Para aiatolá, Ocidente não conseguiu colocar o Irã ‘de joelhos’
Presidente Rohani falou em 'vitória significativa', mas falta de acordo sobre programa nuclear do país provocou frustração em muitos iranianos
O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, afirmou nesta terça-feira que o Ocidente não conseguiu colocar o Irã ‘de joelhos’, depois que as negociações sobre o programa nuclear do país foram estendidas por mais sete meses. “Na questão nuclear, os Estados Unidos e os países colonialistas europeus se uniram e fizeram todo o esforço para pôr de joelhos a República Islâmica, mas não puderam e não poderão”, disse o grão-aiatolá a um grupo de clérigos, segundo informação de sua página na internet. Khamenei tem a palavra final sobre todos os temas importantes para o país, incluindo a questão nuclear.
Em pronunciamento na manhã de segunda-feira, Rohani disse que o Irã conseguiu uma vitória significativa e que as negociações vão levar a um acordo cedo ou tarde. Contudo, ele ressaltou que “os direitos nucleares do país devem ser aceitos pelo mundo”.
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Decepção – O novo prazo para as negociações com o grupo 5+1, formado pelos membros permanentes do Conselho de Segurança (Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia e China) e a Alemanha, vai até o dia 30 de junho de 2015. Se alguns setores não se incomodaram com o prolongamento da incerteza, a notícia sobre a falta de um pacto deixou muitas pessoas frustradas e colocou em xeque a confiança no presidente Hassan Rohani. Eleito há quase um ano e meio com a promessa de acabar com as sanções que asfixiam a economia do país ao iniciar as negociações, muitos acreditam que ele falhou em cumprir o prometido.
“Estou muito, muito preocupada porque esperávamos que dessa vez chegassem a um acordo, mas vai levar mais tempo. Do fundo do meu coração, de verdade, desejo que nestes próximos meses cheguem a um pacto. A verdade é que o povo aqui está destruído e muito deprimido”, declarou à agência EFE Adefé, uma mulher de 45 anos, funcionária de um escritório, que preferiu não revelar o sobrenome.
“Não é um bom sinal. Já chegamos a um ponto de desespero total. Não é o regime, é o povo do Irã que se vê prejudicado”, afirmou um homem no norte de Teerã, que pediu para ser identificado apenas como Ali.
Mehdi Mohammadi, estudante de filosofia que votou em Rohani, não se preocupou em ouvir a entrevista pré-gravada do presidente veiculada pela TV estatal depois que o prazo para o acordo foi ampliado. Ao jornal The New York Times, o estudante disse que já podia imaginar o que seria dito. “As negociações estão em andamento, tudo ficará melhor e o país vai se tornar ainda mais glorioso no futuro. Só que eu não acredito mais nele”, disse.
Há quem mantenha as esperanças de que um pacto seja alcançado, admitindo, no entanto, que o acordo não deverá promover as mudanças sonhadas. As sanções impostas ao Irã nos últimos anos estão entre os principais causadores da inflação que superou os 40% no ano passado, do desemprego crescente, da queda nas exportações, da crise do setor privado e da desvalorização do rial iraniano em cerca de 70%.
Rohani também enfrenta críticas de adversários políticos, um círculo de clérigos linha-dura e comandantes da Guarda Revolucionária, que o acusam de ‘vender’ o país.
Apesar de alguns culparem o governo iraniano por não ter chegado a um acordo, outros direcionam a raiva para os outros países que participam da negociação. “Para mim, tudo isso não passa de um jogo. O problema da comunidade internacional é o regime do Irã. Já se sabia que as negociações não dariam resultado ou, se desse, que eles encontrariam outra desculpa para as sanções”, afirmou Ehsan Hoseini, chefe de um escritório de telefonia celular.
(Com agência EFE)