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A política é passageira

E a cultura fica, contra todas as pregações nacionalistas

Por João Cezar de Castro Rocha
Atualizado em 23 nov 2018, 07h00 - Publicado em 23 nov 2018, 07h00

– Ernst Robert Curtius foi um dos mais importantes estudiosos da literatura no século XX. Nascido em 1886, inicialmente se notabilizou como um original especialista da literatura francesa; decisão que acarretava consequências sérias no plano político e cultural.

– Em julho de 1870, a eclosão da Guerra Franco-Prussiana trouxe para o centro da história europeia a rivalidade que movimentou o mundo moderno: França e Alemanha disputavam a hegemonia continental, com reflexos em todo o mundo.

– Ernst Robert Curtius lutou na I Guerra Mundial. O crítico literário esteve na França e na Polônia; seriamente ferido em 1915, foi dispensado no ano seguinte e retomou suas atividades docentes e de pesquisa.

– A derrota em maio de 1871 representou uma das maiores humilhações da história francesa. Ainda pior: organizada em março desse ano, a Comuna de Paris foi suprimida pelo menos em parte com o auxílio de tropas prussianas. A derrota para a Prússia implicou a perda da maior parte da Alsácia-Lorena, anexada pelo Império Alemão. Napoleão III foi destituído; o Segundo Império, substituído pela Terceira República — nessa dança de números, o orgulho francês somente se recompôs com a vitória na I Guerra Mundial.

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– Após a I Guerra, Curtius aprofundou seu conhecimento da literatura francesa, com ênfase na análise de autores contemporâneos. Em 1925, publicou um celebrado ensaio sobre Marcel Proust; em 1931, lançou Die Französische Kultur (A Cultura Francesa). Pois é: o espírito bélico permaneceu restrito à frente militar.

– Em 1933, o Partido Nazista venceu as eleições e Adolf Hitler tornou-se chanceler. Muito rapidamente concentrou todos os poderes pela eliminação dos adversários políticos. Teve então início uma autêntica guerra cultural, cuja palavra de ordem alimentou um nacionalismo ameaçador: Deutschland über alles (Alemanha acima de tudo) — cantavam todos em uníssono o hino, demandando um alinhamento míope com o regime.

– Nesse contexto, e sem nenhuma inclinação para aliar­-se aos nazistas, como seguir estudando a literatura do “inimigo”? Curtius encontrava-se numa encruzilhada — numa situação na qual um passo em falso parece inevitável.

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– Alguns dos maiores pensadores do século XX foram cooptados pelo nazismo: Carl Schmitt e Martin Heidegger.

– Curtius reinventou-se como medievalista, e em 1948 saiu sua obra-­prima: Literatura Europeia e Idade Média Latina. A literatura europeia, argumentou Curtius, só pode ser compreendida no âmbito de uma continuidade de longa duração, que, por assim dizer, atravessou séculos, independentemente de circunstâncias históricas desfavoráveis. Os ventos políticos, por mais impetuosos que sejam, um dia passam e não deixam boas recordações. Pelo contrário, nunca se perde o trabalho diuturno e subterrâneo da cultura.

– Você me acompanha — tenho certeza.

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Publicado em VEJA de 28 de novembro de 2018, edição nº 2610

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