Britânico que lutava pela eutanásia morre de causas naturais
Tony Nicklinson, que sofria da Síndrome de Encarceramento, morreu seis dias depois de ter seu pedido de eutanásia negado pela justiça britânica
Vítima de uma rara condição chamada Síndrome do Encarceramento, na qual o corpo fica totalmente paralisado, mas o paciente mantém suas funções cognitivas intactas, o britânico Tony Nicklinson, de 58 anos, morreu nesta quarta-feira, seis dias depois de perder uma batalha legal pelo direito da eutanásia, que, segundo ele, acabaria com uma vida de “pura tortura”.
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SÍNDROME DO ENCARCERAMENTO (LOCKED-IN)
Condição rara na qual uma pessoa permanece consciente, com as funções cognitivas intactas, mas tem seu corpo todo paralisado e só consegue se comunicar por meio dos olhos, abrindo e fechando as pálpebras. Pode ser causada por acidentes vasculares cerebrais (AVCs) que atinjam o tronco cerebral (que liga o cérebro à medula) sem, contudo, afetar o cérebro.
Nicklinson sofria da síndrome desde 2005, consequência de um derrame durante uma viagem de trabalho a Atenas. A família do britânico informou que ele morreu de maneira serena, de causas naturais, na residência de Melksham, oeste da Inglaterra, às 10 horas (6 horas de Brasília), após uma rápida deterioração de sua saúde provocada por uma pneumonia.
A família divulgou uma mensagem no Twitter: “Antes de morrer, ele pediu que nós escrevêssemos: ‘Adeus mundo, a hora chegou, eu tive alguma diversão'”. “Obrigado pelo apoio ao longo dos anos. Nós gostaríamos de alguma privacidade neste momento difícil. Com amor, Jane, Lauren e Beth”, afirmou outro tweet.
A polícia informou que não está investigando a morte de Nicklinson. “Ele era visitado com frequência por um médico, que vai assinar o atestado de óbito”, disse uma fonte policial.
Batalha jurídica – No dia 16 de agosto, a Alta Corte rejeitou o pedido legal de Nicklinson, que desejava a legalização do suicídio assistido. Após o veredicto, Nicklinson chorou e afirmou que estava devastado com a decisão. Em um comunicado divulgado na semana passada por seu advogado, depois da decisão judicial, Nicklinson afirmou: “Eu estou triste que a lei queira me condenar a uma vida de miséria e indignidade crescentes”.
Os três juízes envolvidos descreveram o caso como “profundamente comovente e trágico” e a situação como “terrível”. Mas todos concordaram que seria errado para o tribunal se afastar da posição legal estabelecida há muito tempo de que a “eutanásia voluntária é assassinato, mesmo que os motivos sejam compreensíveis”. Eles decidiram que a lei atual não contempla direitos humanos e que cabe ao Parlamento, e não aos tribunais, decidir se deve ser alterada.
A esposa de Nicklinson, Jane, descreveu a decisão como “unilateral”. “Você pode ver pela reação de Tony que ele está com o coração partido”, disse.
Jane afirmou que o casal apelaria da decisão. Ao ser questionada sobre o que aconteceria caso o recurso fosse rejeitado, disse: “Tony terá que continuar assim até morrer de causas naturais ou de fome.”
(Com Agência France-Presse)