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Pai do Projeto Genoma, Craig Venter agora quer imprimir vacinas em casa

Um dos responsáveis pelo sequenciamento do genoma humano, Craig Venter antecipa inovações biotecnológicas e afirma que remédios personalizados e fabricados em casa serão comuns no futuro

Por Olívia Fraga, de Nova York
4 nov 2012, 14h34

O mundo imaginado por Craig Venter, um dos pais do Projeto Genoma, tem um quê de ficção científica. Compreensível para quem já realizou feitos como sequenciar o código genético humano e produziu “vida artificial”, ao implantar o genoma de uma espécie de bactéria em outra, que passou a “agir” como a primeira. As duas coisas eram impensáveis – até ele fazer. Ele mesmo costuma dizer, vangloriando-se: “Tudo que eu previ aconteceu.” Na metade de outubro, durante a conferência Living by Numbers, promovida pela revista americana Wired, em Nova York, ele voltou a propôr ideias com jeito de ficção.

Venter anunciou a construção de uma máquina que deve ser enviada a Marte para identificar traços de DNA no solo. Uma colaboração entre o Instituto John Craig Venter e a Synthetic Genomics (outra empresa de Venter, criada em 2005) está desenvolvendo o aparelho, com testes já em curso no deserto de Mojave, na Califórnia.

Ele também garantiu que, compilando as informações genéticas de cada pessoa, será possível a fabricação doméstica de drogas personalizadas e vacinas em equipamentos de impressão 3D. Isso faz parte de seu novo grande desafio, fazer com que a informação digital passe para o nível biológico: da leitura do DNA para a produção de anticorpos e a criação de vacinas. Cientistas já imprimiram, nesse tipo de equipamento, vasos sanguíneos e ossos. Segundo o projeto que Venter vem testando junto com sua equipe, será quase a mesma coisa que baixar um programa de computador. A impressora 3D, que normalmente carrega resinas e polímeros em seus cartuxos, será abastec ida com componentes biológicos para fabricar os medicamentos de maneira exata, seguindo as instruções que vieram pela internet.

E ainda pode funcionar no sentido contrário. Em um cenário de pandemia, quem estiver no epicentro da infecção poderá enviar informações sobre o vírus ou bactéria para cientistas do mundo todo, que poderão imprimir em seus laboratórios algo que não poderia, de outra forma, ser transportado de forma rápida e segura. Depois da conferência, Craig Venter conversou com o site de VEJA por e-mail.

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O senhor afirma que a fabricação de remédios e vacinas personalizadas em impressoras 3D é “o caminho da medicina agora”. Por quê? A capacidade de enviar informação biológica por meio de computadores abre um novo caminho para a medicina. Enviar e receber vacinas, por exemplo, poderia evitar futuras pandemias. Seria um método bastante poderoso para combater novas doenças infecciosas, numa época em que elas estão em ascensão. Ajudaria, também, a equilibrar as condições de saúde pública entre diversos países, amenizando as disparidades que se observam hoje. Existem obstáculos de regulação, obviamente. Salvaguardas importantes têm de ser postas me prática para garantir um modo de transmissão de vacinas que seja seguro e eficaz. Mas acredito que já temos tudo que é necessário para seguir nesse caminho.

Seu maior feito até agora foi o sequenciamento do código genético humano. Que resultados médicos práticos já apareceram a partir dessa pesquisa? O resultado prático mais importante até agora é uma maior compreensão da nossa própria biologia. Com mais dados acumulados através do sequenciamento de genomas humanos individuais, seremos capazes de usar essas informações para desenvolver terapias baseadas em perfis genéticos individuais, ou seja, drogas que atuam em grupos de indivíduos , com base em marcadores genéticos que lhes são específicos. Já é possível ver algumas dessas inovações chegar ao mercado. Uma nova droga para tratamento de câncer de pulmão, o crizotinib, por exemplo. Como o sequenciamento genômico tem barateado – quando começamos, custava 3 milhões de dólares; hoje, são 400.000 – e se tornado mais preciso, o passo seguinte é o sequenciamento fazer parte da rotina de registro médico de todos.

Mas ainda assim são 400.000 dólares. Como baratear os custos do sequenciamento? Estamos chegando lá com uma nova geração de máquinas de sequenciamento. Mas ainda não tivemos progresso na conjugação preço-acuidade. E só com qualidade no sequenciamento poderemos usar a genética para diagnósticos médicos e terapias.

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Se pudesse prever, em quanto tempo veremos sequenciadores bons e baratos? Dentro de sete anos, talvez cinco. Garanto.

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