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Casos de linchamento estremecem a Argentina

Onda de ‘justiçamentos’ atinge várias localidades do país. Problema vira munição para troca de acusações entre governo e oposição

Por Da Redação
5 abr 2014, 15h36

Há cerca de dois meses, o episódio envolvendo um adolescente infrator que foi preso a um poste no Rio de Janeiro por um grupo que decidiu fazer justiça com as próprias mãos escancarou a sociedade brasileira em estado bruto. Agora é a Argentina que apresenta sinais de uma ruptura social grave. Nas últimas duas semanas, foram registrados no país ao menos treze linchamentos em dez cidades. Em um dos casos, um jovem de 18 anos que havia roubado uma bolsa morreu em consequência dos ferimentos após ser surrado por dezenas de pessoas. Em outro, dois homens foram brutalmente espancados após serem confundidos com ladrões. Na maior parte das vezes, policiais intervieram para impedir os linchamentos.

Como o país terá eleições presidenciais no ano que vem, o tema não demorou a ser incluído nas declarações dos políticos. A oposição responsabiliza a ineficácia do governo em garantir a segurança dos cidadãos como causa dos ‘justiçamentos’. “Situações assim ocorrem porque há um Estado ausente e a sociedade não quer conviver mais com a impunidade”, disse o dirigente opositor do partido Frente Renovadora, Sergio Massa. Para ele, é necessário construir “um governo que garanta o Estado de Direito e o cumprimento da lei”.

Do outro lado, a presidente Cristina Kirchner rebate as críticas e ataca a oposição, responsabilizando “políticos mentirosos e sem escrúpulos” por incitar a violência. Em um discurso transmitido em cadeia nacional de rádio e TV no início desta semana, ela não mencionou diretamente a falta de segurança no país nem os linchamentos, mas falou indiretamente sobre esses problemas. “Temos que entender que precisamos de vocês que tragam tranquilidade, não vozes que suscitem desejos de vingança, de enfrentamentos, de ódio”.

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Em meio à politização, o problema não dá sinais de arrefecimento. Na última quarta, um ladrão foi espancado no bairro de Palermo, um famoso reduto de classe média alta de Buenos Aires frequentado por turistas. O criminoso havia roubado o relógio de uma americana. Acabou sendo agarrado por um policial e um pedestre que passavam por perto. O pedestre era o ator Gerardo Romano. Ao jornal La Nación ele relatou que alguns moradores chegaram pouco depois e tentaram espancar o homem. Um motorista chegou a descer do carro e ameaçar o criminoso com um machado. O ator se jogou sobre o criminoso e fez um apelo para o grupo, evitando o linchamento. Romano disse considerar “espantosa” a tentativa de fazer justiça com as próprias mãos, mas também demonstrou frustração com a maneira com que a polícia lida com o crime. O ladrão ficou detido apenas durante 12 horas.

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Em Rosário, cidade a cerca de 300 quilômetros de Buenos Aires, um grupo agrediu dois homens, de 21 e 24 anos, ao confundi-los com assaltantes que haviam acabado de roubar o escritório de uma cooperativa. Os dois só pararam de apanhar quando a polícia avisou que os verdadeiros assaltantes haviam sido presos. Também foram registrados ‘justiçamentos’ em Córdoba, a segunda maior cidade argentina – que foi palco em dezembro de uma onda de saques violentos -, em Santa Fé, em Rio Negro e em La Rioja.

A grande repercussão do assunto levou o juiz da Suprema Corte Eugenio Zaffaroni a afirmar que “os linchamentos não são justiçamentos, mas homicídios qualificados”. “Uma coisa é deter o sujeito e exercer certa violência para isso. Outra coisa é matar uma pessoa com chutes”, disse em entrevista a uma rádio. O mesmo argumento foi usado pelo ministro da Justiça e Direitos Humanos, Juan Lewis, que rejeitou a crítica da oposição à “ausência de Estado”, já que se trata “claramente de homicídio”.

Outros setores também entraram para a discussão. A Igreja Católica manifestou-se por meio da Comissão Episcopal e Pastoral Social e afirmou que “em um Estado de Direito, o caminho a ser transitado é o de ajudar as instituições que lhe correspondem. Se for ‘por mão própria’, não é justiça”, informou o jornal espanhol El País. A comissão também atacou o que considerou “cansaço” das forças de segurança “diante dos reiterados roubos e assassinatos sem que se conte com resposta da Justiça”.

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Na Argentina, país com graves problemas econômicos e institucionais, a criminalidade também preocupa, mesmo ausente dos discursos da presidente, como destacou um artigo do jornalista Fernando Laborda publicado pelo La Nación. O texto defende que o linchamento de uma pessoa “não deixa de ser um ato de covardia, apesar de poder ser explicado por um estado de indefesa, exaustão ou desespero de alguns dos linchadores”. No sábado, surgiu mais um sinal do descontrole da criminalidade no país. Daniel Scioli, o governador da província de Buenos Aires, que reúne a capital e mais de cem municípios, decretou 12 meses de situação de emergência por causa da alta nos índices de criminalidade. Nesse período, serão usados mecanismos especiais para acelerar os investimentos em segurança pública e para a convocação de policiais que já estavam aposentados.

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