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Corrida contra o tempo

Faltam menos de três anos para o início da Copa no Brasil e já começa a parecer improvável que os estádios e as cidades-sede estejam adequados — com alguma dignidade — para receber os jogos

Por Da Redação
30 jul 2011, 01h26

O Brasil foi anunciado como o palco da Copa de 2014 em 30 de outubro de 2007. Três anos e nove meses depois, pairam preocupantes indefinições sobre as cidades-sede. Um exemplo emblemático do atraso e do improviso que têm dado o tom da preparação brasileira veio da principal cidade do país: somente há duas semanas São Paulo oficializou junto à Fifa seu estádio para o Mundial – a Arena Corinthians, que muito provavelmente receberá a abertura do torneio, e ainda é mero canteiro enlameado. A maior parte dos estádios, que deveriam ser construídos com dinheiro privado, será erguida com financiamento público. Mais desoladora que o atraso nas arenas é a inércia que toma conta das obras de mobilidade urbana, cuja imensa maioria não saiu do papel. Também estão longe de decolar as reformas de nossos aeroportos, cujas taxas de ocupação em 2010 já indicavam um grau de saturação proibitivo. De nada adiantará ter estádios modernos, em consonância com os padrões exigidos pela Fifa, se as mazelas de nossa infraestrutura não permitirem a jogadores, torcedores, turistas e autoridades deslocar-se pelo país.

São Paulo A maior e mais rica metrópole brasileira age como quem sabe ter seu lugar garantido na Copa de 2014, mas não se esforça para de fato merecê-lo. Tida como escolha óbvia para a abertura do Mundial, a capital paulista entrou na berlinda em junho de 2010, quando a Fifa excluiu o estádio do Morumbi do torneio no Brasil – por motivos técnicos, financeiros e políticos. Todo o planejamento que vinha sendo conduzido pela prefeitura e pelo governo de São Paulo estava voltado para o estádio do São Paulo: não à toa, o principal projeto de mobilidade urbana da cidade ainda é um monotrilho que ligará o Aeroporto de Congonhas à região do Morumbi. Em setembro, outro estádio foi oficializado como representante paulista na Copa: a nova arena do Corinthians, com 48.000 lugares, que seria construída em Itaquera, na Zona leste da cidade, orçada inicialmente em cerca de 330 milhões de reais. Para sediar o jogo de estreia do Mundial, o estádio corintiano precisa oferecer 65.000 lugares – o que demanda a instalação de arquibancadas provisórias com 17.000 lugares. O projeto do Itaquerão, no entanto, ainda está longe de engrenar. Corinthians e Odebrecht, construtora responsável pela obra, divergiram sobre o orçamento da empreitada. Um levantamento posterior da empresa apontou um custo total de 1,07 bilhão de reais – o clube agora fala em cerca de 820 milhões de reais. As garantias financeiras só foram apresentadas à Fifa no último dia 11, e boa parte delas tem origem controversa: a prefeitura de São Paulo liberou 420 milhões de reais em incentivos fiscais para a construção do estádio, independentemente da confirmação da capital paulista como sede da abertura. Dois dias depois, as garantias foram aceitas, o que confirmou a condição do Itaquerão como sede e alijou de vez o Morumbi de participar da Copa de 2014. Rio de Janeiro Seria impensável uma Copa do Mundo no Brasil sem o Maracanã, cuja história se confunde com a do próprio futebol brasileiro e mundial. Igualmente difícil é entender como um estádio que há quatro anos foi reinaugurado após uma reforma de 200 milhões de reais para os jogos Pan-Americanos pode estar novamente desfigurado por demolições. Não bastasse ter se perdido o valor investido em 2007 (e outros 100 milhões de reais gastos em 1999, antes do Mundial de Clubes da Fifa), o custo da reforma do provável palco da final da Copa subiu exponencialmente. Até outubro de 2009, a expectativa era que a obra fosse realizada por uma parceria público-privada (PPP), por cerca de 430 milhões de reais. Naquele mês, o governador Sérgio Cabral anunciou a desistência do modelo e oficializou a realização da obra com dinheiro público. Em dezembro de 2009, foi comunicado que a arquibancada inferior, inaugurada em 2007, seria demolida para atender às exigências da Fifa. Na Matriz de Responsabilidades da Copa de 2014, firmada em janeiro de 2010, o custo previsto do estádio saltara para 600 milhões de reais. O edital para a reforma, em junho de 2010, trazia o orçamento de 720 milhões de reais, porque incluía a demolição da arquibancada superior. A licitação foi vencida por um consórcio das empresas Andrade Gutierrez, Odebrecht e Delta, por 705 milhões de reais. Em março deste ano, o governo do Rio anunciou a necessidade de troca da cobertura do Maracanã. Dois meses depois, o valor da obra já chegara a 932 milhões de reais – o projeto executivo e o orçamento completo ainda estão sob análise do Tribunal de Contas da União. Brasília Candidata a receber a abertura da Copa, a capital federal apostava no premiado plano urbanístico de Lucio Costa como vantagem sobre as concorrentes. Brasília tem avenidas largas, áreas setorizadas e – o que é raro na maioria das grandes cidades – disponibilidade de espaço. O bom andamento das obras do Estádio Nacional – apesar da constrangedora falha na implosão de uma das arquibancadas, em maio – também serve como cartão de visita da cidade. A construção da arena, que está sendo erguida no lugar do antigo Mané Garrincha, está a cargo de um consórcio das empreiteiras Andrade Gutierrez e Via Engenharia. O valor da obra é de 671 milhões de reais – mas o edital não incluía itens básicos, como gramado, traves e iluminação, o que deve elevar ainda mais os custos. A grande crítica que se faz ao projeto do estádio é quanto à capacidade de 71.000 lugares, superdimensionada em relação à demanda dos clubes do Distrito Federal: a rigor, afastadas as ambições desmedidas, Brasília poderia ter um estádio menor. Segundo cálculos do próprio autor do projeto, uma arena para 45.000 pessoas custaria cerca de 350 milhões de reais a menos, sem mencionar a redução dos custos de manutenção. Pouco antes de assumir o governo do Distrito Federal, Agnelo Queiroz chegou a sinalizar uma redução da capacidade do estádio – medida que havia sido recomendada pelo Ministério Público -, mas, já no cargo, mudou de ideia. A preocupação com o destino do Estádio Nacional após o Mundial pode ser justificada com números. Em 2009 e 2010, o Mané Garrincha recebeu 26 jogos das três divisões do Campeonato Brasiliense. O público total no período foi de 32.243 pagantes – menos que a metade da capacidade do novo estádio -, e a renda foi de apenas 63.159 reais. Belo Horizonte

As obras de reforma do Mineirão estão entre as poucas que se encontram em dia com cronograma estabelecido pela Fifa. No início do ano, a Secretaria da Copa prometeu inaugurar o estádio com uma grande festa no réveillon de 2013. É com esse argumento – o cumprimento rigoroso dos prazos – que Belo Horizonte se candidata a ser uma das protagonistas em 2014, mesmo sem receber os jogos de abertura e encerramento. O novo Mineirão terá 69.000 lugares e está sendo reformado por meio de uma parceria público-privada (PPP). A licitação foi vencida pelas construtoras Construcap, Egesa e Hap, pelo valor de 743,4 milhões de reais – bem acima dos 426,1 milhões previstos na Matriz de Responsabilidades. Até aqui, Belo Horizonte conseguiu driblar os maiores entraves à continuidade da obra – uma greve dos operários, que reivindicavam melhores condições de trabalho, e um relatório do Tribunal de Contas do Estado, que apontou irregularidades na reforma. Mas o fechamento do Mineirão teve seus efeitos colaterais: Atlético Mineiro e Cruzeiro se viram obrigados a jogar na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas.

O plano inicial para suprir a ausência do Mineirão era reformar o Independência, que pertence ao América. O estádio, que foi repassado por vinte anos ao governo estadual, recebeu um investimento de 30 milhões de reais do Ministério do Turismo – um perigoso precedente de investimento direto do governo federal em um estádio – e outros 95 milhões do governo estadual. Com atrasos frequentes, a obra só deverá ser concluída em dezembro deste ano. Belo Horizonte, como uma das sedes da Copa, ainda precisa resolver o mais grave de seus gargalos: a falta de hotéis de alto padrão, exigidos pela Fifa. Hoje, a capital mineira tem apenas um hotel cinco-estrelas, mas garante contar com outros quatro do mesmo nível em licenciamento ou construção.

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Porto Alegre Na cidade que abriga a maior rivalidade futebolística do país, a disputa entre Grêmio e Internacional dá o tom da preparação para a Copa. O desejo dos clubes de suplantar o rival em tudo faz com que Porto Alegre seja a única entre as sedes de 2014 a contar com a construção de dois estádios privados aptos a receber os jogos do Mundial. No “Grenal das arenas”, o Inter saiu na frente: desde a pré-candidatura de Porto Alegre, o projeto apresentado pela cidade sempre foi o da reforma de seu estádio, o Beira-Rio. As obras de modernização foram inicialmente orçadas em 155 milhões de reais, valor que o clube pretendia financiar com a antecipação de receitas dos novos camarotes. Mas, desde o fim do ano passado, o Inter se viu diante de dois entraves. O primeiro, técnico: insatisfeita com os problemas de visibilidade da arquibancada inferior, a Fifa exigiu o rebaixamento do gramado do Beira-Rio – uma obra inviável, pelo fato de o estádio se localizar em um aterro, com um lençol freático superficial. O segundo, financeiro: com dificuldade para atingir o valor desejado com os camarotes, o clube se viu pressionado pela Fifa a apresentar garantias financeiras adicionais. Para equacionar o problema técnico, o Inter apresentou uma nova versão do projeto, em que se eliminam os pontos cegos. Mas o orçamento saltou para cerca de 270 milhões de reais – o que pressionou o clube a buscar uma parceria com a construtora Andrade Gutierrez. O Grêmio, por meio de um acordo com a construtora OAS, erguerá um novo estádio para 54.000 pessoas, orçado em 400 milhões de reais, e que já atenderá aos padrões da Fifa. As obras começaram e a conclusão está prevista para dezembro de 2012, a tempo de receber a Copa das Confederações. Ainda que não se fale abertamente sobre isso, a Grêmio Arena é um confortável plano B para o Mundial em Porto Alegre.

Curitiba

Quando o Brasil ainda não havia definido quantas ou quais seriam suas sedes para 2014, Curitiba seria incluída em qualquer lista de cidades favoritas a receber o Mundial. Primeiro, por ser reconhecida como modelo entre as capitais brasileiras em mobilidade urbana e organização. Segundo, por ser um dos centros tradicionais do futebol nacional. E, terceiro, pela Arena da Baixada, que, fora o Engenhão, no Rio, é o que se tem mais próximo de um estádio moderno no Brasil. Entretanto, a cidade é uma das que mais têm dificuldades em sua preparação – e justamente pelo que era tido como seu maior trunfo, o estádio do Atlético Paranaense.

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Em 2009, com as exigências da Fifa, o custo da reforma saltou de 69 milhões para 135 milhões de reais – valor que o clube não estaria disposto a pagar. Para evitar a exclusão do estádio da Copa de 2014, a prefeitura de Curitiba e o governo do Paraná aprovaram o repasse de 90 milhões de reais ao Atlético Paranaense em títulos de potencial construtivo – papéis emitidos pelo governo que podem ser repassados à construtora que vencer a licitação da obra. No entanto, o grande número de exigências da Fifa – como a troca de todas as cadeiras por outras, rebatíveis – fez com que o valor da reforma atingisse 220 milhões. Até o fechamento desta edição, o clube analisava as propostas de duas construtoras para fazer uma parceria. Se não houver mais imprevistos, as obras poderão começar em setembro.

Recife Pernambuco é o estado nordestino em que o interesse pelos clubes locais supera com folga a influência das agremiações do Sudeste. O Campeonato Pernambucano é o estadual que mais leva torcedores ao estádio e, mesmo fora da série A do Brasileiro, Sport, Santa Cruz e Náutico mantêm médias de público entre as melhores do país. Os três clubes, aliás, jogam em seus próprios estádios – fato que não ocorre no Rio de Janeiro nem em São Paulo, por exemplo. Entretanto, o governo do estado optou pela construção de um quarto estádio para sediar as partidas do Mundial: a Arena Pernambuco, que está sendo erguida em São Lourenço da Mata, município a 19 quilômetros do Recife, por meio de uma parceria público-privada (PPP). A licitação foi vencida por um consórcio liderado pela Odebrecht, pelo valor de 464 milhões de reais. O consórcio vencedor também deverá construir no entorno do estádio a Cidade da Copa, complexo com empreendimentos imobiliários comerciais e residenciais, que só será concluído após o Mundial. Passada a apreensão inicial pelo atraso no começo das obras, o que inspira mais preocupação é o destino do estádio depois da Copa. Até o momento, apenas o Náutico manifestou interesse em jogar na Arena Pernambuco. Proprietário dos Aflitos, acanhado estádio para 22.000 pessoas incrustado em um bairro residencial do Recife, o clube vê com bons olhos a possibilidade de se mudar para São Lourenço da Mata, mas não saiu satisfeito das primeiras conversas com a Odebrecht. O Sport, por sua vez, não descarta a possibilidade de negociar um acordo, mas diz estar próximo de tirar do papel o antigo sonho de construir uma nova arena no lugar da Ilha do Retiro. O Santa Cruz, que no ano passado teve a melhor média de público do Brasil, não tem interesse em deixar o estádio Arruda, que tem capacidade para 60.000 pessoas. Para reverter esse quadro, o governo de Pernambuco pretende empreender um programa de incentivos à adesão dos clubes. Salvador

Salvador, que chegou a sonhar com a partida inaugural, foi a primeira cidade a licitar as obras de sua arena. Em dezembro de 2009, o governo do estado anunciou como vencedor da parceria público-privada (PPP) o consórcio formado pelas construtoras OAS e Odebrecht, que terá a concessão do estádio por 35 anos. A Arena Fonte Nova está sendo construída no lugar do estádio homônimo, marcado pela tragédia que deixou sete mortos em 2007, quando um pedaço da arquibancada cedeu. Além de ter um operador privado – o que aumenta a possibilidade de que o estádio tenha uma gestão eficiente -, a Fonte Nova deverá contar com os jogos do Bahia, clube de grande torcida, com o qual foi assinado um memorando de entendimentos.

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As obras do estádio sempre estiveram entre as que mais se aproximam do cronograma determinado pela Fifa, fato comemorado e alardeado como trunfo pelo comitê local. No entanto, o Tribunal de Contas da união (TCU) fez diversas ponderações sobre o estádio. O item mais questionado é o alto valor da contraprestação pública – pagamento efetuado pelo estado ao parceiro privado como garantia de que o empreendimento terá retorno financeiro. Além de contar com um empréstimo de 323,6 milhões de reais do BNDES, a concessionária receberá do governo da Bahia 99 milhões anuais, por um prazo de quinze anos, totalizando 1,5 bilhão de reais. A despeito do alto valor global empregado na construção do estádio, o governo estadual se mostra inclinado a investir ainda mais para sediar a abertura da Copa do Mundo. Projetada para receber 50 000 pessoas, a Arena Fonte Nova precisaria contar com pelo menos 15 000 assentos temporários para satisfazer às exigências da Fifa para o jogo inaugural. Até o momento, porém, o governo da Bahia e a concessionária não têm estimativas de quanto custaria a ampliação provisória da Fonte Nova.

Fortaleza

Apesar de ter sido uma das primeiras cidades-sede a lançar o edital de seu estádio, Fortaleza se viu diante de um grande atraso no início das obras. Entre fevereiro e outubro de 2010, o processo licitatório da reforma do Castelão arrastou-se entre denúncias de fraudes e irregularidades, suspensões do Tribunal de Contas do Ceará, batalhas judiciais e até uma ameaça de CPI, que acabou não vingando. Apenas no início de novembro foi anunciado como vencedor da licitação o consórcio formado pelas empresas Galvão Engenharia, Serveng e BWA. Apesar do atraso na largada, o consórcio garante que 95% do estádio estará concluído em dezembro de 2012 e apto a receber a Copa das Confederações no ano seguinte – ainda que as informações extraoficiais deem conta de que a cidade não será uma das sedes da competição.

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Se em outras cidades o destino pós-Copa dos estádios é motivo de preocupação, a presença frequente das torcidas no Castelão reduz a possibilidade de subaproveitamento – o risco é considerado moderado pelo TCU. Os dois principais times do estado, Ceará e Fortaleza, costumam ter médias de público semelhantes às das principais equipes do Brasil. Com 2,5 milhões de habitantes, Fortaleza já é a quinta capital brasileira em população e a primeira em densidade demográfica, porém o grande crescimento dos últimos anos não foi acompanhado pela ampliação da infraestrutura, e os sistemas viário e de transporte ainda são precários. Por outro lado, a cidade se beneficia da ampla oferta de hotéis, pelo fato de ser um dos principais destinos turísticos do país.

Natal

A Arena das Dunas, estádio de Natal para a Copa de 2014, talvez seja o exemplo mais bem-acabado de como erros de planejamento e gestão podem atropelar os já exíguos prazos para o evento. Pelo cronograma inicial, o vencedor da licitação da parceria público-privada (PPP) para construção e operação do estádio deveria ter sido definido em junho de 2010. Mas houve problemas políticos – decorrentes do período eleitoral -, burocráticos (como a demora na aprovação das garantias financeiras) e até denúncias de irregularidades, como a dispensa de licitação para a elaboração do projeto executivo do estádio, que custaria incríveis 27 milhões de reais. No fim do ano passado, após a licitação ter sido suspensa pelo Ministério Público, nenhuma empresa apresentou proposta para o estádio. Para tornar o empreendimento mais atraente aos olhos dos investidores, o governo do Rio Grande do Norte modificou o edital. A construtora OAS, única a apresentar proposta, terá a concessão da Arena das Dunas por vinte anos e receberá do governo uma contraprestação de 1,28 bilhão de reais – não à toa, o contrato foi questionado pelo Ministério Público por desequilíbrio econômico. Orçado em 400 milhões de reais, o estádio foi um dos identificados pelo Tribunal de Contas da União como potenciais elefantes brancos. Se já seria difícil torná-lo economicamente viável com a baixa média de público dos clubes locais, que têm pouca expressão no cenário nacional, a perspectiva de que eles utilizem a nova arena é baixa, ao menos por enquanto. O ABC já tem casa própria – o Frasqueirão, com 18 000 lugares – e o rival América já manifestou o desejo de construir um estádio particular. As obras da arena para a Copa do Mundo só devem começar em setembro.

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Manaus

Em que pese sua importância econômica, Manaus jamais figuraria em uma lista das doze capitais brasileiras de maior tradição no futebol ou de melhor infraestrutura. A decisão de dedicar uma das sedes do Mundial à Amazônia – com o intuito de conferir um caráter de sustentabilidade ao evento – abriu as portas para que a cidade aumentasse significativamente suas chances de sediar a Copa. Faltava vencer a disputa com Belém, que conta com dois clubes de grande torcida e um estádio que está entre os dez melhores do país. Manaus venceu a queda de braço e agora corre para pôr em dia seus planos para a Copa. O principal projeto de mobilidade urbana, um monotrilho (metrô de superfície) orçado em 1,3 bilhão de reais, nem sequer foi licitado e corre o risco de não sair do papel. Por outro lado, a cidade foi uma das primeiras a começar as obras de seu estádio – a Arena Amazônia, que custará aos cofres do estado 499,5 milhões de reais. Os trabalhos tiveram início em março de 2010 e a conclusão está prevista para junho de 2013. Mas o destino pós-Copa do estádio inspira preocupação. Os principais clubes da cidade há muito não têm expressão no cenário nacional – o último a disputar a série B foi o São Raimundo, em 2006. Na despedida do Vivaldo Lima, estádio demolido para dar lugar à Arena Amazônia, o público foi de apenas 3 774 torcedores.

A justificativa de Manaus para construir um estádio tão caro sem que o futebol local tenha recursos para mantê-lo após a Copa é a mesma de outras sedes: a de que não será apenas um estádio, mas uma arena multiuso – o que não se sustenta, uma vez que as arenas bem-sucedidas ao redor do mundo não prescindem do esporte. O alto valor investido parece fazer ainda menos sentido quando se analisam indicadores como o de saneamento básico: o sistema de esgoto atende a apenas 11% da área urbana de Manaus.

Cuiabá

A exemplo de Manaus, a capital mato-grossense pegou carona no mote da sustentabilidade para garantir presença no Mundial. Sem tradição no futebol, Cuiabá ganhou o direito de sediar a Copa por representar o Pantanal, após vencer a disputa com Campo Grande. Com uma infraestrutura modesta – que se escancara aos turistas já no acanhado Aeroporto Marechal Rondon -, a cidade é certamente uma das que mais poderão se beneficiar dos vultosos investimentos para a Copa do Mundo. Isso, é claro, se os projetos saírem do papel. A principal obra de mobilidade urbana, por exemplo, tem causado grande discussão na cidade. Inicialmente, o estado de Mato Grosso havia projetado dois grandes corredores de ônibus do tipo BRT, a um custo total de 563 milhões de reais. No entanto, o governo estadual acaba de decidir pela troca do modal de transporte: os corredores terão um sistema de VLT (veículo leve sobre trilhos), que poderá custar aos cofres públicos 1,1 bilhão de reais. Se as obras de mobilidade deixarão algum legado para a cidade, o mesmo não se pode dizer do estádio. A Arena Pantanal, a ser construída no lugar do antigo Estádio Verdão, custará 355 milhões de reais e corre grande risco de não trazer retorno financeiro ao estado. Os clubes de maior sucesso recente em Mato Grosso são Luverdense e União de Rondonópolis, baseados no interior. Da capital, apenas o Mixto disputou o Brasileiro da série D em 2010, com média de público de 1 491 pagantes. Ao menos o projeto do estádio traz uma alternativa para amenizar o custo de manutenção: após o Mundial, 15 000 assentos poderão ser retirados.

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