Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Chá de ayahuasca pode, sim, causar psicose e até matar

O consumo do chá teria contribuído para a morte do neto de Chico Anysio. Especialistas ouvidos pelo site de VEJA explicam que a substância é alucinógena e, como qualquer outra droga com esse efeito, pode causar distúrbios psiquiátricos permanentes e até matar

Por Giulia Vidale
10 mar 2016, 15h28

Recentemente, Brita Brazil e Nizo Neto – filho de Chico Anysio – atribuíram a morte do filho Rian Brito ao chá de ayahuasca. De acordo com a família, o rapaz teria mudado muito após tomar a bebida.

“Começou com uma questão espiritual. Ele logo entrou num delírio que tinha uma missão e que para essa missão não podia comer. Consumindo o mínimo para sobreviver, chegou a pesar 45 quilos. Existe o Rian antes e depois da ayahuasca, embora ele só tenha tomado quatro doses. Com toda certeza foi uma coisa que o levou a esse final. Três psiquiatras também fizeram essa afirmação”, disse Nizo Neto, em entrevista ao site Ego.

O chá de ayahuasca ou Santo Daime, como é conhecido, é uma bebida alucinógena feita a partir de uma combinação de duas plantas amazônicas: o cipó jagube e o arbusto chacrona. Embora seja considerado um alucinógeno, seu uso em cultos religiosos como o Santo Daime , Porta do Sol (frequentada por Rian), Céu de Maria (fundada pelo cartunista Glauco e onde seu assassino, Carlos Eduardo,consumia a bebida) e União do Vegetal é permitido no Brasil pelo Conselho Nacional de Políticas sobre Droga (Conad).

Apesar da liberação, o Conad impõe algumas regras para o consumo do chá: pessoas com histórico de transtornos mentais ou sob efeito de bebidas alcoólicas ou outras substâncias psicoativas estão proibidas de ingerir a droga. Também é obrigatório que as seitas do Daime “exerçam rigoroso controle sobre o sistema de ingresso de novos adeptos”.

Para Ronaldo Laranjeira, professor titular de psiquiatria da Unifesp, essa autorização é bastante problemática. Segundo ele, os integrantes da seita não têm capacidade para discriminar quem pode ou não ingerir a substância sem apresentar problemas. Além disso, como acontece com o uso de qualquer outra droga, não é possível afirmar quem vai ficar psicótico ou, caso já tenha algum problema mental, quem vai piorar.

“O grande problema dessa resolução é que não é possível prever quem terá problemas psiquiátricos após beber o chá ou quem ficará viciado. Claro que algumas pessoas, por seu histórico médico ou familiar, já têm predisposição, mas qualquer um pode ser afetado. É uma questão de genética e vulnerabilidade sobre a qual ainda não temos um conhecimento sólido”, afirma o psiquiatra.

Continua após a publicidade

Leia também:

Quem controla o alucinógeno chá do Santo Daime?

Corpo do neto de Chico Anysio é encontrado na praia

A combinação de plantas e ervas do líquido espesso e amarronzado contém DMT (n-dimetiltriptamina) e inibidores da monoamina oxidase. Essas substâncias agem no sistema nervoso central promovendo visões psicodélicas e euforia. Seus usuários acreditam que o chá proporciona iluminações transcendentais.

“A ideia é promover uma comunhão com a natureza, uma união com o universo. O efeito alucinógeno altera a percepção sensorial de todos os sentidos permitindo aos usuários essa sensação de fazer de parte um todo no universo”, explica Analice Gigliotti chefe do Setor de Dependência Química da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro e diretora da clínica psiquiátrica Espaço Clif.

Continua após a publicidade

Embora o chá de ayahuasca possa desencadear surtos psicóticos em qualquer indivíduo, alguns grupos são considerados de risco, como pessoas com depressão, transtorno bipolar e esquizofrenia. “As substâncias presentes no chá, como o DMT, agem como perturbadores do sistema nervoso central, alterando a percepção sensorial de todos os sentidos. Isso faz com que a pessoa possa ter alucinação, o que pode desencadear quadros psicóticos”, diz Analice.

Além da deflagração de surtos psicóticos, quando combinado com outras substâncias, o chá pode causar confusão e tremores – em usuários de antidepressivos, devido ao excesso de serotonina no sistema nervoso central – e até mesmo morte súbita. A função cardiovascular de pessoas que já têm problemas cardíacos também pode ser alterada, o que traz riscos para a saúde destes indivíduos.

Estudos – Nos últimos anos houve uma popularização do chá de ayahuasca, aumentando o interesse, inclusive científico, em relação aos efeitos da substância. Um estudo publicado em 2014 na Revista Brasileira de Psiquiatria mostrou que o líquido pode ser um potencial tratamento para depressão.

De acordo com pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (SP), a ingestão de uma dose do chá (2,2ml/kg de peso) ajuda a reduzir em 66% os sintomas da doença. O estudo foi realizado com seis pacientes com histórico de depressão. Sete dias após o uso, a diminuição dos sintomas foi superior a 72%. Em relação aos efeitos adversos, os participantes relataram apenas vômito, que é comum em usuários do chá.

Outras linhas preliminares de pesquisa realizadas por cientistas espanhóis analisam o uso do chá no tratamento de vícios de outras drogas. Entretanto, todos os estudos, inclusive o brasileiro, ainda são limitados e preliminares, e os pesquisadores ainda estão tentando entender o modo como a substância afeta o cérebro.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.