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Os grandes resultados dos pequenos países

Pequenos têm economias mais voláteis, mas podem prosperar construindo instituições democráticas fortes e criando laços com nações maiores

Por Michael O'Sullivan e Stefano Natella*
21 set 2014, 08h13

A votação da Escócia sobre a independência do Reino Unido tem estimulado o amplo debate sobre a separação de Estados pequenos, tais como a Eslovênia e a Croácia em 1991, ou o movimento de independência atual na Comunidade Autônoma da Catalunha na Espanha. Mas nem um foco estreito sobre as implicações políticas e econômicas para a Escócia e o Reino Unido – nem, aliás, o resultado decisivo pro-união do referendo – devem ofuscar as lições mais amplas de uma das tendências geopolíticas mais negligenciadas do nosso tempo: a ascensão dos países pequenos.

Aproximadamente 75% dos países pequenos de hoje foram formados nos últimos 70 anos, principalmente como resultado de transições democráticas mais amplas e em conjunto com o crescimento do comércio e da globalização. Seus sucessos e fracassos são mais relevantes para as discussões atuais do que, digamos, as implicações fiscais da independência escocesa.

As lições a aprender com estes casos são úteis não só para novos e potencialmente novos pequenos países. De forma relativa, os pequenos e jovens países na África, Caribe e Oriente Médio também podem se beneficiar, examinando os segredos do sucesso de Cingapura, as causas e efeitos da bolha imobiliária da Irlanda e a decisão da Dinamarca em desenvolver sólidas habilidades de luta contra o terrorismo, apesar de sua relativa segurança. De fato, tais considerações podem ajudá-los a traçar um caminho para a prosperidade econômica e coesão social. Obviamente, ao aprender com os outros, os países devem sempre ter cuidado para evitar a “insensatez da imitação”. Os países nórdicos, por exemplo, se beneficiaram significativamente de características sociais, jurídicas e políticas profundamente arraigadas que não são fáceis de serem transferidas às suas contrapartes em países em desenvolvimento.

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Em geral, os países pequenos mais velhos ultrapassam os médios e grandes em termos de desempenho econômico e social, abertura ao comércio internacional e entusiasmo pela globalização – recursos que países mais jovens devem trabalhar para promover. Mas o crescimento econômico dos países pequenos geralmente é mais volátil – uma tendência que Estados mais jovens devem aprender a conter se eles querem prosperar no longo prazo.

A questão de governo “grande” ou “pequeno” é menos relevante, apesar da impressão que passam os acalorados debates em grandes países como os Estados Unidos. O total das despesas do governo tem apenas pouca relação com o tamanho do governo. Um elemento mais representativo seria salários do setor público – a única área onde os grandes países parecem se beneficiar de economias de escala. Os países menores gastam mais, em percentagem do PIB, na educação e saúde – outro hábito que os novos países pequenos fariam bem em conservar.

De fato, existe uma forte correlação positiva entre o ritmo de crescimento econômico e a “infraestrutura intangível” – a combinação de educação, saúde, tecnologia, e o Estado de Direito que promove o desenvolvimento humano capital e habilita as empresas a crescer de forma eficiente. Os pequenos países são responsáveis por sete entre os dez países com a melhor infraestrutura intangível.

Além disso, medidas como a qualidade das instituições, a adequação para prosperar em um mundo globalizado, a estabilidade da produção econômica e o nível de desenvolvimento humano, e um índice de poder do país pode ser estabelecido, onde treze dentre os melhores vinte atores são pequenos, sendo os mais bem sucedidos Suíça, Cingapura, Dinamarca, Irlanda e Noruega. Outros países pequenos resilientes são Nova Zelândia, Áustria, Suécia e Finlândia. Certamente, há uma tendência clara de “velha Europa” aqui. Países pequenos em como Croácia, Kuwait, Omã e Uruguai podem considerar os conselhos para imitar países como a Suíça e a Noruega como sendo impraticáveis.

Mas um conjunto útil de prioridades pode ser construído aos poucos a partir de suas experiências. Especificamente, os pequenos países em desenvolvimento devem centrar-se na construção de instituições, tais como bancos centrais e ministérios das finanças, que explicitamente buscam minimizar a volatilidade macroeconômica associada à globalização. Eles também devem avançar o Estado de Direito, desenvolver sistemas de serviços de saúde e educação pública fortes e eficientes e incentivar a indústria nacional a enfatizar o retorno, ao invés de custo de capital, como métrica balizadora. Além da imitação, os países pequenos podem ajudar-se mutuamente através de alianças diretas. Surpreendentemente, existem muito poucas dessas alianças, com muitos pequenos países – especialmente aqueles em desenvolvimento – cultivando laços estreitos com os países grandes. O risco é claro, é que as suas vozes acabem sendo abafadas pelas entidades maiores, tolhendo a capacidade de fazer o que é melhor para os seus próprios cidadãos.

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Em um ambiente geopolítico e econômico de rápida mudança – caracterizado por desafios como a alta da taxa de juros, estimulada pelos níveis elevados de dívida; reduções do regime fiscal; alteração dos padrões de imigração; e uma possível desaceleração no ritmo de globalização – os países pequenos precisam ser capazes de identificar e avaliar riscos e ajustar suas estratégias de acordo com eles. Desta forma, mesmo sem independência total, isso é precisamente o que a Escócia, que tem a promessa de autonomia ainda maior do que já tem dentro do Reino Unido, terá de fazer se quer ser bem sucedida.

Michael O’Sullivan, membro do Credit Suisse Research Institute, é o autor de Ireland and the Global Question e co-editor de What Did We Do Right?

Stefano Natella é membro do Credit Suisse Research Institute.

© Project Syndicate, 2014

(Tradução: Roseli Honório)

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