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Último número de revista trouxe charge premonitória

Desenho traz um jihadista sob a manchete: 'França continua sem atentados'. A caricatura, no entanto, diz : 'Espere! Temos até o final de janeiro para apresentar nossos desejos'

Por Da Redação
7 jan 2015, 15h02

O mais recente número da revista satírica francesa Charlie Hebdo, dedicado ao escritor Michel Houellebecq, contém em suas páginas uma charge assinada pelo diretor da publicação, Charb, que parece premonitória. Assassinado por terroristas islâmicos nesta quarta-feira junto com outras onze pessoas – entre elas três dos principais cartunistas da revista, Charb desenhou um jihadista abaixo de uma manchete: ‘França continua sem atentados’. A caricatura, com o dedo indicador apontado para cima, responde a essa notícia: ‘Espere! Temos até o final de janeiro para apresentar nossos desejos’.

“Pode soar um pouco pomposo, mas eu prefiro morrer de pé a viver de joelhos”, disse Stéphane Charbonnier, o Charb, em uma entrevista ao jornal Le Monde em 2013. Editor da publicação desde 2009, o cartunista já havia recebido ameaças de morte. Ele havia sido incluído em uma ‘lista de procurados’ da rede Al Qaeda após a publicação de caricaturas do profeta Maomé, em 2013. Charb, que tinha 47 anos, sempre insistiu que as charges satirizando o profeta eram peças de humor como quaisquer outras. Ele também trabalhou para o jornal Les Echos e para as revistas Télérama e L’Humanité.

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Os outros três cartunistas assassinados, Cabu, Wolinski e Tignous, também tinham carreiras respeitadas na imprensa francesa. Georges Wolinski, de 80 anos, era uma espécie de ‘Millôr da França’, um chargista mordaz, muito querido e respeitado. Quando perguntado como ele estava se preparando para a morte, Wolinski respondeu: “Eu quero ser cremado. Eu disse para minha esposa: jogue minhas cinzas no banheiro para eu ver sua bunda todos os dias”. Ele teve uma longa carreira como colaborador na imprensa, com passagens marcantes pelo jornal Libération e pela revista semanal Paris-Match.

Jean Cabut, que assinava como Cabu, iria completar 77 anos no dia 13 de janeiro. Ele ganhou projeção nos anos 1970 ao ser o precursor de ‘reportagens em quadrinhos’, um gênero de ‘jornalismo gráfico’, como explicou à imprensa francesa. O desenhista e cartunista foi colaborador de importantes publicações, como Le Figaro, Le Nouvel Observateur, Le Monde e Le Canard Enchaîné. Cabu também se tornou muito popular entre o público infantil ao produzir desenhos para o programa infantil de televisão Récré A2, nas décadas de 1970 e 1980.

Nascido em 1957, Bernard Verlhac, que assinava como Tignous, tinha 57 anos e era um colaborador regular das publicações Charlie Hebdo, L’Express e L’Humanité. Em 2008, ele foi tema de um documentário chamado ‘C’est dur d’être aimé par des cons’ (É difícil ser amado por idiotas, em tradução literal), sobre ameaças de morte por suas charges políticas. Seu livro mais recente, ‘5 ans sous Sarkozy’ (5 anos sob Sarkozy, em tradução literal), retratando o governo do presidente Nicolás Sarkozy, foi um sucesso de crítica na França.

Última capa – O Charlie Hebdo dedicou a capa de seu número desta semana a Houellebecq, protagonista de um intenso debate na França por causa de seu último livro, ‘Soumission’ (submissão). A história de ficção descreve um futuro sombrio para a França. Em 2022, logo após um hipotético segundo mandato do presidente François Hollande, um partido islâmico assume o poder no país e conta com o apoio das legendas tradicionais.

Nos dias anteriores à publicação do sexto romance de Houellebecq, editorialistas, críticos literários, escritores, sociólogos e universitários debateram calorosamente sobre seu conteúdo em programas de televisão ou colunas da imprensa. De ‘irresponsável’, ‘islamofóbico’ ou ‘sublime’, os adjetivos foram se multiplicando na mídia. Surfando no barulho que a obra causou – a publicação quase sempre repercutia temas em voga na imprensa francesa -, a capa da última edição do Charlie Hebdo [imagem na galeria acima] traz uma caricatura do escritor com a manchete: ‘As previsões do mago Houellebecq’. O próprio Houellebecq diz: “Em 2015 perco meus dentes e em 2022 faço o Ramadã!”.

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“Em 50 anos de carreira, jamais vi uma publicação tão barulhenta”, comentou nesta terça-feira a editora do livro ‘Soumission‘, Teresa Cremisi, sobre a última capa do semanário humorístico. “Todos falam e se expressam, há eletricidade no ambiente”, disse a editora ao jornal Le Figaro.

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Ameaças e ataques – A animosidade dos radicais islâmicos com a revista Charlie Hebdo vem desde 2006, quando foram publicadas as primeiras caricaturas do profeta Maomé em solidariedade ao jornal dinamarquês Jyllands-Posten. Em 2 de novembro de 2011, a sede da revista em Paris foi incendiada após a publicação de um número satirizando a vitória dos islamitas na Tunísia e, de novo, trazendo uma charge de Maomé.

Em setembro de 2012, a revista foi ameaçada por religiosos fanáticos após publicar novas caricaturas de Maomé. A edição chegou às bancas francesas dias após terem acontecido ataques a embaixadas e consulados ocidentais em países muçulmanos por causa da divulgação de um vídeo crítico ao islã. Em 2013, piratas cibernéticos atacaram seu site, provavelmente por causa da publicação de um suplemento especial com uma biografia em quadrinhos do profeta Maomé.

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