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Uma visita à estranha mente de Tim Burton

Exposição que chega a São Paulo nesta quinta-feira faz retrospectiva da carreira do cineasta e revela sua veia de escritor, ilustrador e até poeta

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 out 2017, 17h52 - Publicado em 4 fev 2016, 10h00

Para pessoas, por assim dizer, normais, um cego com um cão guia na rua é apenas alguém andando com um animal treinado na coleira. Para o cineasta Tim Burton não. Em uma ilustração feita por ele com lápis em papel, dois minúsculos cachorros saem de dentro dos olhos de um homem sem visão. Na legenda, o texto: “Homem cego com olhos de cães”. Algo apropriado para alguém com uma imaginação capaz de conceber um personagem com mãos de tesoura.

O desenho, que diz muito sobre como funciona a mente fora da caixa do artista, é um de vários outros feitos por ele e expostos na mostra O Mundo de Tim Burton, que abre nesta quinta-feira no Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo. A seção com ilustrações é a primeira da exposição. Antes de chegar nela é necessário passar pela boca de um monstro e ser conduzido por uma iluminação vermelha – nas paredes, cartazes de thrillers de terror e suspense do passado, como Tarântula (1955) e Domingo Negro (1977), que serviram de influência para o diretor. O clima tenso é interrompido pelo barulho da máquina que traz diversas feições do boneco da animação O Estranho Mundo de Jack (1993), produzido e coescrito por Burton. O item é um dos poucos exibidos ali realmente relacionado aos filmes do cineasta.

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A mistura de terror e humor é o tema da primeira seção, que conduz o visitante à escadaria (ou tobogã) que dá acesso ao lado inferior da exposição, onde um boneco inflável de 6,5 metros, com cabeça azul e olhos que piscam é cercado por telas e outros desenhos que misturam caneta hidrográfica, lápis de cor e aquarela. Também estão expostos ali polaroides em formato grande, de 20 x 24 polegadas – parte de um projeto pessoal feito pelo cineastas nos anos 1990, com sua característica identidade visual.

Esculturas de seres bizarros e robôs que se mexem intercalam o momento que separa a seção felicidade e melancolia, onde antigos curtas de Burton são exibidos, assim como poemas escritos por ele. Em uma das historietas, o artista fala sobre de um homem que conhece no bar uma garota com muitos olhos. “Ela era mesmo bem bonita/ (e também bem chocante)”, diz um dos trechos. Os dois travam uma conversa interessante com desfecho cômico, acompanhado da ilustração em que o rapaz aparece de costas e a mulher, de frente, exibe seus treze olhos.

Desenhos em guardanapos, rabiscos em cadernos e estudo de personagens de filmes como Os Fantasmas se Divertem (1988), Batman (1989), Marte Ataca! (1996) e Alice no País das Maravilhas (2010) são reservados para o fim da exposição, que termina com uma sala de vídeo, onde são exibidos os curtas produzidos por ele entre os anos 1970 e 80.

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Do começo ao fim da mostra, elementos narram em retrospectiva a história de Burton, que aos 12 anos já produzia pequenas animações e filmava seus roteiros com uma Super 8. Em 1976, submeteu um livro infantil para análise da Walt Disney Productions, que rejeitou o projeto, apesar de dispensar elogios na carta em resposta ao material.

Mais tarde, a Disney patrocinou uma bolsa de estudos para Burton no Instituto de Artes da California (CalArts) e lhe ofereceu um estágio de quatro anos, no qual ele trabalhou como animador assistente do estúdio. Porém, a imaginação estranha de Burton não conseguiu emplacar muitos projetos enquanto esteve na empresa. Em paralelo, produziu outros curtas, disponíveis na mostra em São Paulo, como Vincent (1982), sobre um menino que quer ser como o ator Vincent Price, e uma versão macabra de João e Maria (1983), que mistura atores de verdade e stop motion.

A carreira de Burton só tomou corpo em 1985, com seu primeiro longa-metragem, As Grandes Aventuras de Pee-wee, em parceria com a Warner Bros. Quatro anos depois ele já estava encarregado da adaptação de Batman, para em seguida, em 1990, lançar o belíssimo Edward Mãos de Tesoura.

É esta a viagem sombria e surreal que a mostra, iniciada no MoMA em Nova Iorque, em 2009, propõe. O universo fantástico com elementos românticos, cômicos e assustadores de Tim Burton é dissecado em uma montagem com cerca de 500 peças. Pena que poucos itens são realmente de filmes do cineasta. Seu passado e bastidores tomam a maior parte da mostra que já passou por diversos países, como República Tcheca, Tóquio e Alemanha – o Brasil é a primeira nação da América Latina a receber o material.

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A exposição deve fechar a conta como a segunda mais visitada do museu, com expectativa de 140.000 visitantes até o dia 15 de maio – atrás apenas da exibição de elementos do Castelo Rá-Tim-Bum, com 410.000 de público em sete meses. A meta é fácil de ser batida. Mais de 50.000 ingressos já foram vendidos (pela internet eles estão esgotados). Quem quiser visitar a mostra terá que se aventurar na bilheteria física aos domingos, com ingressos a 12 reais (inteira) e 6 (meia-entrada) ou às terças-feiras, quando o museu abre de graça. Outra dica é se tornar uma espécie de sócio do museu, com o +MIS – programa com anuidade a partir de 100 reais que dá, entre outras coisas, um número determinado de ingressos para exposições através de agendamento. Segundo a assessoria do MIS, novos lotes para O Mundo de Tim Burton serão abertos em breve.

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