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Acessível a todos, Francisco é lembrado por sua humildade

Pessoas que conviveram com Bergoglio contam que ele nunca demonstrou interesse em se tornar papa. 'Não achava que tinha potencial', diz colega

Por Cecília Araújo, de Buenos Aires
16 mar 2013, 19h05

Poucos apostavam que o argentino Jorge Mario Bergoglio seria escolhido para o cargo de papa, por causa de sua idade, 76 anos. Mas quem o conhecia de perto sabia de seu potencial. Bergoglio participava de diversos sínodos pelo mundo todo e conhecia de perto muitos bispos e cardeais. Por outro lado, segundo pessoas próximas a Bergoglio, ele próprio não tinha vontade de ser papa. “Ele nunca demonstrou interesse em se tornar papa. Acho que ele não se sentia à altura do cargo, pensava que outros cardeais tinham mais potencial para assumir essa grande responsabilidade”, diz o irmão jesuíta Mario Rausch, de 60 anos, que trabalha na Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel – da qual Bergoglio foi professor e reitor – e foi admitido na Companhia de Jesus em 1977 pelo atual papa, então Superior Provincial dos jesuítas.

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Apesar de resistência inicial do cardeal Bergoglio, na última quarta-feira seus colegas consideraram que ele era o mais apto para a missão. “Estou convencido de que Bergoglio aceitou enfrentar esse desafio ao reconhecer que essa não é apenas uma decisão dos cardeais, mas uma decisão de Deus, a que não se pode dizer não. Sabemos que não vai ser fácil enfrentar os problemas por que passa o Vaticano hoje. Mas acreditamos que o papa Francisco fará um bem enorme à Igreja. E nós, jesuítas, nos colocamos à diposição para acompanhá-lo nesse novo caminho”, completa Rausch. O irmão jesuíta conta que Bergoglio, pessoalmente, é um homem reservado e afável, mas com um caráter firme e definido. “Como meu superior, sempre foi muito acessível e intuitivo. Logo percebia quando alguém estava passando por algum problema”, diz.

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Para o jornalista Esteban Pittaro, que escreve uma tese de doutorado sobre informação religiosa na Universidade Austral de Buenos Aires e tem uma coluna no canal espanhol Cope sobre a Igreja Católica na América Latina, não se pode dissociar o lado pessoal de Bergoglio do profissional. “Acima de tudo, Bergoglio é um padre. Uma vez, tive a felicidade de conversar com ele por telefone. Ele me chamou pelo nome e disse: ‘Aqui quem fala é o padre Bergoglio’. Mas ele era um cardeal, que seria designado por ‘eminência reverendíssima’. Isso diz muito sobre sua personalidade”, diz.

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“Qualquer pessoa que manifestasse vontade de se conectar com ele, independentemente de quem fosse, ele escutava. Sempre respondia aos e-mails que recebia, por exemplo. Pedia para alguém próximo imprimir todos e enviar as respostas que escrevia à mão. Uma vez, escrevi a ele algumas questões pessoais e recebi seus conselhos, inclusive matrimoniais. Ele também se mostrou interessado em minha tese de doutorado e prometeu ler depois de pronta”, acrescenta Pitarro.

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O começo de tudo – O porta-voz da Arquidiocese de Buenos Aires, Federico Walls, que tinha contato diário com Bergoglio enquanto arcebispo de Buenos Aires, conta que o atual papa descobriu sua vocação de forma repentina. Ele passava de ônibus em frente à Basílica San José de Flores, em Buenos Aires, quando sentiu a necessidade de descer do veículo e entrar na Basílica para rezar e confessar. Foi lá que Deus pediu que se tornasse sacerdote”, conta Walls. “Quando chegou ao acerbispado, escolheu morar no prédio administrativo da Cúria de Buenos Aires, em um pequeno quarto no terceiro andar. Ele fazia sua própria comida e comia numa sala junto com os outros funcionários”, completa.

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Walls também destaca a humildade de Bergoglio ao lidar com as pessoas. “Enquanto arcebispo, ele tinha um jeito próprio de cumprimentar. Apertava a mão e segurava o antebraço, para que a pessoa não se inclinasse diante dele. Era uma forma de se colocar no mesmo patamar que qualquer um”, lembra. Segundo o porta-voz, todos os domingos, Bergoglio acompanhava os jogos de futebol e torcia pelo seu time, San Lorenzo. Além disso, gostava de caminhar pela cidade e tomar café com os sacerdotes. Nunca assistia à televisão. “Também gostava muito de literatura argentina, era um erudito. Chegou a conhecer Jorge Luis Borges pessoalmente enquanto era professor do Colégio Jesuíta de Santa Fé. Mas amigos de Bergoglio dessa época contam que, embora muito inteligente, Bergoglio era disperso e travesso.”

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