Cláudio Castro: “O que vemos é negacionismo da esquerda na pauta da segurança”
Com a aprovação em alta, o governador do Rio diz que os críticos não ouvem a população e que o tema será decisivo nas eleições de 2026
Após amargar alta impopularidade devido ao descontrole da criminalidade no estado, a ponto de ter seu futuro político posto em dúvida, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), viu o cenário mudar a seu favor de uma hora para outra com a megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte carioca, no final de outubro. Sob aplausos da população fluminense, Castro, de 46 anos, saltou de menos de 500 000 para mais de 2 milhões de seguidores no Instagram, atingiu seu maior patamar de aprovação desde 2022 e voltou a ser procurado por políticos da direita que o tratavam como carta fora do baralho — situação que agora considera “engraçada”. Falando a VEJA em São Paulo, onde se encontrou com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e assistiu à corrida de Fórmula 1 com tratamento VIP, ele enfatizou a necessidade de ação conjunta com o governo Lula, mas não deixou de tecer duras críticas às vozes da esquerda que condenaram a violência da operação nos morros cariocas. Novas incursões estão na agenda do governador, que promete para dezembro um plano para a retomada de áreas dominadas pelo crime.
Dias depois da megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, marginais já haviam voltado à ativa nas ruas. Há um plano mais abrangente para livrar essas áreas do domínio das facções? Venho há pelo menos dois anos batendo na tecla de que a segurança é a principal pauta do país e, com a operação, ela ganhou seu verdadeiro peso na imprensa, na sociedade e na política. Só isso já é uma vitória. Acho também que deu esperança às pessoas e a nós, a legitimidade de fazer o que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ADPF das Favelas, pede: um plano para a retomada dos territórios nas mãos dos criminosos. Adianto aqui que, até 20 de dezembro, ele estará pronto. A partir de agora, essa será uma prioridade.
Mais uma dezena de novas operações já estão programadas. Serão nos mesmos moldes? Não todas. A operação nos dois complexos veio após um ano de investigação e sessenta dias de planejamento. Agora, a gente vai trabalhar em alto grau no que considero as duas grandes formas de terror: o armamento bélico pesado de que essas quadrilhas dispõem e as barricadas que elas colocam pelo caminho, um claro impedimento ao direito de ir e vir das pessoas. Vamos precisar da colaboração de todas as esferas de poder. Acredito que a operação que fizemos marca o início de um novo tempo, em que o Brasil se articula em prol da segurança.
O presidente Lula afirmou ter havido “matança” na incursão dos agentes e levantou a possibilidade de uma investigação paralela para averiguar o que aconteceu. Mesmo assim, há um clima de união? Minha postura é a de não comentar as falas nem do presidente nem de seus ministros. É exatamente para evitar o que eles querem: o excesso de politização. A gente lamenta que esse tipo de manifestação soe como falta de apoio. Mais de 75% da população, aliás, a rejeitou. Se não querem nos ouvir, que ouçam o cidadão que está gritando.
“Quem quis se entregar está lá preso. Os que enfrentaram os agentes tiveram outro destino. Vítimas são apenas os quatro policiais que perderam a vida. Por esses, sim, eu sinto dor”
Logo após a operação, porém, o presidente não fez ressalvas. A que atribui a mudança de tom? Não me importam muito as falas do presidente. Estamos superabertos para somar esforços. Quem não quiser, tudo bem: a gente vai deixar para lá e seguir com nossa missão.
O alto número de mortes na ação foi alvo de muitas críticas. Não poderia ter sido diferente? Seria diferente se aqueles 117 bandidos que morreram tivessem se rendido como os outros 113. Quem quis se entregar se entregou, está lá preso e respondendo ao devido processo legal. Mas os que escolheram ir para a mata enfrentar os agentes da lei, infelizmente, tiveram um destino que não era o que a gente buscava. Vítimas são apenas os quatro policiais que perderam ali a vida. Por esses, sim, eu sinto dor.
À luz dos desdobramentos da operação, mudaria algo para as próximas no radar? Estamos sempre aprimorando. Não dá para ser vaidoso, ficar na arrogância, achando que nada pode melhorar. Vejo tudo como uma curva de aprendizado. As polícias, com certeza, têm suas avaliações técnicas sobre o que poderia ter sido feito de outro modo. É preciso sempre lembrar que somos todos seres humanos passíveis de erro.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, do PT, foi outro que teceu comentários negativos à operação, dizendo que não poderia existir “um Estado matador”. O que achou da declaração? Não custa lembrar que a polícia que mais mata em todo o Brasil é a da Bahia. Acredito que o governador tenha sido mal assessorado para dizer o que disse.
Há pistas sobre o paradeiro do líder do Comando Vermelho, Edgar Alves de Andrade, o Doca, considerado inimigo número 1 do Estado, que conseguiu escapar da Penha? O que posso garantir é que o setor de inteligência está no caminho certo. Tudo o mais é especulação.
O que deve sair de prático do novo escritório emergencial criado para que os governos estadual e federal atuem em parceria? Precisamos de um ambiente com zero burocracia. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, gostou da ideia. Espero que a gente possa estar junto combatendo nessa guerra sem ficar de batalha em batalha, de programa em programa, sem resultado nenhum.
Quase duas décadas atrás, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) pareciam inaugurar um novo capítulo no combate ao crime, mas tudo voltou a ser como antes. Por que a retomada de territórios que o senhor promete teria sucesso agora? A UPP era um programa de entrada da polícia nas comunidades, que acabou não sendo acompanhado do ingresso de programas sociais e da necessária investigação. Repito: o Rio tem condições de vencer esse duelo, mas só com as várias esferas coordenadas. Esse é um ponto-chave. A decisão do Supremo nas ADPFs, inclusive, põe municípios, estados e União lado a lado, no mesmo balaio, todos como responsáveis. E a União, como o grande financiador, o que não acontece hoje. Quem gasta dinheiro para valer com essa guerra são os estados.
Houve nos últimos dias um grande debate entre Congresso e Executivo sobre que mudanças seriam mais eficazes para o combate às facções. Como o senhor avalia essa discussão? Não cabe mais falar em concordar ou discordar. O objetivo neste momento é lutar por algo que contribua concretamente para a segurança pública.
O senhor pediu à Casa Branca a inclusão do Comando Vermelho na lista da agência americana que combate o narcotráfico. Teve algum retorno? Não houve avanço, não. Até porque o Planalto é contra a ideia. Queria que a facção fosse tratada por eles como já é o Primeiro Comando da Capital (PCC), um grupo de criminosos transacionais sujeito a sanções econômicas.
Como avalia a condução da segurança pública na esfera federal? Falta ao governo realmente entender que esse é o maior problema do país. A Polícia Federal tem feito grandes progressos. Outro dia, junto com a polícia de São Paulo, desarticulou uma fábrica clandestina de fuzil e desencadeou uma operação importante, a Carbono Oculto, agindo sobre esquemas de lavagem de dinheiro. Mas não adianta se pegar em dois episódios e achar que resolveu o problema nem perder tempo com disputa na política.
As discordâncias ideológicas têm sido um freio de mão à articulação entre os poderes no combate à criminalidade? Sim. Hoje, o que vemos é um negacionismo da esquerda na pauta da segurança. Ou eles não conseguem enxergar o problema, ou perderam a capacidade de ouvir as pessoas. Está na hora de parar de ficar só no debate ideológico.
“Caso Bolsonaro não possa concorrer no ano que vem, que seja o candidato que ele indicar. Qualquer um que queira entrar na disputa presidencial precisa ir lá pedir o seu apoio”
Como o tema da segurança pode se refletir nas eleições do ano que vem? Ele é o que mais preocupa e mobiliza o brasileiro nos dias de hoje. Não tem como não se refletir. A eleição funciona como um espelho da expectativa das pessoas. E o que elas querem é ter de volta seu direito de ir e vir. Não à toa, quase 90% da população que vive nas comunidades é favorável à operação.
O senhor acha que há excesso no uso político da bandeira da segurança no país? Se estão usando a segurança para se cacifar politicamente, que o façam pelo menos em prol de leis que verdadeiramente contribuam para o trabalho da polícia.
A recente criação de um “consórcio da paz” por um grupo de governadores da direita, como Romeu Zema (MG), Ronaldo Caiado (GO) e Tarcísio de Freitas (SP), antecipa uma união da direita na corrida presidencial? Não, o encontro não teve nada a ver com 2026. Para as eleições, meu partido, o PL, tem um único projeto, ao qual se mantém fiel: o presidente Jair Bolsonaro como candidato ao Planalto. Caso não possa concorrer, que seja quem ele indicar. Qualquer um desses nomes que queira entrar na disputa precisa ir lá pedir o seu apoio.
O senhor esteve recentemente com o governador Tarcísio, em São Paulo. Ele seria um bom candidato? Tarcísio é um bom nome e, se Bolsonaro o chamar, ele entra no páreo. O Caiado e o Ratinho Junior (PR) também são opção. Há ainda a possibilidade de Michelle Bolsonaro se lançar ou um dos filhos do presidente. Quanto antes for decidido, melhor.
No Rio, a direita segue dividida? O presidente estadual do PL, Altineu Côrtes, o senador Flávio Bolsonaro e eu fizemos um acordo: deixamos a decisão sobre quem vai concorrer ao Palácio Guanabara para tomar juntos, logo depois do Carnaval.
Há chance de o PL subir no palanque do prefeito Eduardo Paes na campanha para governador, como foi recém-ventilado? É difícil. Há muita gente contra no partido. Só vejo esse cenário se concretizar se for uma orientação do Bolsonaro.
O senhor teme ver o mandato cassado no TSE no caso em que é acusado de ter se beneficiado de um esquema de distribuição de cargos em troca de apoio político? Confio na Justiça. O TRE do Rio, que é um tribunal independente, já entendeu que não havia provas. Venci a eleição com uma diferença de 2,6 milhões de votos. Essa história não faz nenhum sentido.
Nos tempos de popularidade baixa, o senhor chegou a dizer que não concorreria a nenhum cargo em 2026. E agora que a maré virou? Se fosse hoje, seguiria governando o Rio. Mas, se sentir que daqui a cinco, seis meses essa etapa foi concluída, aí posso mudar de ideia.
Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2025, edição nº 2970
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