Woody Allen retorna à boa forma em ‘Irrational Man’, mas vê erro em série da Amazon
Diretor volta a trabalhar com trama marcada por assassinato em longa com Emma Stone e Joaquin Phoenix, que encantou a imprensa em Cannes. Em conversa com os jornalistas após a sessão, disse, porém, ter se arrependido de topar uma série: ‘Não sei o que estou fazendo, não vejo TV. Vai ser um fracasso catastrófico’
Depois de Magia ao Luar, um de seus filmes mais pálidos, Woody Allen volta à boa forma com Irrational Man (Homem irracional, na tradução direta), que encantou a plateia de jornalistas no 68º Festival de Cannes, onde passa fora de competição, na manhã desta sexta-feira. Longa que leva Allen à incrível marca de 45 produções na carreira, o filme estrelado por Joaquin Phoenix e Emma Stone, em seu segundo trabalho com o cineasta, põe de novo, no centro da trama de um longa do cineasta, um assassinato, assim como se viu no ótimo Match Point (2005), Crimes e Pecados (1989) e O Sonho de Cassandra (2007).
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De tão bom, Irrational Man é quase um pedido de desculpas depois de Magia ao Luar, em que Emma Stone fazia uma vidente apaixonada por um mágico cético (Colin Firth, visivelmente desconfortável no papel). O romance com o homem mais velho, o mentor, também está presente em Irrational Man, com a atriz interpretando a universitária Jill Pollard, que cai de amores pelo complicado novo professor de filosofia da faculdade, Abe Lucas (Joaquin Phoenix). A vida deve ser modorrenta na cidade do pequeno Estado de Rhode Island onde se passa a ação, porque, antes mesmo de chegar, Lucas se torna assunto de todos: dizem que ele acabou de terminar um casamento por ter sido traído, que teve vários casos com alunas, que perdeu um amigo no Iraque ou no Afeganistão – quem se importa? O professor até resiste aos avanços de Jill e da professora Rita Richards (Parker Posey), mas, com o tempo, cede. Um dia, num diner, ele e Jill ouvem a conversa de uma mulher prestes a perder os filhos para o ex-marido devido à parcialidade do juiz. Abe Lucas então toma a decisão que o fará recuperar o prazer de viver (e superar uma impotência sexual): ele resolve assassinar o juiz. Seu argumento racional é que, assim, ele está fazendo bem ao mundo por eliminar uma pessoa ruim.
Irrational Man lida com assuntos caros ao diretor, como o destino das pessoas e a forma como as decisões as afetam, e é mais sério do que o bobinho Magia ao Luar. Aqui e ali, saltam referências a filósofos como Emmanuel Kant e escritores como Fiódor Dostoievski – a própria tese do assassinato lembra um pouco a de Crime e Castigo.
Na coletiva de imprensa que se seguiu à exibição, o cineasta provocou risos várias vezes. A primeira foi ao ser indagado se alguma vez já havia considerado matar uma pessoa. “Agora mesmo!”, respondeu. Seu jeito pessimista engraçado apareceu quando lhe perguntaram sobre o fato de completar 80 anos. “A vida não tem significado. Vivemos em um universo aleatório. Tudo o que se criou vai desaparecer: o Sol, a Terra, o universo, o que Shakespeare e Michelangelo fizeram. Minha conclusão é que a única maneira de bater isso é a distração”, disse, explicando por que ainda filma. “Ver filmes ou fazer filmes me distrai por uma hora e meia. Não penso na vida, na decadência do meu corpo.” Indagado sobre que filme faria novamente, se tivesse a chance, respondeu: “Todos. Como não posso, nunca mais vejo de novo meus filmes depois de prontos. Porque você sempre vê onde errou”.
Sobre a série que está fazendo para a Amazon, um de seus próximos projetos, disse que foi um “erro catastrófico”. “Estou fazendo o meu melhor. Mas lutando. Achei que ia ser fácil. É muito difícil. Espero não desapontar a Amazon. Não sou bom nisso, não assisto TV. Não sei o que estou fazendo. Minha expectativa é de ser um fracasso catastrófico.” Ele também declarou não ter nenhum plano de filmar no Rio de Janeiro. “Nunca fui ao Brasil, nem saberia por onde começar. Mas, se algo me ocorrer, estarei lá num minuto!”
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‘Il Racconto dei Racconti’, de Matteo Garrone
Depois de estourar com Gomorrah e Reality, o diretor italiano volta-se para os contos de fadas, adaptando histórias de Giambattista Basile (1566-1632), que reuniu algumas das primeiras versões de Rapunzel e Cinderela. No elenco, Salma Hayek, Vincent Cassel e John C. Reilly. É o primeiro filme do cineasta falado inglês.
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‘Irrational Man’, de Woody Allen
Emma Stone faz seu segundo trabalho em sequência com o veterano diretor nova-iorquino, com quem já rodou Magia ao Luar (2014). Ela é a estudante por quem um professor de filosofia em crise existencial (Joaquin Phoenix) se apaixona, encontrando propósito na vida. O longa-metragem foi rodado na pitoresca Newport, no Estado de Rhode Island.
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‘Mia Madre’, de Nanni Moretti
O italiano Nanni Moretti gosta de usar elementos autobiográficos. Em Mia Madre, usa a experiência de perder sua mãe durante as filmagens de Habemus Papam (2011) como a inspiração para a cineasta Margherita (Margherita Buy), que tenta levar adiante seu longa de fundo político enquanto cuida da mãe e lida com um astro complicado (vivido por John Turturro).
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‘Carol’, de Todd Haynes
Baseado em um romance de Patricia Highsmith, mostra a história da jovem Therese (Rooney Mara) que se apaixona por Carol, uma mulher casada e mais velha (Cate Blanchett), na Nova York dos anos 1950. Kyle Chandler (Bloodline) interpreta o marido de Carol. Entre Eu Não Estou Lá (2007) e Carol, Todd Haynes fez a minissérie Mildred Pierce.
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‘Youth’, de Paolo Sorrentino
Em seu segundo filme falado em inglês – o primeiro foi Aqui É o Meu Lugar, com Sean Penn –, o italiano Paolo Sorrentino mostra dois velhos amigos, o compositor e maestro Fred (Michael Caine) e o cineasta Mick (Harvey Keitel), em férias num hotel nos Alpes. Paul Dano, Jane Fonda e Rachel Weisz também estão no elenco.