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Garotas que programam

Em NY, iniciativa incentiva meninas a seguirem carreira nas áreas de engenharia e ciência da computação. Para especialistas ouvidos por VEJA, bloqueio cultural explica falta de mulheres no setor de tecnologia em todo mundo

Por Renata Honorato
29 jul 2012, 16h45

Mesmo em meio à crise que se abateu sobre a economia mundial em 2008, o mercado de Tecnologia da Informação nunca parou de crescer nos Estados Unidos. Na última década foram 4% de evolução ao ano, movimentando um total de 551 bilhões de dólares, segundo levantamento do Departamento de Comércio americano. As mulheres, porém, não participam de toda essa riqueza. Segundo outro estudo do mesmo órgão, o percentual de participação feminina entre os profissionais da área de engenharia oscilou apenas um ponto percentual, de 13% em 2000, para 14% em 2012. Para diminuir essa “exclusão tecnológica” feminina, gigantes do setor como Google, eBay e Twitter acabam de aderir a uma iniciativa que estimula garotas do ensino médio a seguir carreira em áreas tecnológicas. São as Garotas que Programam, numa tradução literal do nome do projeto em inglês Girls Who Code.

O projeto foi idealizado pela advogada americana Reshma Saujani, uma feminista do Partido Democrata que trabalhou na pré-campanha de Hillary Clinton à Casa Branca, em 2008, e já concorreu a uma vaga na Câmara dos Representantes por Nova York. Para estimular as meninas a entrar no mercado de tecnologia, a iniciativa vai montar palestras e criar estágios em empresas do setor onde mulheres atuam como engenheiras e programadoras. O objetivo é equilibrar o domínio dos homens. Além das grandes empresas já citadas, outras parcerias estão sendo negociadas, segundo Saujani. O programa começa oficialmente no primeiro semestre de 2013 e será implantado incialmente em Nova York. Em seguida, a democrata pretende expandir o projeto para todo o país.

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No Brasil, um dos mercados onde a TI mais se expande atualmente, o quadro de ausência feminina se repete. De acordo com o CREA-SP (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), dos 300.000 profissionais registrados na entidade no estado de São Paulo, apenas 49.000 são mulheres. O mesmo acontece no Sindpd (Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo). Do total de associados, só 28% são do sexo feminino. Segundo último relatório do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), dos 1.683 engenheiros da computação formados em 2010, apenas 161 eram mulheres. Na área de ciências da computação, dos 7.339 formados, 1.091 eram programadoras.

A falta de engenheiras e programadoras, porém, não pode ser atribuída a limitações fisiológicas ou a bloqueios de habilidades. Especialistas ouvidos pelo site de VEJA dizem que o problema é simplesmente cultural. Para Suzana Herculano-Houzel, neurocientista, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de seis livros, não há diferenças significativas entre o cérebro do homem e da mulher que expliquem qualquer vantagem em termos de capacidade no aprendizado de ciências exatas. “Muita gente já estudou isso no mundo todo e nenhuma pesquisa indicou limitação na habilidade das mulheres”, diz. “O que existe, comprovadamente, é um efeito enorme de expectativa.” De acordo com Houzel, as meninas, desde a infância, não se sentem confortáveis com os números por uma questão de falta de modelos. “Sem referências não há motivação e o rendimento cai. A tradição é muito forte e ela também afasta os homens de outras profissões consideradas pela sociedade como atividades essencialmente femininas”, conta.

Mas por que a engenharia ou a computação nunca foram associadas à mulher? Segundo Mário de Souza Costa, doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Cruzeiro do Sul, as áreas de tecnologia de ponta foram desenvolvidas durante as guerras, quando homens ainda dominavam o mundo acadêmico e científico e, por consequência, ocuparam a imensa maioria dos postos de inteligência das forças armadas envolvidas nos conflitos. “Isso acabou gerando uma espécie de reserva de mercado para o gênero masculino que perdura até hoje na área”, defende o especialista.

Apesar do cenário pessimista, tendências apontam para um futuro promissor no que diz respeito ao papel da mulher na tecnologia. Para Marta Pires Relvas, da Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento, e pesquisadora da área de neurociência e educação, muitas garotas têm se interessado por carreiras na área de engenharia e ciência da computação. Essa quebra de paradigmas é uma consequência natural para uma geração onde a mãe trabalhava fora e onde o lema “a mulher tem o direito de fazer o que quiser” era quase um mantra nas famílias modernas. “À medida que essas barreiras foram quebradas, as possibilidades no setor tecnológico também aumentaram”, afirma.

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Mas a presença da mulher em empresas de ponta não é apenas reflexo de uma mudança cultural. Existe também uma necessidade de um mercado dinâmico, que precisa correr contra o tempo para dar conta de tantas inovações. “Há 20 anos leciono para turmas de engenharia e percebi que nos grupos onde há mulheres os projetos são mais criativos. As alunas, no geral, são mais disciplinadas e caprichosas. Também tendem a pesquisar profundamente um assunto”, diz Marilia Gomes de Carvalho, professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Juliana de Melo Bezerra, uma das poucas docentes do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), um dos polos mais tradicionais no ensino da engenharia no Brasil, tem a mesma percepção: “Quando há meninas na turma o relacionamento entre os alunos é muito melhor.”

Mas quem são essas mulheres que estão começando a mudar a cara do setor de tecnologia no Brasil? A reportagem de VEJA conversou com quatro delas. Confira a lista a seguir:

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