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Especialistas esclarecem dúvidas sobre o congelamento do cordão umbilical

Em meio à expectativa pela chegada do bebê, os pais hoje costumam se ver diante de um dilema: congelar ou não as células-tronco do sangue do cordão umbilical do recém-nascido?

Por Gabriella Sandoval
19 Maio 2012, 09h22

O procedimento, que ocorre ainda na sala de parto, pode ser feito de duas formas: por meio de uma empresa privada, para uso exclusivo do bebê, ou através de um banco público. Neste caso, o material fica disponível para qualquer paciente que dele necessite. Apesar de alguns bancos privados argumentarem que aquele punhado de células funcionará como um seguro-saúde caso o recém-nascido venha a sofrer, no futuro, de doenças como diabetes ou Alzheimer, sua utilização ainda é bem restrita. “Por enquanto, o único uso clínico comprovado é o transplante de medula óssea”, explica a geneticista Mayana Zatz, pesquisadora da Universidade de São Paulo. Para esclarecer dúvidas sobre o congelamento das células do cordão, VEJA ouviu cinco especialistas no assunto.

Quais são as diferenças entre os bancos públicos e os privados?

Coordenados pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), os bancos públicos coletam e armazenam células de cordão em maternidades conveniadas, sejam elas ligadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), como é o caso do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, sejam elas privadas, a exemplo do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O serviço é gratuito e o material fica disponível para doação. Ao contrário dos bancos públicos, os privados cobram, em média, 3 000 reais pela coleta e 600 reais de anuidade pelo armazenamento das células. Nesse caso, elas são de uso exclusivo da criança

Toda amostra de sangue de cordão coletada é viável para uso?

Não. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a amostra deve ter, no mínimo, 500 milhões de células-tronco viáveis e estar livre de contaminações. Nos bancos públicos, 60% do material coletado é dispensado após uma minuciosa triagem – se os testes revelarem propensão genética a algum tipo de doença, por exemplo, aquela amostra não será útil para ninguém. Já nos bancos privados, o descarte é de apenas 2% (caso em que se reembolsa o cliente). Embora as regras para bancos públicos sejam mesmo mais rígidas, os especialistas consideram essa discrepância demasiado grande. “A própria análise do material congelado pode danificá-lo. Portanto, só saberemos de fato de sua viabilidade quando houver necessidade de uso”, diz o biólogo Daniel Coradi, da Anvisa

Em que tipos de tratamento o sangue do cordão é utilizado?

Por enquanto, apenas no transplante de medula óssea. Isso porque esse material é, sim, riquíssimo em células-tronco, mas apenas em um tipo delas: as hematopoiéticas – capazes, pelo que se sabe até o momento, de formar única e exclusivamente células sanguíneas. “Cerca de 0,1% das células presentes no sangue de cordão pertence ao grupo das mesenquimais – essas, sim, com potencial de originar músculos, ossos, cartilagem e gordura”, explica o hematologista Luís Fernando Bouzas, diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea do Inca. Em um estudo publicado em 2008, porém, a geneticista Mayana Zatz demonstrou que, em cada dez amostras de sangue de cordão, apenas uma continha células mesenquimais.”Acho bobagem congelar o sangue de um bebê para uso privado. Primeiro, porque temos células-tronco em diversos tecidos, inclusive na polpa dentária. Segundo, porque o risco de ele desenvolver anemia grave ou leucemia é muito baixo. E, se isso vier a acontecer, não se recomenda o uso do cordão do próprio paciente”, diz a geneticista

Quais são as chances de uma criança vir a utilizar as células do próprio cordão?

De acordo com a Sociedade Americana de Transplante de Sangue e Medula Óssea, as chances são de 0,04% nos primeiros vinte anos de vida. “Menos de 15% das crianças que desenvolvem leucemia linfoblástica aguda – doença sanguínea mais comum nessa fase – precisam de um transplante.

E, quando isso ocorre, o sangue do cordão do próprio paciente é contraindicado”, diz o médico Carmino Antonio de Souza, presidente da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Mais um porém: uma amostra de sangue de cordão é suficiente apenas para o tratamento de uma pessoa com até 50 quilos. No caso dos bancos públicos, quando não se encontra um doador adulto compatível, opta-se pelo uso de mais de uma unidade de cordão. Outra situação em que o congelamento é recomendado é quando o recém-nascido tem um irmão que pode ser salvo caso haja compatibilidade genética. “Mas, nessas situações, os próprios bancos públicos fazem a coleta”, explica a hematologista Andrea Kondo, do Hospital Albert Einstein

Promessa Futura - Células são armazenadas em tanques de nitrogênio líquido a 180 graus negativos: bancos públicos são a melhor opção para o congelamento do cordão umbilical
Promessa Futura - Células são armazenadas em tanques de nitrogênio líquido a 180 graus negativos: bancos públicos são a melhor opção para o congelamento do cordão umbilical (VEJA)
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Quantas unidades de sangue de cordão já foram usadas no Brasil para tratar doenças?

Nos bancos públicos, 135 das 12 000 unidades armazenadas foram doadas para transplante de medula. Nos privados, apenas oito entre mais de 45 600 unidades tiveram utilidade: cinco delas para uso em parentes (mediante autorização da Anvisa) e apenas três para uso da própria criança. Em um desses casos, o paciente apresentava leucemia e não resistiu ao tratamento. Nos outros dois, de paralisia cerebral, os resultados não foram divulgados

Em que estágio estão as pesquisas com células-tronco de cordão?

A eficácia das células do cordão umbilical do próprio paciente vem sendo testada para tratar doenças como paralisia cerebral, diabetes do tipo I e autismo. As pesquisas, no entanto, ainda não saíram do campo experimental. “A terapia com células-tronco originárias de tecidos diversos, não só do cordão, é estudada há quase quinze anos. Mas, nesse período, não houve nenhum grande avanço. Ela é, sim, preconizada em algumas situações, como na regeneração de tecidos – mas a partir de células colhidas da medula do paciente adulto, e não do sangue do cordão”, explica Bouzas

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