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Dividir para ganhar

Gigi Hirsch, diretora executiva Centro de Inovação Biomédica do MIT (Massachusetts Institute of Technology), convenceu as principais indústrias farmacêuticas do mundo a liberarem seus segredos. Em troca, elas gastarão menos dinheiro para criar novos medicamentos

Por Olívia Fraga, de Nova York
4 nov 2012, 14h33

Gigi Hirsch quer revolucionar o modo como os remédios são desenvolvidos. Ela é coordenadora do Newdigs (New Drug Development Paradigms), uma espécie de fórum que reúne médicos, pacientes, órgãos de regulamentação de todo o mundo (a Agência Europeia de Medicamentos – EMA – faz parte do Newdigs) e gigantes da indústria farmacêutica como Pfizer, Sanofi, Merck, Bristol-Meyers Squibb, Johnson & Johnson e GlaxoSmithKline.

A ideia por trás do projeto, criado no Centro de Inovação Biomédica do MIT (Massachusetts Institute of Technology), do qual Gigi é diretora executiva desde 2006, é criar maneiras de desenvolver medicamentos de modo mais flexível e rápido, mas sem colocar em risco sua segurança e eficácia. Há uma intensa troca de informações entre os membros do projeto para alcançar o objetivo.

Nenhuma dessas empresas está interessada apenas em filantropia. Em um cenário no qual a criação de novas drogas pode consumir centenas de milhões de dólares, a proximidade com agências reguladoras é bem vinda. Isso significa, na outra ponta, para os pacientes, remédios mais baratos e que chegam às farmácias em menos tempo. “É importante democratizar as informações porque é muito mais econômico. Dizer abertamente ao público e aos seus pares o que não dá certo antecipa o desenvolvimento de drogas mais eficazes, em busca de um bem maior.”

Formada em psiquiatria na Escola de Medicina de Harvard, Gigi participou da conferência Living by Numbers, promovida pela revista americana Wired, em Nova York, e falou ao site de VEJA por telefone sobre a árdua tarefa de convencer as empresas a contarem seus segredos de propriedade comercial e intelectual com o propósito de salvar vidas.

Que argumentos a senhora usa para convencer laboratórios a participarem de uma mesa redonda sobre desenvolvimento de remédios? Não é só bondade. É dinheiro, claro. Cada nova droga custa, pelo menos, 800 milhões de dólares às indústrias. Se as empresas não querem mais dispender tanto dinheiro assim, elas precisam dialogar mais, abrir o jogo. É importante democratizar as informações porque, em última instância, é muito mais econômico. Dizer abertamente ao público e aos seus pares o que não dá certo antecipa o desenvolvimento de drogas mais eficazes, em busca de um bem maior.

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Mas é uma mudança de base em um modelo de negócio que só funciona com sigilo e confidencialidade. A indústria farmacêutica é cara, tem gastos altos. O que nós vemos é uma fratura no sistema que existe. Ele não é mais sustentável. Os custos são estratosféricos. Ninguém está satisfeito: a concorrência é desmedida, as pessoas morrem sem atendimento, os médicos estão à mercê dos lobbies, os órgãos reguladores são lentos e os pesquisadores muitas vezes não têm acesso às decisões superiores e abandonam ideias antes mesmo de elas serem testadas – ou então seguem com pesquisas furadas. A cadeia não funciona.

E qual é o papel do público? O Newdigs também chama pacientes para o diálogo? Nos encontros que promovemos, todos estão presentes: médicos, órgãos do governo, indústria, população. Veja, por exemplo, o que ocorreu com a aids. Em menos de quinze anos, desde o aparecimento da epidemia no Ocidente, já tínhamos um coquetel de drogas acessível e eficaz. Poupamos milhões de vidas. O caso da aids mostra como é importante a pressão pública para apressar resultados e forçar o barateamento ou mesmo a subvenção dos tratamentos. Todas as peças do tabuleiro conversavam. Os pacientes cobravam seus médicos, os laboratórios convocavam interessados para testes experimentais. Obviamente o diálogo nem sempre foi gentil. A ideia é justamente essa: tornar tudo mais dinâmico, sem a “escalada” de demandas tradicional, que só atrapalha. Eu sinto que há uma porção de gente interessada em participar de testes, em casos de enfermidade degenerativa e algumas formas de câncer. Onde for possível mexer, temos de mexer.

O que a senhora espera observar, nos próximos anos, na área médica? A palavra-chave é adaptação. É algo revolucionário, porque a mudança tem de ser orgânica, envolver pacientes e intelectuais de todas as partes do mundo, governos, empresas. Mas, a meu ver, é fundamental modificar o processo. Democratização também faz parte das transformações, e já está acontecendo. As pessoas estão muito mais preparadas para o diálogo com especialistas.

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