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Pesquisas definem o perfil do usuário de crack

Resultados de estudos encomendados pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria Nacional Antidrogas vão orientar ações para combater a droga

Por Natalia Cuminale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 Maio 2016, 16h35 - Publicado em 5 nov 2011, 16h18

O usuário típico de crack é pobre, tem baixa escolaridade e possui entre 20 e 40 anos de idade. Ele gasta todo o dinheiro que tem para consumir a droga, não tem acesso a tratamento e não costuma abandonar o vício por problemas de saúde. Sabe-se ainda que a droga não se concentra apenas nas grandes metrópoles – ela está se espalhando por áreas em que não aparecia antes, como cidades do interior do Nordeste. É o que mostram os dados preliminares de três pesquisas diferentes em fase de conclusão, apresentados durante o Congresso de Psiquiatria, no Rio de Janeiro.

Opinião do especialista

Ronaldo Laranjeira

Diretor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas (Inpad), coordenador do Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas(Uniad) e autor de uma das poucas pesquisas sobre o crack no Brasil

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“O crack é uma epidemia. Mas a Senad e o Ministério da Saúde dizem que não é. Ou eles não sabem o que é epidemia, ou não sabem o que está acontecendo no Brasil.

A pesquisa da FioCruz só observou o surgimento das cracolândias e não buscou comparar para saber se houve um aumento no número de casos no país. Infelizmente, acredito que se gastou muito dinheiro com pesquisa e investiu-se pouco em ação. Esses estudos não serão a revolução para a política de crack no Brasil.

Minha pesquisa mostrou que um terço dos jovens morre após cinco anos de uso de crack. Eles precisam de assistência. A pesquisa pode até direcionar ações políticas. Mas o que é mais urgente?

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Enquanto isso, há uma semana, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou uma ‘caravana do crack’, que vai mobilizar e alertar a população sobre os perigos da droga. Medidas políticas são tomadas. Ninguém anuncia, contudo, nenhum novo investimento para aumentar a capacidade assistencial.”

Os levantamentos foram encomendados pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), como parte do Plano Integrado para Enfrentamento do Crack e outras drogas. O objetivo é orientar ações e políticas públicas de prevenção a partir da criação de um grande banco de dado com um mapeamento da situação atual droga no país e do perfil dos usuários. A princípio, a divulgação dos resultados oficiais e completos estava prevista para o início deste ano. Ainda não há previsão de divulgação.

O primeiro estudo traça um perfil do usuário de crack que busca tratamento nos Centros de Atenção Psicossociais – Álcool e Drogas (CAPS-AD). O levantamento foi realizado em seis capitais brasileiras. Dados preliminares de 182 usuários de crack de Porto Alegre mostraram que quem busca ajuda para largar a droga tem entre 20 e 40 anos, tem baixa renda e baixa escolaridade. A maioria deles teve problemas com a família e sofreu abuso ou negligência. Além disso, 42% continuam usando a droga apesar dos problemas de saúde que ocorrem em decorrência dela.

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A segunda pesquisa refere-se a um levantamento nacional com cerca de 1.000 mapas que apontam onde estão localizados os usuários da droga. Parte deles consome a droga em ‘cracolândias móveis’, ou seja, mudam de ambiente por influência de confronto entre gangues ou ação pontual da polícia. Segundo Francisco Inácio Barros, autor da pesquisa realizada pela FrioCruz, os mapas vão ser utilizados para nortear as políticas públicas para as áreas mais críticas. “O estudo vai desagradar os dois extremos. Por um lado, mostramos que houve um avanço do crack em algumas regiões onde ele não estava. Por outro, não podemos afirmar que o Brasil é um conjunto de cracolândias”, diz Barros.

Descobriu-se também que o comportamento de cada um deles pode variar de acordo com a região. É o que sugere a terceira pesquisa, realizada a partir de uma parceria entre a Universidade Federal da Bahia e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Por exemplo, os dependentes químicos do Rio de Janeiro moram na rua, não trabalham e consomem o crack em um copo de plástico. Já os usuários de crack de Salvador moram em uma casa, trabalham e misturam a droga com maconha.

No total, foram estudados 80 usuários de crack de Salvador e 80 do Rio de Janeiro. O município de Macaé também faria parte da pesquisa, mas foi excluído devido às dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores em entrevistar os usuários de drogas.

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“O objetivo da pesquisa é descobrir qual o perfil do usuário, como ele chega aos serviços públicos, quais são as barreiras e o que poderia facilitar o acesso”, explica Marcelo Santos Cruz, coordenador do Programa de Estudos e Assistência ao Uso Indevido de Drogas (Projad) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Além disso, a pesquisa busca saber padrões de consumo, histórico social e médico – foram colhidos exames para diagnóstico de HIV e de hepatite C. “O que podemos antecipar é que é baixíssimo o acesso dessas pessoas aos serviços disponibilizados”, diz Cruz.

Outra pesquisa será iniciada para ajudar a formar esse amplo material sobre o usuário de crack no Brasil. Segundo Marcelo Ribeiro de Araújo, da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas, o objetivo é conhecer o perfil de quem frequenta os centros que recebem viciados em drogas, também conhecidos como comunidades terapêuticas. No total, 1000 pessoas participarão do estudo, que será realizado em 7 estados e no Distrito Federal. Os resultados devem ser publicados no fim de março de 2013. “Queremos fazer um perfil sócio-demográfico. Precisamos entender como é o comportamento dos usuários de crack para construirmos serviços que correspondam às necessidade deles. Assim será possível agir preventivamente”, diz Araújo.

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