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Sonhada tradução simultânea via celular chega em 2011

O brasileiro, diretor de produtos para mobile do Google, revela que aplicativo que dá suporte à tradução voz-a-voz será lançado com até seis idiomas

Por Renata Honorato
6 nov 2010, 13h13

Você já imaginou como seria fazer uma ligação telefônica para a China e manter uma conversa com um chinês? Detalhe: cada um usando seu idioma nativo. O tradutor universal, idealizado por Douglas Adams no livro O Guia dos Mochileiros das Galáxias, enfim está a caminho e já tem data certa para estrear: 2011. O responsável pelo feito é o Google. Por trás da tecnologia, há um mineiro, Hugo Barra. Diretor de produtos voltados à telefonia móvel, o engenheiro, formado pelo prestigiado Massachusetts Institute of Technology (MIT), trabalha no desenvolvimento do software que pode diminuir as barreiras linguísticas. Seu funcionamento será simples e se dará por meio do aplicativo Google Translate, já disponível para usuários do sistema operacional Android e iOS4 (iPhone). Confira a seguir, a entrevista que Barra concedeu ao site de VEJA.

Quando, enfim, a tecnologia de tradução de voz para voz estará disponível?

No começo de 2011. Talvez até um pouco antes. O primeiro produto é muito claro. Na Android Market já existe o aplicativo do Google Translate, que funciona com entrada de voz para os idiomas espanhol e inglês. O software ainda não faz a tradução simultânea em ambos os sentidos, mas já entrega um texto traduzido. O que estamos fazendo agora é adicionar o que chamamos de “conversation mode”, uma ferramenta que permitirá a entrada e saída de voz.

O aplicativo dará suporte a quantos idiomas?

Ainda estamos decidindo quantos idiomas estarão na versão de lançamento, mas provavelmente teremos cinco ou seis. Vale dizer, no entanto, que adicionaremos mais idiomas rapidamente, assim que a tecnologia estiver no ar.

Qual é o mecanismo por trás desse sistema de tradução?

É mágico. O usuário fala, o sistema abre um canal de dados com o servidor e começa a enviar o áudio, que será reconhecido por uma dezena de computadores. Ao reconhecer o conteúdo da fala, os computadores transformarão o áudio em texto. Esse material, então, será enviado para um outro cluster – conjunto de unidades de processamento -, responsável pela tradução para o idioma escolhido. Outras máquinas, os sintetizadores de voz, transformarão o texto em áudio e enviarão a conversa para o celular. Tudo isso acontece em dois décimos de segundo. O processo é simples.

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Hugo Barra mostra nova tecnologia em Berlim
Hugo Barra mostra nova tecnologia em Berlim (VEJA)

O senhor esteve recentemente no Brasil para anunciar dois lançamentos do Google: a busca por voz e o GPS baseado no Google Maps, ambos disponíveis nos Estados Unidos havia tempos. Por que alguns serviços demoram tanto para chegar ao Brasil?

É muito simples. Lançar um produto no Brasil exige uma quantidade extra de trabalho, assim como lançar em qualquer outro país. Em alguns casos, a tarefa adicional é pequena, mas em outros é gigantesca. No caso dos serviços que lançamos recentemente, o trabalho adicional foi muito grande. A pesquisa por voz exigiu que coletássemos centenas de milhares de exemplos de falas brasileiras, no intuito de que o sistema reconhecesse todos os sotaques do país. Há ainda outra razão: quantos usuários de smartphones existem no Brasil? Em outros países, o número é muito maior. É por essa razão que trabalhamos com prioridades. No Brasil, o preço do smartphone é muito elevado, mas o cenário está mudando: 2011 será o ano do mobile no país. O Android, sistema operacional do Google para celulares, está entrando com força no mercado e hoje já é possível comprar um aparelho pré-pago por 500 reais. Os pacotes de dados também estão ficando mais acessíveis, o que significa que o Brasil subirá na nossa lista de prioridades.

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O banco de dados da pesquisa por voz ajudou de alguma forma o desenvolvimento da ferramenta de tradução simultânea?

Ajudou absurdamente. Essa é a razão pela qual sempre lançamos um sistema de busca na internet primeiro. Descobrimos, por exemplo, que, quando fazem buscas no celular usando os comandos de voz, os usuários usam frases muito longas, semelhantes às usadas durante uma conversa. Conhecer isso nos ajudou muito.

O Android tem diferentes versões, o que tem dificultado a atualização do sistema operacional em alguns aparelhos e em algumas operadoras. O Google pensa em encontrar uma solução para isso?

Isso é um mito. Do ponto de vista do usuário, não existe essa fragmentação do programa. Cerca de 99% das aplicações rodam em todos os aparelhos. O problema de atualização é praticamente limitado à primeira e à segunda versão do software (1.0 e 1.5). Na versão 2.0, que já está no mercado há um ano, esse problema não existe mais. Estamos, inclusive, trabalhando em um projeto para ajudar as operadoras a atualizarem os sistemas operacionais com mais agilidade.

Por que o Google não desenvolve um navegador Chrome para celular?

O Chrome e o navegador do Android são webkit, ou seja, foram desenvolvidos em uma plataforma aberta. Isso significa que o “coração” deles é praticamente o mesmo. A única diferença está na interface de cada um. Como o sistema Android é aberto, não achamos interessante inserir a marca do Google em seu navegador. Trata-se de uma decisão estratégica. Isso permite que qualquer pessoa ou companhia use o sistema como quiser, sem se preocupar com a marca Google.

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O senhor estudou em uma das universidades mais renomadas do mundo, o MIT. Como surgiu a ideia de fazer faculdade nos Estados Unidos?

O MIT é a universidade mais renomada no mundo. Sejamos claros. Eu sou mineiro, de Belo Horizonte, e estudei em um colégio que nunca teve tradição de preparar alunos para fazer cursos no exterior. Estava no último ano do ensino médio e um amigo mais velho, com quem jogava uma partida de tênis, falou sobre o Media Lab, do MIT. Ele acabou me vendendo a ideia e, a partir daquele momento, fiquei completamente obcecado em estudar naquele lugar. Fiz cursinho pré-vestibular e prestei engenharia em algumas universidades brasileiras. Passei e comecei a estudar na UFMG. Já na primeira semana de aula eu estava me dividindo entre os cálculos e os testes do MIT. Enviei os documentos para os Estados Unidos, mas não consegui entrar. Passei mais nove meses estudando e então fui aceito pela universidade. As faculdades americanas procuram diversidade e o fato de ter estudado em uma escola brasileira me ajudou bastante. Comecei no MIT em 1996.

O senhor já trabalha no Google há quase três anos. Como surgiu o convite?

Mário Queiroz, que está há mais tempo na empresa, me ligou dizendo que estava buscando alguém para tocar os produtos da companhia na América Latina. Eu disse que a oportunidade era legal, mas que preferia lidar com mobile. A proposta caiu como uma luva: eles também estavam atrás de uma pessoa para liderar o setor móvel na empresa. Fiz duas entrevistas e tirei três semanas de férias para me preparar para o processo de seleção. Fui aceito pelo Google e me mudei para Londres. Nossa equipe hoje é composta por 300 engenheiros e 25 gerentes de produto.

Por que a equipe mobile do Google fica na Grã-Bretanha e não nos Estados Unidos?

É uma boa pergunta. Na época em que o grupo começou, a Europa estava na frente em termos de penetração de celular. Por volta de 2008, no entanto, o cenário já era outro: Estados Unidos e Japão lideravam. Continuamos com o polo aqui por causa da localização, já que estamos entre a América e a Ásia.

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