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‘A democracia precisa se renovar, senão vai definhar’, dizem especialistas

Reportagem de VEJA mostra que quase 80% da população é contra um regime autoritário, mas que 40% acredita que há chances de isso acontecer

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 dez 2019, 10h58 - Publicado em 6 dez 2019, 06h00

“A democracia brasileira está consolidada” foi um dos mantras repetidos por Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso quando eram presidentes da República. Hoje, sob o governo do presidente Jair Bolsonaro, um entusiasta declarado da ditadura militar, manifestações do gênero – incontestáveis nos anos anteriores – passaram a ser colocadas em dúvida.

Reportagem de VEJA desta semana mostra que quase 80% da população acredita que a democracia é sempre ou na maior parte das vezes o melhor sistema de governo, segundo pesquisa feita pela FSB – apenas 10% apontaram a ditadura como uma alternativa ideal. O mesmo levantamento, porém, também traz um alerta: 40% dos entrevistados acham que é média, grande ou muito grande a chance de o país virar novamente uma ditadura, o que mostra uma preocupação real da população de que hajam nuvens negras surgindo no horizonte.

Especialistas ouvidos por VEJA afirmam, no entanto, que o Brasil de hoje está longe de sofrer um novo golpe, apesar de viver em um período de “surto autoritário”. “A democracia é um processo que exige décadas e décadas. E a nossa ainda é recente, e baseada muito mais em uma correlação equilibrada de forças, que percebem que é muito menos custoso e arriscado conviver com os adversários, do que uma sociedade ancorada em convicções democráticas”, analisa o professor de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF) Daniel Aarão Reis, autor do livro Ditadura e Democracia no Brasil.

O historiador destaca que as principais instituições que apoiaram o golpe em 1964 – OAB, imprensa, Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional e Igreja Católica – têm se mostrado vigilantes e se destacado pelo posicionamento contrário às manifestações autoritárias do governo Bolsonaro. Reis é defensor da tese de que o que aconteceu em 1964 foi um golpe “cívico-militar”. “Agora não é porque uma maioria apoia uma opinião autoritária que ela deixa de ser autoritária. Fidel Castro, Benito Mussolini e Joseph Stalin também chegaram a ter o apoio da maioria, o que não significa que eles não foram ditadores”, disse ele.

Para o historiador, a democracia atual baseada em estruturas antigas, como os sindicatos e partidos, precisa passar por um processo de renovação, senão corre o risco de definhar. “Se não houver o que chamo de ‘democratização da democracia’, ela irá apodrecer e virar um modelo ultrapassado, como é hoje a monarquia. E é justamente na falta de alternativas que surgem os líderes salvacionistas”, disse Reis.

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O economista Cláudio Ferraz, professor da Universidade de Vancouver (Canadá), ressalta que uma das medidas mais eficientes para fortalecer a democracia é reduzir a desigualdade social. “Quando as pessoas sentem que não pertencem ao sistema, que não conseguem se mover socialmente, abre-se brechas para o fortalecimento de populistas salvacionistas”, disse ele.

Para o professor de ciência política de Harvard Steven Levitsky, autor do best-seller Como as Democracias Morrem, a democracia deveria ser vista como um jogo no qual os dois oponentes sempre almejam ganhar e, mesmo quando perdem, continuam jogando uma quantidade infinita de rounds. Dentro desse contexto, os adversários se veem como competidores e não como inimigos a serem destruídos. O problema se dá quando um dos lados fica tão desmoralizado com as perdas que decide então não jogar mais e busca a vitória por outros meios.

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