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Egito: insatisfeitos com Mursi, grupos veem militares como saída

Alguns movimentos políticos e parte da população egípcia defendem que militares voltem ao poder – nem que seja temporariamente – para colocar ordem no caos instalado pelo autoritário governo de Mohamed Mursi

Por Tariq Saleh, de Beirute
1 jun 2013, 09h48

Todos os dias, muros em cidades do Egito, incluindo a capital Cairo, aparecem grafitados com frases ou desenhos que exigem a volta dos militares ao poder. Ideia que também tem ganhado espaço em conversas informais ou debates em redes sociais envolvendo ativistas, políticos e alguns setores da sociedade. Diante da insatisfação com o governo de Mohamed Mursi, parte da população já vê nos militares – que foram alvo de protestos há um ano – uma alternativa em busca de estabilidade no país.

Eleito em junho do ano passado, o membro da Irmandade Muçulmana não trouxe estabilidade para o país – que além dos problemas políticos, ainda enfrenta uma grave crise econômica. A população que lutou pelo fim de uma ditadura de três décadas comandada por Hosni Mubarak agora vê Mursi atribuir-se poderes ditatoriais, formar um gabinete dominado por islâmicos e aprovar uma Constituição de viés autoritário. A desilusão econômica, política e social leva parte da população a associar os militares à ordem que buscam para o país. Cenário que contrasta com o verificado há um ano, quando uma Junta Militar comandou o país entre a derrubada de Mubarak e a eleição de Mursi, e manifestantes protestavam contra as Forças Armadas, acusando os militares de minar os esforços para a construção da democracia. Antes mesmo de largar o poder, contudo, a junta já negociava para manter alguma relevância dentro do novo governo. E Mursi tratou de mandar para a reserva os generais mais influentes e substituiu-os por oficiais simpáticos à Irmandade. Mas, assim como ocorreu nos dias que antecederam a queda de Mubarak, as reivindicações dos que querem mudanças no país só terão chance de se tornar realidade se as Forças Armadas não estiverem apoiando o presidente.

“Quando o regime caiu, imaginávamos que a democracia nos traria transparência, desenvolvimento, um futuro melhor. Ao invés disso, só temos brigas entre oposição e governo, retóricas dos islamistas, caos e violência. Todo mundo quer falar o que bem entende, não há ordem nem segurança”, reclama o jovem Mohamed Eid, de 26 anos. “O Egito está um caos. O desemprego é alarmante com a crescente recessão econômica, temos a crise política e distúrbios sociais. Nem sequer temos um parlamento”, completa Miriam al Hage, de 28 anos. Ela se refere à suspensão das eleições legislativas que estavam previstas para começar em abril, mas foram canceladas pela comissão eleitoral. “O país está sem líderes capazes e os militares poderiam fazer essa transição, até que tenhamos os líderes que necessitamos”.

Autoridades militares têm se mantido em silêncio quanto aos debates sobre sua volta ao poder, preferindo emitir notas de patriotismo e apoio ao povo egípcio. O analista político Ibrahim El-Houdaiby escreveu em sua coluna no jornal Al Ahram, que uma intervenção militar é improvável porque as Forças Armadas não teriam ganhos em se colocar no palco político, dada a complexidade do quadro social atual, com grupos radicais claramente contrários aos militares e que teriam força para gerar distúrbios nas ruas. “O Exército sabe que durante o tempo que esteve no comando do país até a eleição do presidente Mursi só teve prejuízos à sua imagem pré-revolução, de instituição legendária e legítima perante a sociedade. No momento, a instituição está em uma posição de conforto, longe de críticas”.

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Com a oposição dividida, Mursi tenta passar a imagem de que governa para todos. Sua agenda tem sido bastante ocupada por viagens oficiais com o objetivo de atrair investimentos para a combalida economia egípcia. O roteiro incluiu uma recente visita a Dilma Rousseff, em Brasília. Ele também já visitou China, Rússia, Índia, África do Sul. O Egito também negocia um empréstimo de 4,8 bilhões de dólares com o FMI, que exige medidas de austeridade para controlar o déficit fiscal no país – que deve superar 11% do PIB no atual ano fiscal, que termina em junho. “Com um cenário doméstico complicado, Morsi tenta atrair investimentos para impulsionar a economia e acalmar a população. Mas setores pontuais da sociedade já cogitam a volta dos militares”, disse o analista Fares Mukhtar, do Instituto de estudos Políticos do Cairo.

Divisões – Pequenos grupos e movimentos civis e políticos, críticos do governo e também da oposição, vem juntando assinaturas pedindo a volta dos militares. A Frente Revolucionária do Egito afirma já ter coletado 10.000 assinaturas pela volta dos militares. Outro movimento, a Frente Independente, que reúne grupos políticos sem representação com membros do antigo Partido Nacional Democrático, de Mubarak, diz ter coletado outras 2.000, com o mesmo objetivo. Há uma movimentação para tentar recolher 1 milhão de assinaturas contra Mursi até o final de junho, quando ele completa seu primeiro ano no poder.

Mas os grupos que se mobilizam pela volta dos militares coexistem com outros, contrários à proposta. O movimento 6 de Abril, um dos mais relevantes durante os protestos contra o regime de Mubarak, repudiou recentemente em comunicado a ideia de retorno dos militares. “As Forças Armadas já provaram a incapacidade de manter a ordem no país, restringindo algumas liberdades e realizando prisões e intimidações de críticos, atos incompatíveis com uma democracia”.

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