Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Testes para detectar câncer de ovário não são efetivos

Especialistas dizem que as técnicas de diagnóstico não reduzem mortalidade e podem levar a falsos positivos, expondo pacientes a cirurgias desnecessárias

Por Guilherme Rosa
13 set 2012, 10h04

O câncer de ovário é o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado e o de menor chance de cura – cerca de 3/4 dos casos desse tipo de câncer já estão em estágio avançado no momento do diagnóstico. No entanto, especialistas americanos não recomendam que mulheres saudáveis façam os testes disponíveis para a detecção do tumor. Segundo o U.S. Preventive Services Task Force, grupo de trabalho que analisa as evidências científicas e faz recomendações para os serviços governamentais de prevenção, esses testes não são efetivos e podem até ser prejudiciais às mulheres.

Por sua localização, o câncer de ovário é extremamente difícil de detectar, impedindo o diagnóstico precoce. Os exames normalmente usados para descobrir sua presença são a análise do sangue para encontrar marcadores biológicos vinculados ao câncer e a ultrassonografia dos ovários. No entanto, quando aplicados em mulheres saudáveis, eles não reduzem a mortalidade da doença.

Além disso, estes procedimentos produzem muitos falsos positivos, que podem levar a cirurgias desnecessárias. “Não existe um método eficaz de detecção do câncer de ovário que permita reduzir a mortalidade”, afirma Virginia Moyer, presidente do grupo. “De fato, uma grande porcentagem das mulheres que passam pelos testes recebem resultados positivos falsos e podem passar por cirurgias desnecessárias.”

Leia também:

Pílula diminui pela metade risco de câncer de ovário

Gordura abdominal pode ajudar a espalhar câncer de ovário

Continua após a publicidade

Recomendações parecidas já foram feitas por outras entidades americanas, como a American Cancer Society e o American Congress of Obstetricians and Gynecologists. No Brasil, nenhum dos procedimentos é recomendado pelo Ministério da Saúde ou pelo Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Os cientistas recomendam que os testes só devem ser feitos em mulheres que apresentem sintomas da doença ou mutações em genes ligados ao câncer, como o BRCA 1 e o BRCA 2. Nesses casos, eles podem ajudar os médicos a acompanharem os resultados do tratamento e o avanço da doença.

O câncer de ovário é bastante raro. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer estima que teremos 6.190 novos casos em 2012. Em 2010, 2.979 mulheres morreram por causa da doença.

Opinião do especialista

Jesus Paula Carvalho

Chefe da equipe do de ginecologia oncológica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e professor da Faculdade de Medicina da USP

“Não existe nenhum método de diagnóstico precoce do câncer de ovário que seja recomendado. Não conheço nenhum país do mundo que recomende o teste de sangue e o ultrassom em mulheres saudáveis. Infelizmente, quando uma mulher nos pergunta se existe algum modo de detectar o câncer antes dele se espalhar, nosso resposta é negativa.

“Quando a mulher percebe os sintomas do câncer de ovário, ela já está em estágio avançado da doença. O tratamento deve ser cirúrgico e quimioterápico. Na mulher com os sintomas, esses testes de sangue e ultrassonografia têm validade para confirmar o diagnóstico e para orientar os médicos durante o tratamento.

“Em junho de 2011 foi realizado um estudo com 79.000 mulheres, para testar os métodos de rastreamento de câncer. Por causa deles, 1.800 das voluntárias tiveram de passar por cirurgia para tratar o câncer de ovário. No entanto, não houve nenhuma diferença na mortalidade por conta da doença entre as pacientes que fizeram parte do estudo e as que não fizeram. Mais de uma centena de mulheres tiveram complicações por causa da cirurgia.

“Pelo menos 10% dos casos de câncer de ovário são causados por alterações genéticas e estão ligados ao histórico familiar. Quando uma mulher tem história familiar sugestiva, com parentes que tenham tido esse tipo de câncer, ela passa a ser suspeita de ter a mutação nos genes. O ideal é que ela procure por aconselhamento genético. Se a mulher tiver uma mutação comprovada, os médicos irão recomendar a remoção do ovário.

Continua após a publicidade

“O câncer de ovário mais comum é causado pelo carcinoma seroso de alto grau. Durante décadas, os pesquisadores acharam que ele surgia no ovário. De alguns anos para cá, no entanto, novos estudos têm mostrado que a célula que dá origem ao carcinoma surge na tuba uterina. Quando o câncer chega no ovário, ele já está em metástase. Esse é um conhecimento muito novo, é a nova fronteira da pesquisa contra o câncer de ovário. Talvez o caminho para um método de prevenção seja a busca de mutações genéticas na tuba uterina. Acredito que nos próximos anos vão surgir testes moleculares para encontrar o câncer de ovário antes dele entrar em metástase.”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.