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‘Há uma janela de oportunidade’, diz Tarcísio sobre disputar governo de SP

O ministro da Infraestrutura fala dos desafios de ser o candidato de Bolsonaro num eleitorado onde a rejeição ao presidente é acima da média

Apresentado por Atualizado em 11 fev 2022, 09h44 - Publicado em 11 fev 2022, 06h00
Tarcisio de Freitas -
Tarcisio de Freitas – (Ruy Baron/VEJA)

Considerado um dos principais nomes do governo, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, 46 anos, recebeu de Jair Bolsonaro um árduo desafio: ser candidato a governador de São Paulo. Compromisso aceito, Freitas parte para uma campanha complexa com o propósito de garantir palanque para o presidente no maior colégio eleitoral do país e terra de um de seus adversários, o governador e presidenciável pelo PSDB, João Doria. Natural do Rio de Janeiro, consultor legislativo da Câmara dos Deputados e oriundo da carreira militar, ele nunca disputou uma eleição nem teve cargo político no estado que pretende governar, um dos mais hostis a Bolsonaro. O ministro, no entanto, diz confiar na tradição paulista de acolher nomes de fora e lista algumas realizações do seu ministério como prova de competência e conhecimento para a tarefa. Ao conversar com VEJA, Freitas fez questão de posar em frente a uma pintura do gaúcho Barão de Mauá, pioneiro da industrialização do Brasil e patrono de sua pasta. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Algumas semanas atrás, pessoas do governo diziam que o senhor não queria ser candidato a governador de São Paulo, preferia concorrer ao Senado. O que fez o senhor mudar de ideia em tão pouco tempo? A vida nos proporciona surpresas. Tempos atrás eu não imaginava que estaria no ministério. Da mesma forma eu não pensava em concorrer ao governo de São Paulo, mas a pergunta é: por que não? Um estado tão sedutor, importante, rico, que tem vocação para ser a locomotiva do Brasil, forte no agro, forte na indústria, de gente empreendedora e que pode ganhar muito se for gerido com criatividade. Por que não encarar um desafio desse tamanho? Acho que há uma janela de oportunidade. O estado vem de um modelo que já exauriu, são muitos anos com o mesmo grupo e há um esgotamento, uma falta de capacidade de perceber coisas importantes que estão do seu lado. Falta resolver problemas de forma inovadora, e foi um pouco o que nós fizemos no ministério.

O eleitorado de São Paulo é mesmo tido como conservador e há muitos anos escolhe o mesmo grupo. O senhor não tem um vínculo forte, uma carreira ligada ao estado. Como pretende vencer esse desafio? São Paulo acolhe as pessoas, quantos políticos fizeram sua vida em São Paulo e não são de lá? Jânio Quadros, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Luiza Erundina, o Eduardo Bolsonaro… É um estado que acolheu muitos migrantes. Coincidentemente é onde iniciei minha trajetória profissional, em Campinas. E a vivência militar lhe dá uma experiência nacional, a vivência na infraestrutura o obriga a estudar os problemas de todas as regiões. Nós criamos soluções no ministério para problemas de infraestrutura de São Paulo, estudando o agro, a indústria. Você pensa o que pode fazer na malha sul, na malha oeste, na hidrovia do Tietê-Paraná, na Rodovia Presidente Dutra, no Porto de Santos, no Aero­porto de Congonhas. Eu acho que nada resiste ao estudo e à dedicação.

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O senhor tem falado com líderes políticos de São Paulo? Sim, e até estou muito surpreso com o acolhimento. Prefiro não citar nomes, até para não cometer a indelicadeza de esquecer algum, mas tenho sido acompanhado em eventos, palestras, reuniões com o setor produtivo por algumas dessas lideranças políticas. Um tempo atrás eu conversei com o professor Delfim Netto, que me disse o seguinte: “Se você vier candidato a São Paulo, você vai agregar apoios muito rapidamente, porque você tem o que mostrar”. É exatamente o que está acontecendo.

“São Paulo acolhe as pessoas. Quantos políticos fizeram sua vida em São Paulo e são de fora? Jânio Quadros, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Erundina, Eduardo Bolsonaro…”

Por qual partido vai concorrer? Obviamente, há uma tendência maior de ir para o PL, o mesmo partido do presidente.

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O PL já foi alvo de suspeitas de irregularidades no Dnit na época que o senhor assumiu o órgão, no governo Dilma. Isso não causa constrangimento? Acho que não, é um partido grande, é o partido que o presidente escolheu. De certa forma, essa escolha do presidente teve muito a ver com a questão de São Paulo. Todo mundo já entendeu também a forma como eu trabalho. Há um respeito muito grande entre mim e dirigentes do partido. A gente tem de olhar para a frente, deixando os problemas no passado.

A “ala ideológica” defende que o ex-­ministro Abraham Weintraub seja o candidato do bolsonarismo em São Paulo. Isso lhe afeta? Estamos muito conscientes do nosso papel, construído pelo resultado dos três anos de trabalho aqui no ministério. Todo mundo tem direito de buscar seu espaço, não vejo problema nisso.

Qual sua avaliação da gestão Doria? Ele será um alvo do senhor na campanha? Eu vou fazer uma campanha propositiva, vender soluções, mostrar o que fiz no ministério e como posso adaptar esse mesmo modelo para São Paulo. O objetivo é que a gente possa fazer desse estado uma grande locomotiva, que recupere investimentos que foram para outras regiões por causa do aumento de tributos, por exemplo.

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O fato de o governador ter trazido a vacina para o país terá qual peso na eleição? O Brasil é o único país que disponibiliza quatro imunizantes diferentes e está num seleto grupo de nações que fabricam suas próprias vacinas. Há um esforço do Butantan (ligado ao governo Doria), mas também há o esforço da Fiocruz (ligada ao governo federal), e em breve devemos ter uma planta da Pfizer no Brasil. Vamos lembrar também na campanha que, por ação do governo federal, estabelecemos contrato para aquisição de vacinas com transferência de tecnologia, e agora pela primeira vez em décadas estamos produzindo insumo farmacêutico ativo.

O governador paulista também gosta de lembrar que o estado vem crescendo muito acima da média nacional. Isso não é um problema para quem vai estar na oposição? Eu acho que não. Fizemos muito na infraestrutura com pouco dinheiro, o orçamento que eu tenho para investimento no ministério é menor que o de São Paulo. E ainda assim a gente conseguiu empreender portos, aeroportos, rodovias, ferrovias… Conseguimos criar alternativas para fazer investimentos como, por exemplo, a duplicação da Rodovia 469 no Paraná, e a ampliação do Aeroporto de Foz do Iguaçu.

Segundo pesquisas, a rejeição a Bolsonaro é maior no Sudeste do que na média do país. Como será fazer campanha em um ambiente hostil? O que a gente vai procurar mostrar são os avanços. É natural a rejeição a quem está comandando o país, principalmente quem lidera numa crise de grandes proporções. Enfrentamos várias crises: no início, houve uma recessão gravíssima na Argentina que subtraiu exportações, passamos pelo desastre de Brumadinho, atravessamos a crise hídrica, a crise da Covid. Obviamente, isso traz desgaste para o mandatário, mas não podemos deixar de perceber os bons resultados fiscais, o volume de investimento contratado que vai representar forte geração de emprego nos próximos anos.

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O presidente fez vários discursos com caráter antidemocrático. O senhor em algum momento se incomodou com isso e pensou em deixar o governo? Nunca pensei, até porque essa ameaça nunca existiu. Sempre houve respeito à democracia, o presidente sempre foi atacado, mas nunca atacou a liberdade de alguém se manifestar. Erros são cometidos, acertos também, no fim das contas temos um balanço positivo no que diz respeito às entregas. Algo que não pode passar despercebido é a firmeza do presidente em constituir quadros técnicos. Quando a gente pega o resultado do setor portuário, e aí posso citar Santos, era um porto que dava meio bilhão de reais de prejuízo por ano em razão da dominação política. Quando mudamos a chave e colocamos gente de mercado para fazer a gestão, olha o resultado: lucro e movimentação recordes, mais de 1 bilhão em caixa. Se fosse qualquer outro candidato eleito em 2018, um perfil como o meu jamais chegaria ao ministério.

Quais feitos o senhor destaca como sendo os principais da sua gestão? Quando chegamos em 2019, estabelecemos quatro pilares: transferência maciça de ativos para a iniciativa privada, resolução de problemas que herdamos — principalmente de modelagens de concessões que tinham fracassado —, conclusão de obras inacabadas e fortalecimento institucional. Temos 79 leilões de concessão realizados e outra série programada para 2022. Só em concessões temos cerca de 100 bilhões de reais já contratados, devendo ultrapassar 150 bilhões. Com o programa Pro Trilhos, de autorizações ferroviárias (para empresas), devemos alcançar a marca de 20 000 quilômetros de construções de ferrovias e 240 bilhões de reais de novos investimentos ferroviários. No setor portuário, temos em torno de 15 bilhões de reais em contratos. E fizemos mudanças significativas do ponto de vista da regulação, aprovamos marcos regulatórios transformadores, como o da cabotagem e o das ferrovias.

“É natural a rejeição a quem está comandando o país numa crise de grandes proporções. Erros são cometidos, acertos também. No fim das contas, temos um balanço positivo”

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Uma das maiores dores de cabeça do seu ministério é o edital de concessão do Aeroporto Santos Dumont. Recentemente, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que o processo vai prejudicar o Galeão. Como vê isso? Não é o Santos Dumont que está roubando passageiros do Galeão. Na verdade é o Rio que está perdendo passageiros. Tivemos uma intervenção de segurança pública, a derrocada do setor de óleo e gás, problemas políticos, a questão de segurança que envolve acesso ao aeroporto, Linha Vermelha e Linha Amarela. A questão é: limitar a capacidade do Santos Dumont necessariamente vai transferir esses passageiros para o Galeão? Ou a gente vai prejudicar o Rio porque essas pessoas deixarão de visitá-lo?

Outro gargalo da pasta é a Ferrogrão, pensada para escoar a produção de Mato Grosso até o Pará, mas o leilão espera uma decisão do STF. Qual a perspectiva para esse projeto? Esperamos uma deliberação positiva do STF porque o Brasil precisa e terá a Ferrogrão. Ela vai acontecer. Nosso papel enquanto governo é fazer com que aconteça antes.

Já bateu o martelo sobre quando deixará o ministério para concorrer? Já, porque o prazo legal é 2 de abril e no dia 1º eu tenho leilão marcado na bolsa de valores. Vamos encerrar nossa passagem no ministério fazendo leilão de quatro terminais portuários.

O Centrão vai tentar emplacar um nome no ministério com sua saída para a campanha? Quem escolhe é o presidente, eu tenho conversado com ele e tudo indica que meu sucessor será o Marcelo Sampaio (atual número 2 da pasta). O resto é especulação.

Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2022, edição nº 2776

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