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Caracas tem noite de confrontos; Maduro convoca reunião

Enquanto manifestantes mais exaltados enfrentavam a polícia, na sede do governo, Maduro criticou os EUA e anunciou uma ‘conferência pela paz’

Por Diego Braga Norte, de Caracas
23 fev 2014, 08h01

“O que tem de ser observado na Venezuela? Observe a pobreza crescente nos EUA. É isso que você tem que prestar atenção”, disse Maduro, em mais um discurso na TV, a John Kerry

O clima de tranquilidade e civilidade durante as manifestações deste sábado em Caracas se dissipou na medida em que a noite foi caindo na capital venezuelana. Por volta do fim da tarde, quando a maioria dos milhares de manifestantes já tinha deixado a Avenida Francisco de Miranda, alguns retardatários mais exaltados fecharam alguns cruzamentos com entulho e lixo. Os opositores ao governo de Nicolás Maduro proibiram a passagem dos veículos e os obrigavam a dar meia volta. O trânsito ficou caótico, com buzinaço e gritaria. A polícia venezuelana entrou em ação e dispersou os opositores com balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. Os manifestantes atearam fogo em pilhas de lixo e entulho que se acumulavam em alguns cruzamentos.

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Apesar dos reiterados pedidos dos líderes políticos das manifestações por protestos pacíficos e sem violência, uma pequena minoria parece não seguir essas premissas. São jovens – que não escondem os rostos – oriundos, em sua maioria, de comunidades pobres que se cansaram das condições em que vivem. O descontentamento está ligado a muitos fatores, mas os principais são: a ausência de oportunidades, alta da inflação (fechou 2013 acima de 56%) e da criminalidade, o desabastecimento que toma conta do país (com falta de produtos em muitos supermercados) e ausência da liberdade de expressão. A oposição encampou os pedidos dos jovens e adicionou à agenda de reivindicações pedidos pela libertação imediata de todos os detidos políticos e do líder do partido Vontade Popular (VP) Leopoldo López; anistia para todos os estudantes que foram submetidos a processos judiciais; o fim da perseguição e repressão política dos opositores e o aval para o retorno dos exilados ao país sem que eles sejam presos.

Enquanto a Polícia Nacional Bolivariana enfrentava os manifestantes nos arredores de Caracas, Maduro – mais uma vez – discursava em cadeia de rede nacional. De novo ele acusou os milhares de manifestantes de todas as classes sociais de serem de “extrema direita” e de estarem agindo para “dar um golpe de Estado”. E, como vem sendo a tônica em seus discursos, ele criticou os Estados Unidos. Mas dessa vez ele se dirigiu diretamente ao Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que recentemente havia dito que “observava com preocupação a situação política da Venezuela”. Maduro disse: “O que tem de ser observado na Venezuela? Observe a pobreza crescente nos Estados Unidos, a miséria que tira a casa dos trabalhadores e da classe média. Observe a prisão de Guantánamo, onde sequestraram mais de mil cidadãos do mundo, torturando-os. E vocês [os americanos] prometeram fechar Guantánamo. É isso que você, [Kerry] tem que prestar atenção”.

Após a crítica aos americanos, Maduro também aproveitou seu tempo em rede nacional para convocar uma reunião para a próxima quarta-feira a fim de instalar “uma conferência de paz nacional com todos os setores políticos do país”. Ele ressaltou que, depois de receber várias propostas, decidiu “que este é o caminho para a verdadeira e eterna paz”. O presidente, no entanto, não forneceu mais detalhes sobre a reunião nem sobre quem o governo irá convidar. Há uma expectativa de que o governador opositor e ex-candidato presidencial Henrique Capriles seja convidado. Seria o primeiro encontro de Maduro e Capriles desde o recrudescimento dos protestos contra o governo, iniciados no último dia 12. (Continue lendo o texto)

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Confrontos – Os embates mais ríspidos estre as forças policiais e os manifestantes se concentraram em localidades mais ao leste de Caracas, principalmente nos municípios de Chacao (que já foi comandado por Leopoldo López) e Altamira, ambas cidades conurbadas com a capital venezuelana. Pelo Twitter, o prefeito de Chacao, Ramón Muchacho, comunicou que ao menos três manifestantes ficaram feridos, sendo um deles com um trauma na face. Em Altamira, município distante a apenas uma estação de metrô de Chacao, uma nuvem de gás lacrimogênio tomou conta da Praça Altamira e das ruas do entorno.

Em Chacao, área nobre da grande Caracas, se concentram muitos hotéis, sedes de multinacionais e o centro financeiro do país, com a Bolsa de Valores da Venezuela e muitos bancos – o mais imponente é o prédio cilíndrico e espelhado do Banco das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (Banfanb). Com o corre-corre nas ruas, com sirenes de polícia, barulhos de tiros e bombas, muitos hotéis fecharam suas portas para impedir que manifestantes entrassem. Com isso, muitos hóspedes também ficaram impossibilitados de saírem às ruas.

Estudantes ajudam a população – Por volta das 20:00 horas, com vassouras e pás, alguns manifestantes que estavam nos arredores da Praça França, começaram a remover as barricadas que interrompiam a passagem no movimentado cruzamento da Avenida Francisco de Miranda com a Avenida Luis Roche. Em menos de uma hora, o tráfego foi restabelecido. “Aqui estamos todos unidos, com nossas cabeças erguidas após essa luta. Na quarta-feira vieram aqui umas milícias e nos agrediram. Não voltaram hoje porque sabem que vamos nos defender. Vamos seguir em pé, exigindo justiça e segurança para a Venezuela”, disse um estudante de Comunicação Social que se identificou como Hernández.

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