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Duolingo: por que o Google investe na máquina que ensina?

Ganhando 200.000 usuários por dia, plataforma de ensino de línguas se apoia na educação personalizada e começa testar formas de fazer dinheiro

Por Da Redação 3 out 2015, 08h59

Google Capital, fundo de investimento mantido pelo gigante de buscas, liderou recentemente um investimento de 45 milhões de dólares no Duolingo, plataforma digital que ajuda mais de 100 milhões de pessoas pelo mundo a aprender línguas estrangeiras. O gigante, é claro, não rasga dinheiro. Está de olho em um público ainda maior, estimado em mais de 1 bilhão de pessoas, gente espalhada pelo planeta que estuda algum idioma e que eventualmente pode aderir ao Duolingo. Outro fator encanta, com resume Laela Sturdy, partner do Google Capital: “A experiência de aprendizado adaptativo construída de forma eficiente pelo Duolingo para o ensino de línguas pode ser estendida para outras áreas do conhecimento.” Ou seja, o Duolingo pode ajudar a formatar a educação do futuro.

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O sucesso do Duolingo em geral é atribuído à proeza de seus realizadores de criar uma ferramenta de educação que empresta características dos games, cabe no celular e que identifica e se adapta à necessidade de cada usuário. A última qualidade parece ser mesmo o motor do Duolingo. Os 46 cursos de 23 idiomas partem de um “currículo básico” desenvolvido pelos fundadores Luis von Ahn e Severin Hacker, dois cientistas da computação que se debruçaram sobre o desafio de ensinar línguas virtualmente lançando mão de recursos de uma subárea da inteligência artificial conhecida como aprendizado de máquina. Em suma, o trabalho é alimentar um programa com informações de maneira constante de forma que ele “aprenda” e passe a tomar decisões de forma automática.

Para aprender, o Duolingo se alimenta do conhecimento dos usuários, seus erros e acertos. Aproveitando-se da vantagem de operar no ambiente digital, o serviço analisa montanhas de dados relativos ao desempenho de cada um dos usuários em cada uma das tarefas propostas – são atividades simples como tradução de textos breves e preenchimento de lacunas em sentenças (nada de regras gramaticais). Semanalmente, a plataforma realiza ainda testes do tipo “A/B”, em que grupos de usuários recebem exercícios diferentes com o objetivo de identificar qual é, afinal, a forma mais eficaz de ensinar uma habilidade linguística – já foram realizados cerca de 750 testes até hoje. Deles, pode sair, por exemplo, a resposta à seguinte questão: para um brasileiro que aprende inglês, é melhor ensinar o uso do verbo antes do adjetivo ou vice-versa? As descobertas realimentam o sistema.

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“O Duolingo, tal como existe hoje, é fruto de todos esses experimentos, com resultados de milhões e milhões de usuários”, diz a brasileira Gina Gotthilf, vice-presidente de comunicações e desenvolvimento internacional da startup americana.

Se é verdade que o Duolingo pode ajudar a dar forma à educação do futuro, é bom olhar para o uso da ferramenta por professores e escolas. Desde janeiro, a startup mantém um ambiente específico para uso na educação, o Duolingo for Schools, em que professores podem acompanhar o desempenho das crianças nas aulas de línguas. Mais de 100.000 docentes de instituições públicas e privadas usam a ferramenta. O mais interessante é que ela foi criada a pedidos dos próprios professores. “Sem um ambiente dedicado, os professores usavam o Duolingo em aula e tinham de anotar o desempenho de cada aluno. Agora isso está resolvido”, conta Gina. Em alguns casos, os professores adotaram a plataforma como o próprio método de ensino. (continue lendo a reportagem…)

O presidente Barack Obama entre Gina Gotthilf e Luis von Ahn, vice-presidente e CEO do Duolingo, respectivamente, durante apresentação do Duolingo na Casa Branca
O presidente Barack Obama entre Gina Gotthilf e Luis von Ahn, vice-presidente e CEO do Duolingo, respectivamente, durante apresentação do Duolingo na Casa Branca (VEJA)

Desde o início do Duolingo, os fundadores von Ahn e Hacker estabeleceram que a plataforma seria para sempre gratuita. É uma condição, por exemplo, para que investidores entrem no negócio (antes do aporte de 45 millhões de dólares, investidores já haviam aportado ao projeto 38,3 milhões, incluindo dinheiro do ator Ashton Kutcher). Von Ahn e Hacker se apoiam na constatação de que as línguas têm um papel ambivalente: abrem portas para quem as domina, mas servem de barreira para quem não possui o conhecimento.

O Duolingo segue gratuito. Mas está de olho em fontes de financiamento, provavelmente a única forma de torná-lo sustentável para alimentar a equipe de cerca de 50 pessoas e ampliar o número de cursos disponíveis e a qualidade do serviço oferecido. No início do ano, lançou um teste de proficiência em inglês ao custo de 20 dólares – a prova sem valor de certificado sai de graça. A ideia é competir com exames estabelecidos que custam cerca de dez vezes mais, como Toefl e Ielts. Por ora, a companhia não revela os resultados da primeira empreitada. Mas já prepara outra.

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Já está pronto um sistema que permitirá inserções patrocinadas na plataforma. É coisa sútil. Em tese, os anunciantes vão aparecer no contexto das lições. Um exemplo: um exercício com o texto em inglês “I want a soda?” poderia ser substituído por “I want a Coke?” “Do ponto de vista das empresas, é um momento muito bom para ter contato com o usuário, porque ele está totalmente concentrado na plataforma”, diz Gina.

O Google Capital diz não ter pressa para colher os frutos do investimento. “Somos investidores de longo prazo. Temos paciência para esperar e construir parcerias com empreendedores que podem provocar grandes transformações”, diz Laela. Mas admite, é claro, que a oportunidade é boa: “Estamos estusiasmados com o crescimento do seviço, com o engajamento dos usuários, com o valor que ele oferece. Uma vez que a plataforma atua em um mercado muito grande, as perspectivas de monetização são boas.” Engajamento, aliás, é uma arma do Duolingo, com mecânica típica de games, como o avanço em etapas e os desafios entre amigos – em breve, os usuários vão ganhar avatares. Entre os 100 milhões de cadastrados, cerca de 15% usam a ferramenta ao menos uma vez ao mês, taxa superior à considerada média para cursos on-line, em torno de 7%.

Os números são atraentes, mas uma indagação é inescapável: quanto o Duolingo pode ajudar os usuários? Para Gina, o serviço permite avançar até o nível intermediário de domínio de outra língua, que permite comunicar-se: entender e ser entendido. O desafio é dar fluência. “Nenhuma plataforma pode fazer isso hoje”, diz. “Nossa meta é oferecer uma experiência similar a ter um tutor.” Os benefícios, contudo, já estão constatados. Segundo estudo realizado de forma independente na City University of New York que analisou o curso de espanhol, 34 horas de atividade no Duolingo equivalem a um semestre inteiro de aprendizado em uma universidade americana.

Os desafios são grandes. O potencial, idem. Tanto assim que, para Laela, do Google Capital, a grande missão do Duolingo nos próximos anos é evitar as tentações: “O maior desafio será manter o foco. Eles têm muitas oportunidades, como, por exemplo, desbravar novos territórios ou lançar novos produtos. Por isso, o grande desafio será o manter o foco em ações que façam o negócio central crescer.”

numeros duolingo
numeros duolingo (VEJA)
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