Desesperados com pobreza, refugiados sírios retornam à zona de guerra
O número de sírios retornando ao seu país natal está cada vez maior, assim como as dificuldades enfrentadas sob a condição de deslocado
A Organização das Nações Unidas reportou um aumento no número de refugiados sírios que decidiram retornar para seu país após uma jornada mal sucedida como deslocados. Em julho, a média diária de retorno de sírios à terra natal foi de 66; em agosto, esse número praticamente dobrou, chegando a 129. Atualmente, cerca de 100 sírios voltam ao país diariamente, de acordo com a emissora britânica BBC.
A Jordânia registra a presença de 600.000 refugiados sírios atualmente, a maioria vivendo em áreas urbanas. Segundo a ONU, 86% deles vivem abaixo do nível da pobreza, e o governo jordaniano não permite que a maior parte deles trabalhe de forma legal e não oferece serviços públicos de saúde.
Para piorar, 229.000 deslocados vivendo fora de campos de refugiados no país tiveram seus auxílios totalmente cortados pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU no início de setembro devido à falta de doações internacionais, de acordo com a BBC. Diante das péssimas condições de vida e sem poder arcar com os custos de uma viagem para a Europa, muitas famílias têm de decidir entre continuar lutando por seu sustento na Jordânia ou retornar para uma zona de guerra.
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É o caso da família de Abu Ahmed, que terá que se dividir. O sírio decidiu ficar na Jordânia com sua mãe idosa, enquanto a esposa leva as duas filhas pequenas do casal – uma delas recém-nascida – de volta para Damasco. “É uma vida difícil aqui. Minha filha bebê está muito doente e eu não posso pagar o tratamento. Na Síria, o serviço estará disponível”, contou Abu à BBC. Sua esposa lembra que a viagem até a Jordânia foi uma “tortura”. Ela segue as notícias sobre os conflitos e está ciente dos riscos de voltar. “Nós não estamos felizes em voltar, mas a situação aqui está muito ruim aqui”.
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Para deixar a Jordânia em direção à Síria, os refugiados precisam se registrar para pegar um ônibus na região de embarque do campo de refugiados de Zaatari, localizado a 10 quilômetros de Mafraq, noroeste do país. Muitos recebem aconselhamento da ACNUR, a agência de refugiados da ONU. “A primeira coisa que dizemos para eles é que não existe lugar seguro na Síria, na perspectiva do ACNUR”, afirma Omar, um dos agentes de proteção do órgão, à BBC. “A segunda é que eles não poderão retornar à Jordânia. É uma passagem só de ida”.
O Exército Livre da Síria também se preocupa com a segurança dos refugiados que retornarem a Síria, e afirma não possuir todas as armas necessárias para proteger as pessoas contra os cada vez mais frequentes ataques russos. Segundo o Major Issam al-Reis, porta-voz do exército, os bombardeios acabarão com a vida de muitos civis. “Nós aconselhamos nossos refugiados a não voltarem para a Síria agora, pois a situação ficará mais perigosa”, disse à BBC. Ainda assim, cada vez mais famílias estão preferindo voltar para um conflito que não mostra sinais de que chegará ao fim em vez de enfrentar a miséria e fome da Jordânia.
(Da redação)