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“Não houve mentira”, diz Fabio Wajngarten, investigado pela PF

O secretário de Comunicação se diz alvo de perseguição, garante que “o gabinete do ódio” é uma invenção e faz críticas à cineasta Petra Costa

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 fev 2020, 09h59 - Publicado em 7 fev 2020, 06h00

No 2º andar do Palácio do Planalto, o chefe da Secretaria Especial de Comunicação (Secom), Fabio Wajngarten, mantém seis TVs ligadas em canais diferentes. Responsável por cuidar da imagem do governo, nas últimas semanas ele esteve empenhado em salvar a própria imagem — e o próprio emprego. A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar se o secretário praticou algum crime ao assumir o cargo e se manter, ao mesmo tempo, como sócio de uma empresa, a FW Comunicação, que tem como clientes agências de publicidade e emissoras de televisão. Wajngarten afirma que não há conflito de interesses e se diz alvo de perseguição política. Nesta entrevista a VEJA, concedida em seu gabinete na última quarta-feira, o secretário falou sobre a política de comunicação do governo, as relações tumultuadas com a imprensa, as confusões nas redes sociais — interrompendo a conversa uma única vez, quando um dos canais de TV noticiava o desdobramento de seu caso. Ele olhou, fechou a cara e balbuciou algo propositalmente incompreensível.

O jornal Folha de S.Paulo publicou uma série de reportagens que mostram que sua empresa tem contratos com duas emissoras de TV e uma agência de publicidade que prestam serviços à Secom e ao governo. O senhor não enxerga conflito de interesses nisso? Eu ainda não enxergo. E eu explico o porquê. Os contratos dos dois lados foram assinados muito antes da minha chegada. Nenhum desses contratos teve reajuste de preços ou majoração de valor. Esse é o coração de quão mentirosa é a acusação. Tudo foi comunicado quando da nomeação aos órgãos de controle da Presidência da República. Não há conflito de interesses. A minha empresa, a FW, não presta serviços de comunicação. Ela vende dados.

A legislação impede sua participação em negócios com pessoas ou empresas que podem ser afetadas por suas decisões no governo. O senhor não deveria ter encerrado os contratos? Se isso tivesse sido pedido, eu teria feito. Já surgiram aqui inúmeras e diferentes interpretações: “Tem de sair da empresa, tem de sair do quadro de administração da empresa, tem de vender a empresa, não tem de vender a empresa, tem de encerrar ou suspender os contratos especificamente”. O que for determinado pelos órgãos competentes será imediatamente acolhido.

Independentemente da legislação, o senhor não considera essa proximidade eticamente reprovável? Quando fui convidado para o cargo, contratei um escritório de advocacia que entrou em contato com a Presidência da República e cumpriu tudo o que foi demandado. Se surgirem novas demandas da Presidência da República, elas serão cumpridas imediatamente. Não houve omissão nem mentira como disseram. Minha empresa não tem negócios com o governo. Essa confusão toda decorre de junção de interesses comerciais e políticos.

“O presidente realmente não lê os jornais nem as revistas, mas a gente passa para ele todo dia, antes das 7 da manhã, pelo WhatsApp, uma resenha com tudo o que foi publicado de importante”

Como assim? Sou um questionador dos dados do Ibope. Sempre fui. Na verdade, sou sinônimo de contraponto ao status quo publicitário, que eram Globo e Ibope. Eu sempre pus em xeque alguns dados e sempre fui muito inovador. Então, quando você tem um cara que está sempre desafiando, que está sempre inovando, que cria relatórios reais de merchandising, que dá o resultado mais rápido e mais barato… você ameaça o concorrente. Não tenho provas, mas desconfio que a origem de tudo vem daí. Agora que a Polícia Federal vai investigar o caso, os fatos serão devidamente esclarecidos.

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O desapreço que o presidente e alguns ministros demonstram pela imprensa não reflete uma inclinação autoritária do governo? Cite um ato de censura do presidente, alguma ação contra a liberdade de expressão ou de imprensa. Nunca na história houve um presidente que falou tanto com jornalistas. O presidente sai do Alvorada para falar com os jornalistas todos os dias. O presidente foi o que mais se encontrou com os jornalistas. O presidente é o que mais teve encontros com donos de veículos de comunicação. O presidente tem muitos amigos jornalistas. O presidente sabe da importância de vocês. A imprensa é fundamental, vírgula, desde que verdadeira e com profissionalismo. E não persecutória, não mentirosa, não uma usina de fake news.

O senhor pode citar um exemplo de fake news publicada pela imprensa profissional? Tem vários, tem vários, mas muitos mesmo. Pega um caso de fake news… (O secretário se dirige a um de seus assessores.) Um daqueles que a gente lê e diz “que barbaridade”. (O assessor pensa, mas não cita nenhum.) A imprensa tem um papel importantíssimo, mas há que ter um equilíbrio editorial. Na minha interpretação, a Rede Globo tentou derrubar o presidente Temer e não conseguiu, tentou impedir a vitória do presidente Bolsonaro e também não conseguiu.

O presidente já disse que não lê nem vê os noticiários. De que maneira ele se informa? O presidente realmente não lê os jornais nem as revistas, mas a gente passa para ele todo dia, antes das 7 da manhã, pelo WhatsApp, uma resenha com tudo o que foi publicado de importante.

O vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, disse que há falhas de comunicação no governo. O senhor concorda com ele? Concordo. A presença digital da Secom tem de ser mais veloz, mais intensa e mais diversificada. Na prática, isso significa que a gente precisa ter mais olhos para os perfis digitais. A gente deu o primeiro passo na criação dos perfis.

Há algum limite para a atuação da Secom nas redes sociais? Há um limite.

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O senhor considera que chamar a cineasta Petra Costa, autora do documentário Democracia em Vertigem, de militante anti-Brasil está dentro desse limite? Saiba que os nossos posts passam por uma revisão, um crivo, da área jurídica. Em temas sensíveis como esse, os advogados participam. O problema, na verdade, é uma cineasta declarar fora do Brasil um monte de mentiras. É papel da comunicação do governo proteger e promover o Brasil. É obrigação, é dever.

O senhor viu o documentário Democracia em Vertigem? Não tive tempo.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, já xingou adversários pelas redes sociais. Isso faz parte da estratégia de comunicação do governo? O Twitter do ministro Weintraub é pessoal. As redes são livres. No Twitter pessoal, cada um faz o que quer. No Twitter das pastas, a gente tem de organizar a casa. Essa é a diferença que precisa ficar muito clara.

Se o ministro criticar o presidente da República em seu perfil pessoal, então não tem problema nenhum? Ele não vai fazer isso.

Ele comparou os ex-presidentes Lula e Dilma a drogas… Ele também já se desculpou perante a Comissão de Ética com relação a esse tuíte. Todo mundo enfrentou um processo de aprendizado aqui em Brasília. O ministro é muito inteligente, tem um currículo profissional excepcional, mas não tinha experiência no setor público.

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O presidente é o autor dos próprios posts no Twitter? Sim, é ele quem está falando.

Então foi ele quem postou aquele vídeo do leão prestes a ser atacado por uma hiena que representa o STF? Não sei se era ele. Não sei se era ele.

Tem mais alguém que posta no Twitter do presidente? Desconheço. É o Twitter pessoal dele.

“Na minha interpretação, a Rede Globo tentou derrubar o presidente Temer e não conseguiu, tentou impedir a vitória do presidente Bolsonaro e também não conseguiu”

E como o senhor avalia a atuação do chamado “gabinete do ódio”? Isso foi uma invenção que apareceu há uns seis meses dentro do modelo da rádio-­fofoca. O que a gente tem? Três profissionais no assessoramento pessoal do presidente com muito talento, com muita dedicação, que sabem como funcionam as redes, as plataformas. Aprendo todo dia com eles. A gente trabalha cada vez mais junto.

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Como é sua relação com Olavo de Carvalho, guru dos bolsonaristas? Eu nunca vi o professor Olavo de Carvalho. Falei com ele algumas vezes e, quando ficou doente, num passado próximo, botei o meu pai para falar com ele ao telefone. Depois, ele soltou um tuíte dizendo que está vivo graças ao meu pai, que corrigiu um diagnóstico errado lá nos Estados Unidos.

Para o governo, os posts dele ajudam ou atrapalham? É mais um que quer ver o governo dar certo, que torce pelo presidente, que está botando a cara e apanha. É um bom aliado.

A direita tem problema de imagem? Eu vejo verdade, eu vejo sinceridade, eu vejo objetividade, eu vejo correição, eu vejo muita energia, eu vejo superação. É só trabalhar isso certo.

E a esquerda? A esquerda destruiu os cofres públicos, destruiu a Petrobras, destruiu os ativos do Brasil. A gente herdou terra arrasada. O governo está tentando botar a economia em ordem, resgatar a credibilidade no cenário internacional, minimizar o desemprego, reaquecer a indústria. Quem não ficou desempregado passou a ter uma qualidade de vida péssima. Foi esse o legado da esquerda.

Depois que o senhor chegou à Secom, qual foi o momento mais crítico vivido pelo governo? A crise da Amazônia foi muito grave, e não pense você que a Secom não avisou. Porque se criou uma narrativa: que nuvem de fumaça estava chegando a Santos, que nuvem de fumaça estava chegando ao sul do país, que no sul do país o dia virou noite por causa das queimadas na Amazônia, que não sei quantos animais silvestres estavam mortos, que todo mundo que vivia na floresta estava ameaçado. É grave porque eu reputo que a imagem do Brasil aqui dentro e lá fora é o caminho para a atração de investimentos. Quanto mais sólida for a imagem, mais investimentos receberemos.

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O presidente Bolsonaro tem um problema de imagem? Quem convive com o presidente se encanta com ele. Ele tem uma casca dura, mas é muito doce por dentro. É óbvio que a formação militar já contribui para essa narrativa que fazem fora do Brasil, de que ele é misógino, autoritário. A Secom vai promover campanhas internacionais para mostrar ao mundo o Brasil de verdade, para fazer um contraponto a essas narrativas mentirosas da esquerda.

O senhor ainda estará no comando da Secom quando esta entrevista for publicada? É uma ótima pergunta. O presidente hoje, na saída do Palácio da Alvorada, reassegurou os votos de confiança em mim. Ele conhece minha dedicação e minha lealdade a ele e ao governo dele. O presidente também conhece minha trajetória profissional. E eu só cheguei à Secom por causa dessa trajetória no mercado privado. Então, estou aqui para aplicar uma experiência bem-sucedida de comunicação, adquirida numa empresa moderna, pioneira, inovadora, que conquistou respeito do mercado.

Publicado em VEJA de 12 de fevereiro de 2020, edição nº 2673

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