A ‘narrativa’ que Lula quer impor sobre a Petrobras
Petista disse a representantes do setor que a empresa tem que virar 'briga nacional', criticou a atual política de preços e chamou Adriano Pires de lobista
Na conversa que teve com representantes do setor de petróleo nesta terça-feira, no Rio de Janeiro, Lula deixou claro que quer colocar a Petrobras no centro do debate eleitoral. Para o petista, é preciso criar uma “narrativa” sobre a empresa que faça frente a tudo o que foi dito e feito nos últimos anos, especialmente no âmbito da Lava Jato e do governo de Jair Bolsonaro. São dois focos: do ponto de vista econômico, criticar a atual política de preços, que seria responsável pela alta da gasolina, do óleo diesel e do gás de cozinha; no que diz respeito à imagem da estatal, explicar ao povo que o “roubo” foi feito por pessoas, e não pela empresa toda, que deve ser defendida como patrimônio da população.
“A Petrobras tem que se transformar numa briga nacional. A pessoa que está sem comer nas calçadas precisa entender que aquela briga é dela”, apontou a representantes dos petroleiros em um hotel da zona sul do Rio. Essa nova narrativa, segundo o ex-presidente, é algo que o PT pouco explorou nos anos de governo. “A primeira coisa que eles fizeram para destruir a Petrobras foi contar as mentiras deles. Conseguiram construir, na sociedade brasileira, a ideia de que o roubo da Petrobras foi o que fez a empresa ter prejuízo”, alegou, antes de atacar a Lava Jato. “Uma parcela de promotores, daquela quadrilha da força-tarefa de Curitiba, criou a narrativa de que quem defende a Petrobras é corrupto. E nós não soubemos retrucar.”
O petista afirmou categoricamente que levará esses temas à campanha eleitoral, aproveitando o tempo de propaganda para explorá-los. Diante das dezenas de jalecos laranjas, ele também comentou a nomeação do novo presidente da Petrobras, Adriano Pires, classificado como um “lobista” de petroleiras internacionais, sem capacidade para frear o aumento de preços dos derivados do petróleo – por ser adepto do Preço de Paridade Internacional (PPI), em vigor desde o início do governo Michel Temer (MDB), em 2016.
“Não conheço essa pessoa (Pires) e, por isso, não vou falar mal. Mas, pelo que li de notícia hoje, dizem que ele é lobista e que é muito mais ligado às empresas estrangeiras do que às nossas. Dizem que faz parte de um grupo seleto de personalidades brasileiras que não aceitam o discurso de que o petróleo é nosso”, observou.
A composição política da mesa de Lula nesta reunião foi estratégica. Além da sempre presente Gleisi Hoffmann, presidente do PT, estiveram ao lado dele o pré-candidato do PSB ao governo do Rio, Marcelo Freixo, o pré-candidato petista ao Senado e presidente da Alerj, André Ceciliano, e o vereador e ex-senador pelo partido Lindbergh Farias, que tem boa interlocução com o setor. Os aliados seguiram a linha de Lula e também teceram críticas à atual gestão da estatal.
“Com Adriano Pires, já tivemos vários embates históricos. É um contrassenso neste momento levá-lo para dirigir a Petrobras. E, com todo o respeito, não sei se ele já administrou mais de dez pessoas na vida, porque o histórico dele é só de fazer lobby, de defender os interesses das petroleiras internacionais”, criticou Ceciliano.
O encontro desta terça não é o único de Lula no Rio que tem como alvo políticas colocadas em prática nos últimos anos, desde o impeachment de Dilma Rousseff. Na manhã de quarta-feira, seu último dos cinco dias de agendas no berço do bolsonarismo, o petista conversará com a ministra do trabalho da Espanha, Yolanda Pérez, sobre a revisão da reforma trabalhista do país europeu, que serviu de modelo para a implementada por Temer no Brasil.