam o seu impeachment e mais vacina contra a Covid-19. “Você sabe porque deu pouca gente nessa manifestação da esquerda agora nesse fim de semana? Porque a PF (Polícia Federal) e a PRF (Polícia Rodoviária Federal) estão apreendendo muita maconha pelo Brasil. Faltou erva para o movimento aí”, disse Bolsonaro no conforto de seu cercadinho no Palácio da Alvorada.

Em conversas reservadas, no entanto, o presidente se mostrou preocupado com a quantidade de manifestantes nas ruas. A adesão ao ato reforçou em Bolsonaro a percepção de que a campanha presidencial será duríssima, análise que é compartilhada por alguns de seus principais conselheiros políticos. Esse grupo trabalha para manter o apoio do Centrão ao mandatário no Congresso e na eleição de 2022, o que garantiria a Bolsonaro a maior fatia de recursos dos fundos partidário e de financiamento eleitoral e também de tempo de propaganda no rádio e na TV.

Outra preocupação dos bolsonaristas, bem mais urgente, é acelerar medidas que sejam capazes de melhorar o humor de fatias importantes do eleitorado. Uma delas é a ampliação do Bolsa Família. A meta é ambiciosa: dobrar o número de beneficiários e o próprio valor do benefício. A ala política do governo considera que o ministro da Economia, Paulo Guedes, o dono da chave do cofre, já entendeu do que o chefe precisa. Vem mais gasto público por aí — e dos grandes. Afinal, como o próprio Guedes disse, é hora de partir para o ataque.

De olho no voto do eleitor médio, os governistas também deflagrarão uma derradeira ofensiva para tentar aprovar a reforma administrativa, alguma coisa que possa ser vendida como reforma tributária, além das privatizações da Eletrobras e dos Correios. O esforço será feito “apesar de Bolsonaro”, que só é entusiasta da agenda liberal da boca para fora. A ideia dos aliados é abrir para o presidente mais um flanco no qual ele possa se contrapor a Lula, que tem pregado contra as reformas e as privatizações.

Atrás do rival petista nas pesquisas e com o governo reprovado por metade da população, Bolsonaro estima ter um potencial de cerca de 40% dos votos. Ele costuma dizer que esse porcentual é garantido por nichos como evangélicos, caminhoneiros, ruralistas etc. É nesse balaio que ele aposta para conquistar uma vaga — que hoje parece assegurada — no segundo turno. A aposta nos nichos é pesada, como demonstra sua intenção de indicar um nome “terrivelmente evangélico” para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Para os políticos profissionais que o presidente trouxe para o governo, Bolsonaro precisa falar para além dessa bolha e atrair o eleitor médio, aquele que torce por uma terceira via que nunca chega. A defesa que o ex-capitão fez da vacinação em rede nacional de rádio e TV na quarta-feira passada foi um passo nesse sentido, mas até aliados sabem que, por ser tardio, pode não ter o efeito esperado. A reeleição, diz-se no Planalto, não será fácil. O próprio Bolsonaro admite isso.

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