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À polícia, Lula escondeu relação com “amigo” da Odebrecht

O ex-presidente disse que não conhecia diretor da Odebrecht para o qual enviou de presente uma camisa do Corinthians autografada

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 out 2016, 20h29 - Publicado em 10 out 2016, 16h56

No dia 13 de setembro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou discretamente no prédio da Polícia Federal em Santos, litoral paulista. Acompanhado por quatro advogados, o petista foi convocado para esclarecer negócios suspeitos em Angola envolvendo o seu sobrinho Taiguara Rodrigues dos Santos, o BNDES e a construtora Odebrecht. No longo interrogatório, resumido em cinco páginas e conduzido pela delegada Fernanda Costa de Oliveira, Lula escondeu uma informação relevante.

Indagado sobre as suas relações com a Odebrecht, o ex-presidente disse que não conhece o executivo Ernesto Sá Vieira Baiardi, diretor internacional da construtora e responsável por mercados como Angola, onde o sobrinho do ex-presidente ganhou um contrato milionário com a empreiteira. O petista é cabalmente desmentido pelos documentos que integram os autos: conforme VEJA revelou em sua mais recente edição, a PF descobriu no computador de Taiguara Rodrigues uma foto de uma camisa do Corinthians autografada pelo ex-presidente “ao amigo” Ernesto Baiardi. Veja a imagem:

Foto encontrada pela Polícia Federal no computador de Taiguara Rodrigues: Lula autografou a camisa do Corinthians para ser entregue ao "amigo Ernesto" Baiardi, diretor da Odebrecht
Foto encontrada pela Polícia Federal no computador de Taiguara Rodrigues: Lula autografou a camisa do Corinthians para ser entregue ao “amigo Ernesto” Baiardi, diretor da Odebrecht ()

 

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Telegramas reservados do Itamaraty também revelam que Baiardi participou como “representante mais sênior da Odebrecht” de uma comitiva de empreiteiros numa viagem de Lula para Malabo, capital da Guiné Equatorial, em março de 2013. Numa reunião com o ex-presidente, da qual também participou Léo Pinheiro, da construtora OAS, os empresários criticaram a morosidade do processo de liberação de crédito de instituições financeiras estatais como o BNDES e o Banco do Brasil para as companhias brasileiras desenvolverem seus projetos na África. Naquela ocasião, a Odebrecht pagou 316.125 dólares para fretar a aeronave que transportou Lula para o país africano.

A PF suspeita que Lula influenciava o BNDES a abrir os seus cofres para financiar as obras da Odebrecht no exterior. Os investigadores identificaram que de 2011 a 2014 ocorreram ao menos oito encontros entre o ex-presidente e Luciano Coutinho, seu apaniguado no comando do BNDES. Algumas dessas reuniões ocorreram na sede do Instituto Lula, em São Paulo, em datas próximas às viagens do ex-presidente ao exterior. Em seu depoimento, Lula dá a sua versão: “Perguntado sobre a razão do BNDES estar presente (nas reuniões no Instituto Lula), (Lula) respondeu (que) por se tratar de assuntos referentes a crescimento e desenvolvimento, havia a necessidade de participação do BNDES… Que então não era pauta dessas reuniões financiamentos específicos do BNDES”.

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A PF não se convenceu da resposta do ex-presidente: “Tendo em vista que o Instituto Lula tem por missão e objeto social, dentre outros, a ‘cooperação do Brasil com a África e a América Latina’, não demanda grande esforço intelectual concluir que as diversas reuniões realizadas com o presidente do BNDES trataram, em algum momento, dos financiamentos concedidos pela empresa pública federal aos países visitados por Luiz Inácio Lula da Silva. Não se vislumbra outros assuntos comuns às entidades que pudessem ser tratados nestes encontros”, diz o relatório de indiciamento do petista.

Para os investigadores, Lula era o “verdadeiro lobista da Odebrecht”. O ex-presidente recebeu da construtora 7,6 milhões de reais em sua empresa de palestras L.I.L.S. e em doações ao Instituto Lula. Quando questionado por que empreiteiras como a Odebrecht contratavam as suas palestras no exterior, o ex-presidente respondeu que o objetivo era “apresentar o êxito que o Brasil obteve, através de políticas de desenvolvimento e políticas sociais”. A delegada, então, quis saber: se era esse o propósito, por que Lula deixou de realizar as tais palestras? “A crise mundial fez com que o declarante repensasse e avaliasse um novo momento para a realização dessas palestras e estratégias a serem apresentada”, respondeu o petista.

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Nesta segunda-feira, Lula foi denunciado pelo Ministério Público Federal pelos crimes de tráfico de influência, organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Além do ex-presidente, o seu sobrinho também foi acusado de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Marcelo Odebrecht, preso na Operação Lava-Jato, foi denunciado por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa. Outros oito investigados também foram denunciados pelos crimes de lavagem de dinheiro.  Caberá agora à Justiça Federal no Distrito Federal decidir se acolherá a acusação do MPF.

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