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11 parentes de jovem assassinado no México vivem ilegalmente nos EUA

Há quatro anos o rapaz começou a planejar a ida para os EUA. Ele dizia que os irmãos que estavam lá não ajudavam o pai o suficiente

Por Adriana Caitano, de Sardoá e Governador Valadares
1 set 2010, 15h53

Morto na última semana por traficantes em uma chacina no estado de Tamaulipas, no México, quando tentava chegar ilegalmente aos Estados Unidos, Juliard Aires Fernandes cresceu com o sonho de ir para os Estados Unidos e enriquecer. Ele não é o único em sua família. Em Sardoá, na região do Vale do Rio Doce (MG), a cerca de 60 quilômetros de Governador Valadares, boa parte de seus familiares já tentaram ou conseguiram chegar à América do Norte em busca de melhores condições financeiras. Atualmente, sete primos, dois irmãos, uma tia e um cunhado de Juliard estão no país.

O jovem assassinado no México, que completaria 20 anos no próximo dia 8, é o caçula de 10 irmãos e perdeu a mãe há oito meses. Concluiu somente a quarta série do ensino fundamental e começou a trabalhar cedo. Vivia em uma casa simples, no Córrego Tronqueirinha, na zona rural de Sardoá. “Depois que a mãe morreu, ele é que cuidava da casa, resolvia as coisas para o pai, ia ao banco, capinava a roça, era carinhoso, fazia tudo”, relata a tia de Juliard, Maria da Glória Aires. Segundo ela, há quatro anos o rapaz começou a planejar a ida para os EUA. “Ele dizia que os irmãos que estavam lá não ajudavam o pai o suficiente e me pediu para cuidar dele por cinco anos”.

Glória conta que tentou dissuadir o sobrinho da ideia, mas seu próprio exemplo o fazia acreditar no sonho. A tia de Juliard voltou dos Estados Unidos há três anos e ficou lá por seis. Na época, o México ainda aceitava imigrantes sem visto e Glória chegou ao solo americano em oito dias, ao lado do marido. No ano seguinte, voltou ao Brasil para buscar as filhas, na época com 15 e 18 anos. A mais velha está lá até hoje. “Eu cuidei de uma idosa e de crianças, mas era uma solidão só, trabalhava, comia e dormia, não tinha momentos de lazer”, detalha.

A tia do rapaz, porém, garante ter conseguido dinheiro suficiente para comprar casas, apartamentos, chácara e carros no Brasil, além de pagar a faculdade das filhas e ajudar familiares. Ainda assim, Glória diz que nunca mais quer morar nos Estados Unidos e que reza todos os dias para a filha ser deportada. “Não adiantou eu dizer para o Juliard não ir, porque ele viu meu caso e achou que se daria bem, juntou dinheiro e foi”, relata. Moradores da região e outros parentes afirmam que o rapaz e o amigo Hermínio Cardoso dos Santos, 24 anos, que teve documentos encontrados entre as vítimas da chacina, pagaram cada um cerca de 24.000 dólares pela viagem, mas a tia nega. Apesar de não comentar, há informações de que a família estaria sendo ameaçada e por isso tem preferido o silêncio.

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Riscos – Os parentes de Juliard, contudo, não têm somente histórias de sucesso. O primo Vander Aires Fernandes, 35 anos, foi aos Estados Unidos duas vezes, em 2003 e em 2006. Na primeira, pagou 10.000 reais a atravessadores, os chamados coyotes, e, na segunda, cobraram-lhe 13.000. Ele relata que, junto com um grupo de 100 pessoas, atravessou regiões desertas a pé. “Davam só um golinho de água para cada um e um montinho de arroz com frango sem tempero. Tínhamos que acatar as ordens deles sem reclamar”, lembra.

Vander conta que, em 2006, quase a metade dos membros do grupo morreram no meio do caminho. “Vi um monte de gente que atravessava um rio pendurado numa corda e morreu afogado quando a polícia chegou e os coyotes a largaram”, comenta. Segundo ele, em 2006 sua esposa foi deportada ao entrar nos EUA e ele, sequestrado no caminho. “Os bandidos ligavam para o meu pai pedindo dinheiro por oito dias, eu chorava muito, implorava pela minha vida, lavava o banheiro para ter comida”, lembra.

Ao todo, Aurélio Aires, pai de Vander, teve que enviar 14.000 dólares aos sequestradores. Vander conseguiu entrar em solo americano, onde ficou mais três anos trabalhando na mesma área em que atua hoje no Brasil, a construção civil. Ele garante que não conseguiu juntar tanto dinheiro quanto gostaria e, portanto, o sofrimento não valeu a pena. “Não volto para lá nunca mais”, diz.

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