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‘Foi um golpe fundamental, que marca o começo do fim da era Chávez’

Oposição comemora maioria de votos, apesar de manobras chavistas

Por Mariana Pereira de Almeida, de Caracas
27 set 2010, 20h16

A coalizão venezuelana anti-chavista tem motivos de sobra para comemorar. A oposição, que boicotou as eleições legislativas de 2005, deu a volta por cima e conquistou neste domingo mais de 50% dos votos populares, apesar de uma manobra política do presidente Hugo Chávez para garantir a maioria das cadeiras na Assembleia Nacional. A reviravolta dá novo fôlego ao bloco e mostra que a ditadura bolivariana, instaurada no país há 11 anos, está seriamente ameaçada. “Foi um golpe fundamental, que marca o começo do fim da era Chávez”, diz o cientista político e ex-embaixador venezuelano na Suécia, Guatemala e Guiana, Sadio Garavini di Turno.

Mesmo sem maioria na Assembleia, os 65 deputados eleitos pelos partidos de oposição vão tentar impedir que Chávez siga aprovando leis arbitrárias da noite para o dia, como vinha ocorrendo nos últimos cinco anos. Inclusive medidas que permitam ao ditador se perpetuar no poder. “Agora que Chávez não tem mais controle total da Assembleia, terá de se sentar com a oposição para negociar”, afirma Enrique Mendoza, deputado eleito pelo estado de Miranda. “A existência de novas vozes na Casa vai garantir a imparcialidade e acabar com a tendência autoritária e imoral deste governo”, completa.

Por vontade e pressão do próprio presidente – e, finalmente, sorte da oposição -, a eleição acabou ganhando um caráter plebiscitário, o que motivou milhares de cidadãos a sair de suas casas para pedir mudanças, já que o voto não é obrigatório na Venezuela. “As pessoas entenderam a importância destas eleições”, diz o comerciante César Briceño. “Até este ano, muita gente não se dava ao trabalho de votar em eleições legislativas”.

A professora Lisbeth Cruz não está de acordo com a plataforma de alguns candidatos da oposição, mas votou essencialmente contra o projeto de Chávez. “Queria mudar as cores da Assembleia”, afirma. “Este é o início da vitória”, acrescenta a técnica em informática, Lauris Cortez. “Se foi assim agora, imagine nas eleições presidenciais de 2012: Chávez está fora”.

Decadência de Chávez – Para di Turno, três fatores explicam o início do processo de decadência de Chávez: o fortalecimento da oposição, a queda nos preços do petróleo após a crise econômica mundial, diminuindo o fluxo de petrodolares que sustentam sua política clientelista, e o desgaste na imagem carismática do ditador devido à ineficiência de seu governo. “O presidente perdeu em setores populares, que eram seu bastião”, ressalta. “Após 11 anos de ineficiência e corrupção, Chávez já não é mais o messias salvador”, diz.

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Mendoza também acredita que o ditador tenha apostado demais na capacidade do seu discurso como instrumento para convencer a população. “Governos baseados em mentiras só se sustentam por algum tempo. Mas, depois o povo se dá conta”, afirma.

Futuro – O deputado eleito explica que o sucesso desta eleição se deve, em grande parte, à decisão dos partidos opositores de formar um bloco para enfrentar o chavismo. O plano agora é avançar nesta mesma estratégia. “Não somente vamos continuar, mas tentar melhorar esta união de partidos. Juntos, realmente podemos obter grandes vitórias”, diz. “Vamos planejar nossas próximas ações. Chávez está com os dias contados, em 2012 não será mais presidente”.

Reações – Mas, a oposição sabe que o ditador vai reagir diante de tantas coisas em jogo, ao começar pelas declarações desta segunda-feira, insistindo que o seu partido havia conseguido “uma sólida vitória para o socialismo bolivariano”. “Historicamente, quase nenhum perdedor assume sua derrota e trata de arrumar alguma maneira para justificar os resultados. Assim foi com Chávez”, diz Mendoza.

Para o político, pode-se esperar tudo do caudilho, já que ele é imprevisível. “Temos de aguardar a sua reação nas próximas semanas”, afirma. Já di Turno prevê um período difícil até as eleições de 2012, no qual o ditador vai fazer o que for para manter o seu domínio, inclusive suprimir poderes de cargos ocupados pela oposição, como fez nos último anos com prefeitos e governadores. “Chávez vai radicalizar, tentando ocupar todos os espaços possíveis. Vai se tornar ainda mais autoritário, se é que isso é possível”, conclui.

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