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Carona 2.0: será que pega no Brasil?

Em ascensão nos Estados Unidos, programas que facilitam a prática desembarcam no país — e devem enfrentar desafios bem brasileiros

Por Renata Honorato e Claudia Tozetto
11 jan 2014, 14h37

Apontar o polegar para o destino desejado tem um significado universal: pedir carona. Agora, os dedinhos podem fazer outro movimento: clicar em um aplicativo. Os serviços que colocam em contato quem busca e quem oferece carona aceleram nos Estados Unidos e desembarcam no Brasil. Para ganhar popularidade em solo nacional, contudo, terão de enfrentar desafios bem brasileiros.

Os primeiros aplicativos de carona – ou ride-matching, em inglês – foram desenvolvidos no Vale do Silício, coração do setor de inovação nos Estados Unidos. Por causa da escassez de táxis em São Francisco, programadores criaram soluções capazes de colocar em contato proprietários de veículos e pedestres que rumavam na mesma direção. Assim nasceu o Uber, pioneiro nesse segmento (confira outros serviços na lista abaixo). O motorista interessado se cadastra no serviço e, do outro lado, os interessados na carona usam o sistema de geolocalização do programa para encontrar o carro mais próximo. Não é questão de camaradagem. Ou, ao menos, não só. Há pagamento envolvido na operação. Os caronistas remuneram os motoristas de acordo com tarifas pré-estabelecidas e o dono do app fica com uma comissão.

O consultor do mercado de celulares americano Benjamin Jackson, de 32 anos, morador de Nova York, é um entusiasta da prática de ride-matching. Ele afirma já ter usado diferentes aplicativos com o mesmo propósito em várias cidades dos Estados Unidos. “No caso do Uber, você pede o carro pelo celular e consegue acompanhar, via GPS, a chegada do veículo. Os carros são muito bons e oferecem água gelada e docinhos. Você fica sabendo do valor da corrida no final do trajeto. O pagamento é feito pelo aplicativo”, diz Benjamin ao site de VEJA. Continue a ler a reportagem

O app Lyft é outra opção. Ao contrário do rival Uber, não estabelece uma tabela fixa de preços para as viagens: é o passageiro quem decide o quanto vale a corrida. O cálculo sugerido é o seguinte: quanto mais agradável for a viagem, maior a remuneração. O também americano Adrian Perez, de 23 anos, usa o Lyft para complementar sua renda na cidade de São Francisco. “Faturo em média 20 dólares por hora. Mas isso não é tudo: os passageiros são muito legais e é fácil engatar uma conversa com eles”, diz o programador. Dinheiro e boa conversa são pontos positivos dos aplicativos de carona. Podem ainda, acrescenta o americano, ajudar a combater a praga dos congestinamentos nas grandes cidades. “Mas não são a solução definitiva para eles”, diz. Difícil discordar.

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A carona como modalidade de “transporte sustentável” é tema de muitos estudos nos Estados Unidos. Segundo pesquisa realizada pela Universidade de Berkeley, o número de pessoas que pegam carona no país cresceu oito vezes entre 2005 e 2012, passando de 100.000 para 800.000. O número de motoristas dispostos a compartilhar o carro também cresceu no mesmo período: de 2.000 para 12.000. São cifras relativamente modestas para uma nação de 300 milhões de pessoas. Ainda assim, os aplicativos estão fazendo sua parte. Segundo o dado mais recente disponível, O Uber registrava em novembro de 2013 cerca de 887.000 corridas por semana nas sessenta cidades em que opera em todo o mundo. No mesmo período, faturou 22 milhões de dólares.

Se o negócio continuar crescendo, é certo, segundo estudos, que haverá benefícios. De acordo com pesquisa publicada no periódico Energies, a adoção esporádica da carona na cidade de São Francisco representaria uma economia de 1,8 milhão de litros de gasolina por ano. Por isso, movimentos como o Ridesharing Institute, que incentivam a carona, querem ampliar a prática, retomando números da década de 1980, quando 20% dos americanos usavam carona para ir trabalhar.

No Brasil, diferentes grupos trabalham com o mesmo horizonte: incentivar a carona para reduzir congestionamentos e a poluição atmosférica em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. “É preciso induzir uma mudança de comportamento e incluir no vocabulário das pessoas a palavra ‘carona’. Está provado que a tecnologia pode contribuir para isso”, diz Ana Lycia Gayoso, coordenadora do movimento Rio Eu Amo Eu Cuido. A Prefeitura Municipal do Rio apoia. “Estudos da CET-Rio apontam que nos horários de pico a média é de apenas 1,4 passageiro por carro. Se cada veículo levasse duas pessoas, isso já teria impacto positivo no trânsito da cidade, além de representar redução de 25% na emissão de poluentes”, afirmou em comunicado enviado a VEJA.com a Secretaria Municipal de Transportes do Rio.

Por aqui, a carona 2.0 é incipiente. Mas já possível prever que o modelo enfrentará desafios – os mesmos enfrentados pela modalidade tradicional. Um deles são os hábitos locais; outro, a segurança. A especialista em saúde pública Sandra Costa de Oliveira se dedica ao assunto na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), observando particularmente o comportamento das pessoas que não oferecem ou pegam carona. “Por aqui, as pessoas gostam muito de usar o carro sozinhas, pois isso lhes garante privacidade. Quando dão carona, elas não sabem como o passageiro vai se comportar”, diz Sandra. A preocupação com a segurança é outra evidência surgida dos estudos. “Existe grande apreensão entre as pessoas em relação a assaltos e violência. Por isso, os brasileiros devem ser mais cautelosos na adoção das ferramentas virtuais.”

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Os donos dos aplicativos, porém, não parecem convencidos de que o Brasil pode não ser simpáticos a seus produtos. Em fevereiro, o país receberá o Zaznu (“partiu”, em hebraico), app para iPhone e Android similar ao Lyft. O serviço opera em versão beta no Rio com vinte motoristas cadastrados. São Paulo será o próximo destino. Segundo Yonathan Yuri Faber, fundador do programa, o objetivo é oferecer uma alternativa de locomoção a turistas que virão ao Brasil durante a Copa do Mundo e Olímpiada. “Nosso plano é oferecer o app em dez cidades-sede da Copa. Depois, vamos expandir para alguns países da Europa”, diz Faber.

Para enfrentar o desafio da segurança, o Zaznu promete redobrar a cautela no cadastro dos motoristas. “Todos os parceiros serão entrevistados e terão de apresentar um atestado de antecedentes criminais”, afirma Faber. Acostumado a usar o Uber nos Estados Unidos, o publicitário Marcelo Tripoli, de 36 anos, não parece tão otimista: “Segurança é um problema no Brasil. Acho que esses aplicativos teriam mais êxito em pequenas cidades e não em grandes metrópoles como São Paulo e Rio.” Os apps vão descobrir, nos próximos meses, se a tese é ou não correta.

A evolução da carona nos Estados Unidos

O sobe e desce desde a década de 1940

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