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Gingrich vence na Carolina do Sul e bagunça primárias

Contudo, a história do Partido Republicano mostra que, no final, a escolha sempre recai sobre o candidato moderado – e aí reside a vantagem do derrotado neste sábado, Mitt Romney

Por Gabriela Loureiro
21 jan 2012, 21h49

Partido Republicano é dividido por facções que até atacam umas às outras; mas, na hora de escolher o candidato à Casa Branca, vale quem é capaz de vencer o democrata

“O partido não está tão dividido ultimamente quanto a imprensa americana diz. Há muitas facções e grupos dentro do partido, mas ao menos quanto às posições dos candidatos na maioria dos assuntos, não há tanta diferença”, diz Daniel DiSalvo, especialista em facções de partidos americanos

O político conservador Newt Gingrich, pré-candidato republicano às eleições presidenciais americanas, impôs neste sábado amarga derrota ao ex-governador do Texas, Mitt Romney. Com 41% dos votos, contra 26% de seu adversário, segundo dados preliminares, Gingrich saiu vitorioso das prévias da Carolina do Sul. Se tivesse vindo dez dias atrás, o resultado poderia ser considerado surpreendente. Naquela data, Romney tinha acabado de ganhar as primárias de New Hampshire, em sua segunda vitória consecutiva. As pesquisas eleitorais naqueles dias também apontavam uma vitória segura no primeiro estado sulista da corrida republicana rumo a uma vaga para disputar a presidência. Se concretizada, era dada como certa a nominação de Romney para o posto. Em pouco tempo, no entanto, tudo mudou. As pesquisas começaram a apontar uma mudança rápida de rumo e a vitória de Gingrich veio coroar essa reviravolta.

A Carolina do Sul, de fato, é um local que reunia condições para uma vitória de Gingrich. O estado, historicamente um bastião conservador dos Estados Unidos, conta com muitos evangélicos e entusiastas do tea party – grupo ultraconservador que ganhou força nos últimos anos. Entre aqueles que apoiam o movimento, 43% no estado e 33% em todo o país declaravam-se abertamente favoráveis a ele.

Com a decisão deste sábado, Romney terá de enfrentar novos e duros debates pela frente, a começar pela Florida, para convencer o eleitorado republicano de que é o melhor para enfrentar o atual presidente Barack Obama, do Partido Democrata, no pleito presidencial.

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Aglutinação conservadora – O fato novo é que a derrocada de outros candidatos ultraconservadores da disputa e a bem-sucedida campanha de Gingrich no estado sulista abrem espaço para um movimento de aglutinação. Todos aqueles eleitores de perfil conservador espalhados pelo território americano – que ficaram órfãos de um discurso contrário ao aborto e à união civil homossexual, por exemplo – passam a ver hoje em Gingrich uma opção viável. Quando avaliam Romney, por outro lado, reinam as desconfianças. O candidato sustenta um discurso mais moderado em alguns assuntos caros aos republicanos conservadores, como a carga tributária.

História ao lado de Romney – Ainda assim, é bom lembrar que a maioria do eleitorado republicano tem perfil igualmente moderado – e isso dá à Romney uma vantagem nada desprezível. A previsão pode parecer prematura, principalmente porque o processo de prévias teve início há pouco menos de um mês, mas, analisada a trajetória do Partido Republicano, é possível perceber que essa hipótese obedece a um padrão histórico: mesmo com uma série de candidatos de posições mais extremadas, a escolha final é sempre pelo moderado. Esse é também o perfil da maioria dos eleitores indecisos – o que significa que um republicano moderado tem maiores chances de vencer o adversário democrata. “Se você analisar os últimos 30 anos de indicações de candidatos republicanos a presidente, quem quer que a facção ‘prudente’ ou moderada apoie tende a ganhar a nomeação”, disse ao site de VEJA Daniel DiSalvo, professor de ciência política da Universidade de City College de Nova York e especialista em facções de partidos americanos. “Para nomeação à Presidência, os moderados são o mainstream do partido”, acrescenta.

Infográfico: Os republicanos que querem o lugar de Barack Obama

Nos idos de 1850, a legenda republicana era definida como “partido guarda-chuva”, por abarcar as diferentes facções que se opunham à escravidão, eram a favor do capitalismo liberal e de limitar o poder do governo federal, para dar maior autonomia aos estados. Mas foi em 1860, com a eleição de Abraham Lincoln, que o partido se estabeleceu formalmente. A partir de então, outros grupos foram se associando, como os formados por protestantes e por cidadãos americanos que se sentiam intimidados pelos imigrantes. Diante da grande dimensão e heterogeneidade que tomou a sigla, divisões internas se tornaram bem comuns. Uma das mais profundas ocorreu em 1936, após o lançamento do New Deal – plano proposto pelo então presidente democrata Franklin Roosevelt para tirar o país da depressão econômica de 1933 e que levou os republicanos a se dividirem entre os que eram contra a reforma e os que a apoiavam.

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Vinte anos mais tarde, um novo movimento agregador tomava forma. Com a alta popularidade do presidente Dwight Eisenhower, o número de afiliados disparou e a legenda passou a receber inúmeros democratas desertores, protestantes e descendentes de italianos. Os moderados emergiram neste cenário, em 1960, quando um grupo de republicanos começou a apoiar a candidatura do ex-governador de Nova York Nelson Rockefeller, que se aproximava mais desse perfil. Eles se caracterizavam pelo apoio irrestrito aos grandes negócios de Wall Street e aos direitos civis. E à medida que cresciam, ganhava força também um grupo opositor, que não queria Rockefeller no poder e apoiava o então senador do Arizona Barry Goldwater, que venceu a nomeação, mas perdeu a eleição. Dentre esses democratas desertores que migraram para o partido estava o conservador Ronald Reagan, que chegou à Presidência em 1980. Sua vitória levou muitos católicos democratas a mudar de lado também, insatisfeitos com a postura de seu ex-partido mediante políticas sociais e culturais. Mediante esse histórico moldou-se o Partido Republicano como se conhece hoje, segmentado em cinco grandes facções.

Conflitos internos – Mesmo subdivididos com ideologias e candidatos próprios, que se atacam uns aos outros na disputa pela nomeação à candidatura à Casa Branca, as rusgas internas do partido não são tão fortes quanto o embate político faz crer. Afinal, todos são republicanos e, acima de tudo, conservadores, destaca Daniel DiSalvo. “O partido não está tão dividido ultimamente quanto a imprensa americana diz. Há muitas facções e grupos mas, ao menos quanto às posições dos candidatos na maioria dos assuntos, não há tanta diferença.” Por essa razão, o fato de Romney ser mórmon quando boa parte dos republicanos é evangélica ou católica não representa um empecilho tão grande quanto se imaginou no início, simplesmente porque a preocupação atual dos americanos é com a economia do país. E uma vez que seu nome esteja sacramentado como candidato republicano à Presidência, as alas conservadoras que não o apoiam hoje, como o Tea Party, não hesitarão em votar nele. “Se você é republicano, pode ser mais moderado ou conservador, mas ainda assim você será mais conservador do que um democrata”, resume DiSalvo.

Os primeiros resultados na pré-campanha republicana endossam essa previsão. Nas primárias de New Hampshire, onde Romney venceu com 39,3% dos votos, 41% dos eleitores que apoiam o Tea Party o escolheram, apesar das críticas já feitas abertamente a ele. “O Tea Party não gosta de Romney. Mas entre Romney e Obama, eles escolherão Romney”, explica o especialista em eleições americanas da Universidade de Iowa Cary Covington. Para ele, vive-se um déjà vu de 2008, quando o protagonista da história era John McCain. “A base republicana não gostava de verdade dele, mas nenhum outro pré-candidato poderia vencê-lo, ninguém era bom o bastante. É isso que acontecerá agora”, diz, lembrando que Romney reconhece o poder dos extremistas e sabe que, apesar de representarem uma minoria no partido, podem influenciar outros eleitores. A tentativa dele de passar uma imagem mais conservadora é vista com desconfiança pelos fundamentalistas, mas é também um sinal da força deles no partido. “A inclinação dele à direita reflete a influência do Tea Party”, enfatiza DiSalvo.

Por isso, mesmo com o processo eleitoral ainda no início, já é possível concluir algo que todos os republicanos sabem de cor: o apoio a Mitt Romney é questão de sobrevivência. “Assim como os esquerdistas nunca conseguem um candidato tão liberal quanto gostariam, os conservadores também não encontram um candidato mais à direita como consideram ideal, porque, em um sistema com dois partidos, todos acabam apelando para o centro político, já que a maioria dos americanos não é nem liberal demais nem muito conservadora.” E é esse o grande trunfo do ex-governador de Massachusetts.

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