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Dalai-lama no Brasil: ‘Uma religião jamais será universal’

Em sua 4ª visita ao país, o líder espiritual defendeu a importância da coexistência entre diferentes abordagens religiosas, tema de seu último livro

Por Cecília Araújo
Atualizado em 11 abr 2023, 19h09 - Publicado em 16 set 2011, 15h51

“A diferença entre religiões é explorada por pessoas não bem-intencionadas que visam à ascensão ao poder.”

O líder espiritual tibetano Tenzin Gyatzo, o atual dalai-lama, é simpático, mas não excessivamente. Sua postura firme demonstra que não é utópico e tem plena consciência da realidade, tanto oriental quanto ocidental. Ele gosta de dar lições de vida e fazer piadas. Na frente das câmeras, brinca ao posar para fotos: tira os óculos, esconde o rosto atrás da tradicional roupa tibetana púrpura – e gargalha. Às vezes, também faz careta, mantendo o bom humor. Em sua quarta visita ao Brasil, para um ciclo de palestras em São Paulo, ele concedeu uma entrevista coletiva à imprensa, na qual falou principalmente de religiosidade. “Vim até aqui falar a vocês como um entre os 7 bilhões de seres humanos do planeta. Somos basicamente todos iguais, nos níveis físico e mental. Claro que temos diferenças de língua, raça e fé religiosa, mas tudo isso é secundário”, iniciou sua fala ante os jornalistas, que ficaram restritos a questões sobre este e outros dois temas: negócios e ciência, deixando de fora qualquer assunto relacionado a política – mesmo após sua recente renúncia ao poder político no Tibete, no início de agosto, quando foi eleito o novo premiê do país, o advogado Lobsang Sangay.

O dalai-lama criticou os constantes conflitos religiosos, ressaltando a importância da harmonia e a consciência de igualdade. “A diferença entre religiões é explorada por pessoas não bem intencionadas que visam à ascensão no poder”, lamentou. “Mesmo que tenham filosofias diferentes, as religiões defendem valores semelhantes para a conduta ética e trazem a mesma mensagem de amor, compaixão e perdão.” Segundo ele, as ações dos humanos devem trazer conforto e prazer ao outro, não medo e dor. “Os sentimentos que são transmitidos voltam para você”, enfatizou. Em seu novo livro, Toward a True Kinship of Faiths: How the World’s Religions Can Come Together (Em direção a um verdadeiro parentesco entre as crenças: como as religiões do mundo podem se unir, em tradução livre), ele fala exatamente dos traços comuns entre as religiões, tema que sempre lhe trouxe curiosidade. “Uma religião jamais será universal. Mesmo que fosse a melhor do mundo, não conseguiria suprir as necessidades espirituais de todos os seres humanos, pois as pessoas têm diferentes disposições mentais”, observou, lembrando que, para alguns, a figura de um só criador não faz sentido, enquanto para outros, a própria religião é dispensável. “O importante é que os homens mantenham o bom senso e a ética. Dessa forma, a paz interior se estende para a família e a comunidade.”

E definindo toda a população mundial como “irmãos e irmãs que compartilham a mesma casa”, o dalai-lama aproveitou para entrar no tema sustentabilidade e elogiar a conscientização do Brasil que, segundo ele, é maior hoje do que era na época de sua primeira visita, em 1992. “Os governos estão mais entusiasmados com as questões ambientais. Em contrapartida, grandes países como a China e a Índia ainda priorizam os interesses nacionais em detrimento dos globais, o que não acho uma boa coisa”, ponderou. Para ele, a promoção da paz e a proteção da natureza são igualmente importantes, como comer e beber. “Todos precisam das duas coisas.” A mesma relação pode ser feita entre oração e meditação, que servem para recarregar as baterias, mas não são suficientes sem a prática de valores como amor e compaixão no dia-a-dia. “É importante não se deixar avassalar por sentimentos negativos, como raiva, ódio e medo, mesmo que não seja praticante”, opinou. Aos jornalistas, deu um recado especial: “Vocês têm um papel importante da promoção desses valores, em meio às inúmeras catástrofes reportadas”.

O Lama – Desde que assumiu o poder em 1950, aos 15 anos, Tenzin Gyatso se afastou da tradição “vajrayana” de isolamento e elegeu como missão espalhar pelo mundo os conceitos básicos do budismo e transformou a causa da libertação do Tibete em um tema mundialmente conhecido. Ele é o 14º de uma seita que está no poder desde o século XVII. Como todos seus antecessores, foi reconhecido como reencarnação do dalai-lama quando criança, aos 3 anos, por meio de sonhos e presságios de monges budistas. Assim como o papa, ele é designado Sua Santidade. Sua forma de pregar a libertação do Tibete sem o uso da violência lhe rendeu um Nobel da Paz, em 1989. Sua primeira visita ao Brasil foi em 1992, durante a Eco-92. Os lamas são vistos pela população local como a reencarnação de Buda. Confira mais detalhes sobre o budismo e o dalai-lama na lista abaixo:

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