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Confiança, o motor das manifestações nas redes sociais

Episódios recentes que se espalharam pelo Brasil ajudam a revelar as razões do sucesso de Facebook, Twitter e similares nessas situações: as redes se alimentam do crédito que usuários conferem uns aos outros

Por Rafael Sbarai e Renata Honorato
21 jun 2013, 11h38

Marco Gomes, de 26 anos, fundador da empresa especializada em publicidade on-line Boo-Box, participou de dois dos seis recentes protestos realizados em São Paulo que exigiam a redução do valor das tarifas de ônibus, trens e metrô. Em uma das passeatas, entre milhares de manifestantes, deparou-se com uma dificuldade: como encontrar informações precisas sobre o que acontecia ao redor? A saída foi sacar o smartphone e lançar mão do Ushahidi, plataforma pouco conhecida no país que reúne testemunhos geolocalizados de usuários. Com a ferramenta, Gomes colocou no ar um mapa colaborativo que oferecia informações preciosas naquela situação: onde havia postos médicos, conexão Wi-Fi e também confusão – saber por onde andavam os vândalos que se misturaram aos protestos foi, é claro, fundamental. Para dar credibilidade às informações, três moderadores voluntários checavam as postagens. Em dois dias, o serviço foi visitado mais de 15.000 vezes. No Twitter brasileiro, ele se tornou um dos dez usuários mais influentes nos últimos dias.

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Sem tanto conhecimento técnico à disposição, mas mergulhada nas mesmas manifestações, gente como o gerente de projetos Ian Thomaz, de 29 anos, e a analista de marketing Olivia Tomazela, de 25 anos, também navegou pelos protestos com ajuda das redes. Para Thomaz, o aplicativo de comunicação instantânea WhatsApp (além de Facebook e Twitter) foi uma espécie de GPS nas andanças pela capital paulista. Pelo app, ele compartilhou (produziu e consumiu) informações sobre o que acontecia nas ruas. “Foi uma maneira eficiente de organizar roteiros e conhecer rotas de fuga em caso de confusão”, diz. Olivia fiou-se no Twitter para escolher seu trajeto na segunda-feira. “Usei o mecanismo de busca do microblog: quando eu via muitos tuítes com relatos semelhantes publicados por usuários diferentes, sabia se havia ou não uma situação de risco pela frente, por exemplo”, afirma.

Mais gente nas redes, mais gente nas ruas de São Paulo

Número de participantes das manifestações é proporcional ao de usuários do Facebook que mostraram simpatia pelos eventos

Fonte: Facebook, Polícia Militar e Datafolha

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Desde de explosão da Primavera Árabe, já está claro que as redes sociais ajudam a organizar manifestações públicas numerosas. O que o episódio paulista ajuda a revelar são as razões do sucesso de Facebook, Twitter e congêneres nessas situações: as redes alimentam a confiança entre usuários. No caso de Thomaz, confiança nos velhos amigos, gente com quem ele já mantinha contato nos mundos real e virtual (pelo WhatsApp); no caso de Olivia, fé em novos amigos, pessoas com quem ela nunca havia falado (e que provavelmente nunca verá), mas que compartilhavam a mesma experiência.

Há sempre um risco embutido no contato com desconhecidos. As redes sociais minimizam esse risco por serem um ambiente virtual e porque o vínculo com estranhos tende a ser mediado por uma cadeia de gente mais ou menos próxima. Assim, vem à tona o benefício daquilo que o o sociólogo americano Mark Granovette, professor da Universidade Stanford, chamou de “laços fracos”.

Granovette tentou desvendar, nos anos 70 e 80, muito antes do nascimento das atuais redes sociais, por que em determinadas situações as pessoas se sentem inclinadas a confiar em desconhecidos, como fizeram Olivia e tantos outros manifestantes. Segundo o teórico, em geral, recebemos informações (e a elas damos crédito) de pessoas com quem mantemos relações intensas e frequentes. Esses laços ajudam a estabilizar e reconfirmar crenças: nas rodas de amigos, assuntos e pontos de vista tendem a se repetir. Por outro lado, os laços fracos – mantidos com pessoas muitas vezes desconhecidas ou com quem nos relacionamos com pouca frequência e intensidade – são fundamentais para obtermos informações novas, pontos de vista que não costumam circular entre nossos amigos.

O contato com pessoas desconhecidas traz como o benefício o acesso a informações que de outra forma estariam fora do alcance – e as redes sociais oferecem um ambiente seguro para que esse intercâmbio aconteça. “Os usuários das redes depositam confiança em outras pessoas por acreditar que vão receber algum benefício em troca”, diz a pesquisadora de redes sociais Raquel Recuero, da Universidade Católica de Pelotas. “Nesses casos, o benefício é a informação.” O bem é especialmente valioso em manifestações como as vistas no Brasil nos últimos dias, em que houve mobilizações instantâneas, mudanças de rota imprevistas e confrontos de rua.

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A troca de informações durante os protestos paulistas contou ainda com ajuda de gente como o artista visual Rodrigo Guima, de 31 anos. Ele criou pontos de apoio próximos às rotas das passeatas na segunda-feira, quando ocorreu o maior movimento. Suas ferramentas: Facebook e WhatsApp. “Reunindo cerca de 30 pessoas, colocamos à disposição conexão à internet”, diz. Quem tinha dificuldades para obter acesso à rede 3G durante a manifestação pela cidade, conseguia ali conexão e, portanto, informação. A localização do posto era disseminada pelas redes. Isso permitiu a muita gente saber o que acontecia enquanto protestava.

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