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Tite, o ex-retranqueiro – e um ídolo improvável da torcida

O técnico deu a volta por cima e conseguiu, enfim, conquistar os corintianos

Por Da Redação
4 jul 2012, 23h55

Desde que o Corinthians deu sua arrancada para a conquista do último Brasileirão, o corintiano finalmente entendeu a concepção de jogo do treinador, calcada em muita marcação e organização tática

Em pouco mais de um ano, Tite deu uma virada quase inacreditável quando se trata da carreira de um técnico de futebol no Brasil. Na Libertadores do ano passado, quando o Corinthians foi eliminado ainda na fase preliminar ao torneio, contra o fraquíssimo Tolima, poucos achavam que ele resistiria no cargo. Desde então, Tite não apenas conseguiu manter o emprego como também foi campeão brasileiro, campeão da Libertadores e o melhor: virou ídolo da torcida, algo que pouquíssimos colegas de profissão são capazes de conquistar no país. O gaúcho, que começou sua segunda passagem do Corinthians sob forte desconfiança, agora é genuinamente admirado pelos corintianos, que se identificaram com seu estilo, sua liderança e sua filosofia (confira no quadro abaixo). Depois da era Ronaldo, com um superastro como dono do time, a equipe voltou às suas origens, com uma equipe coesa, unida e esforçada, bem ao gosto do torcedor.

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No Corinthians campeão, nenhum astro, muitos guerreiros

Ainda que por caminhos diferentes, a trajetória de Tite faz lembrar a de outro técnico que acabou sendo idolatrado nas arquibancadas. Depois de chegar ao São Paulo com a fama de pé frio e perdedor, Telê Santana conquistou todos os títulos possíveis – e foi justamente com o bicampeonato da Libertadores que mudou sua reputação e atraiu a admiração do torcedor. Se Telê tinha fama de jogar de forma excessivamente ofensiva e pouco competitiva, Tite foi chamado de retranqueiro. Desde que o Corinthians deu sua arrancada para a conquista do último Brasileirão, porém, o corintiano finalmente entendeu a concepção de jogo do treinador, calcada em muita marcação e organização tática. Com um time compacto, aguerrido, dinâmico e eficiente, conseguiu o que o Corinthians perseguia havia anos: o primeiro título sul-americano de sua história. Se depender do torcedor, Tite será diferente dos outros técnicos em mais um aspecto: ficará por muito tempo no comando do Corinthians.

A receita para ser campeão

No ano passado, por ocasião da conquista do título brasileiro, Tite contou em entrevista exclusiva a Silvio Nascimento como conseguiu chegar à disputa do título – e deu a receita de como montar um grupo vencedor, apesar das adversidades.

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A força do time

“O objetivo do grupo ficou acima do individual, o que é muito difícil de ocorrer dentro de um time. É preciso todo dia falar, repetir, avisar, é preciso mostrar como fazer, se fazer entender. O desafio é conseguir consolidar uma linguagem que o atleta entenda.”

Lidar com estrelas

“Cada um tem uma característica que deve ser aproveitada pela equipe. Um dá velocidade, outro dá força, outro dá qualidade técnica. Precisamos de cada um desses complementos, e ainda precisamos que o departamento médico funcione bem, para que o atleta tenha plena saúde e possa dar o melhor. Além disso, há o tratamento que deve ser dispensado a cada atleta, porque cada um reage de uma forma. É preciso saber quem aceita uma conversa mais dura, um xingamento, ou quem tem de receber um carinho. É preciso controlar todos esses detalhes.”

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Nada de paizão

“Paizão, com a conotação de passar mão na cabeça, não. Sigo o que aprendi com meu pai, que era um homem justo. Se está certo eu falo, se está errado também digo. Às vezes tem de ser em particular, mas temos um código de conduta. O atleta aceita a cobrança do técnico, desde que não seja exposto à opinião pública, porque aí se perde a riqueza da relação, a confiança.”

Jeito brasileiro

“Pego aqui um comentário do holandês Cruyff, de algum tempo atrás: cada país tem uma característica que deve ser preservada. Não posso exigir do jogador brasileiro que seja mais frio, mais ortodoxo, que só pense na marcação, que jogue atrás, ou que apenas explore contra-ataque. Hoje cada cultura empresta um pouco ao futebol. Já vemos a Alemanha com um futebol mais solto, fazendo a bola girar, um jogo mais quente; a Espanha mas incisiva em determinadas jogadas. Hoje os jogadores brasileiros têm uma cultura tática melhor, eles entendem muito mais a posição e a função que têm de exercer. O intercâmbio, a televisão, a imprensa, tudo evoluiu muito na qualificação, e tem ligação direta com a melhora do jogador.”

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Como lidar com as críticas

“Escuto muita barbaridade nos comentários. Já falei para repórteres: ‘Vocês acham que os jogadores não riem quando vocês falam besteira?’ Isso mexe na credibilidade. Muitas vezes um jogador pode não falar um plural corretamente, ou errar uma palavra, mas não significa que não tem inteligência na sua atividade. Há vários tipos de inteligência. Se eu passar uma orientação absurda aos jogadores, logo eles vão entender que aquilo não tem coerência. A inteligência dele é do jogo, e eles sabem, eles absorvem. Se um comentarista não sabe interpretar uma jogada, provavelmente vai falar besteira, porque não leva em conta a situação e as variantes da jogada no momento. Já fui comentarista, passei um ano em vídeo, e compreendi o outro lado. Eu procurava compreender a ideia do técnico, o que ele queria fazer com aquilo. O técnico trabalha em cima de uma previsão e o comentarista em cima de um fato acontecido, essa é a diferença.”

Estabilidade

“O pior de ser treinador é a instabilidade do cargo. Traz visibilidade grande e traz valorização financeira, principalmente aos técnicos top, como no meu caso. Mas comecei ganhando salário mínimo, paguei o preço para chegar até aqui, investi na carreira, fiquei muito tempo desempregado, com a autoestima lá embaixo. No Brasil não temos ainda cultura de dar tempo ao técnico, poucos conseguiram trabalhar com tempo. Tudo é culpa do técnico. Se perde três partidas já se fala em demissão. Mas há como mudar. Por exemplo, deveria ser regulamentado que um clube só pode ter dois técnicos numa temporada, ou que não pdoeria treinar duas equipes no mesmo torneio. Enfim, ideias para se pudesse trabalhar melhor.”

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Pressão

“A Libertadores é a menina dos olhos dos times brasileiros. Senti isso no Grêmio, no Internacional, e no Corinthians, principalmente, porque a perda trouxe, neste ano, um peso muito grande. Naquele momento o presidente Andrés Sanchez disse que acreditava no trabalho e bancou. Ali senti que balançava o cargo. Até parecia que não havia metodologia de trabalho, correção de rumos, enfim. Para a imprensa, a solução seria apenas trocar o treinador…”

Corinthians

“Trabalhar no Corinthians é ter o tempo todo a emoção à flor da pele. Aqui tudo é mais… mas sempre digo aos jogadores que é preciso ter os pés no chão: Digo a eles que, se num dia são aclamados como heróis numa vitória, que não acreditem. Da mesma forma, que se forem considerados vilões numa derrota, que não acreditem. Futebol não é assim. Tem de dividir tudo. No Corinthians, a torcida em uma característica especial. Apoia o time o jogo todo. Mas quando termina também vem a cobrança, na mesma proporção do apoio. E se não tiver empenho, competitividade, vai ser cobrada. Mas a cara do Corinthians é a competitividade.”

Derrota

“Trabalho com a verdade, não dá para criar ilusão. Todos sabiam das possibilidades de vencer e de perder. Não podemos virar as costas para uma oportunidade e é preciso ir lá vencer e conseguir o título. Se não for campeão, não vai morrer, não vai acabar, não pode ser obsessão. Perder é humano, o homem não é máquina, não tem só vencedor na vida. Claro, que quando depende só da gente, a derrota tem um peso muito maior.”

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