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Russos vão às urnas fazer (de novo) a vontade de Putin

Pesquisas indicam que premiê deve ser eleito presidente já no primeiro turno

Por Amanda Zacarkim
3 mar 2012, 10h39

“Putin terá de levar a opinião pública em consideração com mais cuidado, talvez fazendo alguns ajustes no sistema político pensando no futuro”

Dmitry Gorenbourg, professor do Centro de Estudos Russos da Universidade de Harvard

Cerca de 110 milhões de eleitores foram convocados às urnas neste domingo na Rússia para as eleições presidenciais. E, pelo que indicam as pesquisas mais recentes, 60% deles (ou mais) devem garantir a vitória de Vladimir Putin já no primeiro turno. Atrás dele, mas sem representar qualquer perigo, está o líder comunista, Gennady Ziuganov, que deve ficar com uma faixa entre 15% e 20% dos votos. Os outros três, o ultranacionalista Vladimir Jirinovski, o multimilionário Mikhail Projorov e o social-democrata Sergei Mironov, não chegam a 10% cada. “A vantagem de Putin aumenta porque os líderes de oposição com real competitividade não estão autorizados a competir”, explica ao site de VEJA Dmitry Gorenbourg, professor do Centro de Estudos Russos da Universidade de Harvard, lembrando de uma das muitas manobras articuladas pelo ex-agente da KGB, que sempre encontra um motivo que leve à inelegibilidade de um candidato à sua altura, como ocorreu com o liberal Grigori Iavlinki, que teve as pretensões barrada por supostas irregularidades nas listas de assinaturas de apoio.

Pelo que se pode ver, o efeito eleitoral da onda de manifestações que se voltaram contra Putin foi menor do que por um curto instante se chegou a imaginar – ressalvando que os mais otimistas só cogitaram uma disputa que chegasse ao segundo turno. O que explica isso: a economia do país, que enquanto estiver crescendo garante ao premiê uma continuidade no poder, e o ceticismo do eleitorado em relação ao processo eleitoral. Mas Putin fecha os olhos para essa descrença e, em sua campanha, sempre tenta retratar jovens decididos a fazer dele (de novo) seu presidente. Mais do que isso, na verdade: seus anúncios beiram a apelação, comparando o voto a um prazer sexual. No último vídeo, que mostra uma garota consultando uma vidente sobre seu futuro, Putin recorre à “primeira vez” das eleitoras e pede voto “por amor”. “Vamos ver o que o destino lhe reserva”, diz a taróloga. “Você sabe, eu espero que seja amor. É minha primeira vez”, responde a moça. Ao virar uma das cartas, a vidente revela uma foto do premiê. “É ele”, exclama a eleitora. “Você será feliz com ele”, conclui a vidente. Sorridente, a moça se dirige, então, a uma sessão de votação.

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Assista, abaixo, ao novo vídeo de campanha de Putin, publicado pelo jornal Guardian:

Fragilidade – O que é inegável é que Putin vai iniciar o seu terceiro mandato em posição muito mais frágil do que jamais teve. Apesar de fazer questão de afirmar que a população urbana não está contra ele, sua imagem ficou, sim, desgastada depois das eleições parlamentares, nas quais foram comprovadas fraudes em locais onde a Rússia Unida, partido do premiê, obteve 100% dos votos, com participação de 100% dos eleitores. A legenda perdeu cadeiras, mas ficou com a maioria no Parlamento – o que provocou um movimento de contestação sem precedentes desde os anos 1990.

“Claramente, Putin não tem mais a mesma força de que dispunha há dois anos, ou mesmo no início de 2011”, diz Gorenbourg. Mas o político não assiste inerte à corrosão de seu poder e de sua imagem. Assim como arquitetou cuidadosamente seu retorno ao poder depois do fim do segundo mandato (veja quadro abaixo), ele age com cautela diante dos protestos. “Ele se retraiu um pouco diante das manifestações, em vez de usar mão de ferro. Talvez esteja agindo de forma calculada para cair de novo nas graças do povo”, observa o professor. Nas últimas semanas, muitos artifícios jurídicos foram usados para impedir manifestações na Rússia – ao passo que a população insatisfeita também buscou brechas na lei para ir às ruas, organizando, por exemplo, “exibições de brinquedos e bichos de pelúcia” – que tinham clara conotação política. “Putin terá de levar a opinião pública em consideração com mais cuidado, talvez fazendo alguns ajustes no sistema político pensando no futuro”, diz Dmitry Gorenbourg. Mas sempre existe, é claro, a alternativa da mão de ferro.

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