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À beira do abismo

Crivella acaba de cravar um ineditismo: desde a redemocratização, é o primeiro prefeito do Rio a ser alvo de um processo de impeachment

Por Leandro Resende
Atualizado em 5 abr 2019, 07h00 - Publicado em 5 abr 2019, 07h00

A gestão do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), foi atingida por um dilúvio. Na terça-feira 2, o bispo licenciado da Igreja Universal cravou uma marca que ninguém quer: tornou-se o primeiro ocupante do cargo a ser alvo de um processo de impeachment desde a redemocratização. E com a aprovação de ampla maioria da Câmara de Vereadores. O motivo: a recente renovação de contratos milionários sem licitação. O pano de fundo: o enfraquecimento político do prefeito, causado por uma soma de inabilidade e crises na administração. “Crivella conseguiu um feito inédito nesta Casa: desagradou a vereadores de todos os segmentos e matizes ideológicos”, diz o veterano vereador Paulo Pinheiro, do oposicionista PSOL.

Nos próximos noventa dias, uma comissão formada por três parlamentares elaborará um parecer sobre a denúncia, que servirá de base para nova votação em plenário. Os nomes foram definidos por um sorteio que acabou por beneficiar Crivella. Dois membros da comissão manifestaram-se contra a abertura do processo para o seu afastamento — um deles é ninguém menos do que Paulo Messina (Pros), ex-secretário da Casa Civil que reassumiu o mandato de vereador justamente para articular em favor do chefe. “Esse é um ato puramente político”, minimiza Messina. Ele já iniciou as costuras para tentar salvar o alcaide, que segue na cadeira enquanto os trâmites se desenrolam.

DERROTA – Câmara de Vereadores do Rio: 35 dos 51 parlamentares aprovaram a abertura do processo de impeachment (Renan Olaz/CMRJ/.)

O desfecho é incerto. Dos 51 vereadores, 35 aprovaram a abertura do processo. Com a caneta na mão, o prefeito tem um trunfo evidente para cabalar votos. Nos últimos tempos, ele deixou de cumprir acordos com vereadores que, entre demandas mais e menos republicanas, pleiteavam cargos e obras em seus nichos eleitorais. Há muitos relatos de parlamentares que amargaram horas na sala de espera de Crivella sem ser recebidos. Ele pode agora querer agradar-lhes. E, quando quer, consegue. No começo do mandato, chegou a amealhar na mesma Casa 31 votos a favor do aumento do IPTU. Também emplacou a ultraimpopular reforma da Previdência.

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Mas os ventos viraram. Em julho de 2018, a suspeita de que a prefeitura estaria beneficiando fiéis da Igreja Universal com isenções de IPTU e cirurgias em hospitais públicos levou a Câmara a analisar um requerimento de impeachment. Era um sinal de que as coisas podiam piorar. O que está na mesa agora é uma denúncia de 140 páginas protocolada por um fiscal da área econômica da prefeitura. Segundo ele, Crivella incorreu em crime de responsabilidade ao renovar sem licitação dois contratos de mobiliários urbanos e publicidade com as empresas OOH Clear Channel e JCDecaux. Pelas redes sociais, sempre elas, o prefeito disse não haver razão para impeachment e que os vereadores “farão justiça”.

Mesmo que se livre desta, Crivella continua sob ameaça de afastamento. VEJA ouviu de vereadores da oposição (e até da base aliada) que eles têm na manga outros dois caminhos para tentar tirar Crivella do cargo antes de 2020. Um se ancora na CPI que investiga o uso da máquina pública pelo prefeito para ajudar a eleger o filho deputado federal. O outro se apoia no grande número de contratos de emergência em várias pastas. E surgiu mais um motivo, desde que VEJA publicou, na edição passada, uma reportagem que mostra que o candidato a delator Jacob Barata Filho, empresário conhecido como “o rei do ônibus” no Rio, disse ao Ministério Público que paga propinas e contribuições eleitorais clandestinas a Crivella desde 2008. No total, o empresário já molhou a mão do prefeito com mais de 5 milhões de reais.

Publicado em VEJA de 10 de abril de 2019, edição nº 2629

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